PROENÇA, Kátia Aparecida Poluca[1]
OLIVEIRA, Neiva Afonso [2]
RESUMO
O artigo tem como objetivo refletir sobre as ideias vinculadas à temática dos diferentes paradigmas filosóficos na educação e possíveis perspectivas para pensar a formação humana[3]. Estudos sobre paradigmas recorrem, preferencialmente ao modo como Thomas Kuhn estrutura a ideia que se tem sobre como nasce um paradigma. A principal obra a ser analisada neste artigo é “A Estrutura das Revoluções Científicas” com a intenção de mostrar que trabalhar com diversos tipos de paradigmas, no âmbito educacional, não caracteriza uma desvalorização do trabalho do cientista ou do pedagogo, mas mostra o quão importante é decifrar os paradigmas que permeiam a educação. Nesse contexto, o artigo pretende definir a exposição de como enxergamos um paradigma a fim de indagar e também demonstrar que essa é a estratégia de Kuhn, ou seja. a identificação e a elucidação do modo como a ciência vem evoluindo.
PALAVRAS–CHAVE: Thomas Kuhn, Paradigmas na Educação, Ciências Humanas e Sociais.
RESUMO
The text aims to think about ideas linked to the theme of different philosophical paradigms in education and possible perspectives to think human formation. Studies about paradigms appeal to, prefferentbly to the way how Thomas Kuhn structures the idea we have about the way paradigms are born. The main book to be analyzed is “A estrutura das revoluções científicas”, with the purpose of showing that working with several kinds of paradigms, in educational scenery, doesn’t constitute a devaluation of scientist’s or teachers’ work. On the opposite, it demonstrates how important is to decifrate the paradigms that permeate education. In this context, the text also intends to define the way we see a paradigm with the purpose of questioning and also demonstrating that this is Kuhn’s strategy, too: the identification and the elucidation of the ways science is evoluting.
KEY-WORDS: Thomas Kuhn, Paradigms in Education, Social and Human Sciences.
INTRODUÇÃO
O presente artigo traz à discussão o surgimento de um paradigma segundo Thomas Kuhn, que, em razão de um apreço pela rigorosidade, conceitua o percurso e trajetória das teorias e localiza o lugar onde se encontram dentro do tema-objeto das Ciências Sociais e Humanas. Construir uma terminologia concordante e possuir como premissa que a ciência não é um empreendimento acumulativo são pressupostos assumidos pelos autores que apreciam a teoria Kuhniana.
Quando pretendemos apresentar um novo prisma de ideias para tematizar junto aos já existentes, precisamos recorrer às bases teóricas que nos servirão como um método analítico para nossa exposição (Gamboa, 2006). Portanto, utilizamos a contribuição de Thomas Kuhn (2011), que inaugura, na literatura científica, o conceito de “Paradigma” para explicar o processo histórico das ciências. Do inglês, paradigm, do francês, paradigme, do alemão, Paradigma, o termo, do grego, Parádeigma, foi, por sua vez, trabalhado como o “aparecer” das revoluções do pensamento científico que desemboca em transformação do mesmo e de sua prática correspondente.
Conforme Kuhn, um paradigma pode ser considerado uma aquisição ou uma “conquista” conceitual. E, segundo ele, a conquista que marca o nascimento de um paradigma apresenta duas características centrais: (1) exerce atração sobre um conjunto duradouro dos adeptos de modelos de atividade científica concorrente; e (2) o próprio modelo é razoável e suficientemente aberto para permitir que o grupo redesenhado de praticantes solucione todos os tipos de problemas. (Posfácio).
Ao desdobrar o conceito, afirmamos que um paradigma é uma teoria que teve sucesso em uma disputa por um certo tempo contra outras teorias competidoras, porém, sem esgotar todas as suas ideias. Quando um paradigma se estabelece, tanto o campo que ele abrange, quantos os participantes estão firmemente definidos, e suas contestações, dentro da pesquisa, encontram-se claramente estabelecidas.
Dessa forma, segundo Kuhn, a “ciência normal” estaria em constante progressão. Já que de um lado, um paradigma surge em um momento de crise no qual se torna difícil acomodar todos os fenômenos encontrados dentro da pesquisa por ele defendida ou, no caso de os fenômenos tornarem-se tão valiosos ou suficientemente numerosos que não podem ser mais ignorados pelo pesquisador. Advertindo sobre o desfecho ou ponto de chegada de crise de um paradigma, Kuhn adverte: “O significado das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos” (2011, p.105).
Contudo, não podemos deixar passar desapercebida a afirmação de Plastino (2005) quando adverte que não é o bastante falar de uma crise dos paradigmas: “… gostaria de afirmar que não é suficiente falar em crise dos paradigmas, mas em crise do conceito mesmo de paradigma. E, ainda, de crise do conceito de crise dos paradigmas” (p.33). Essa frase emblemática traz a reflexão sobre como vivemos hoje. Ou seja, quem sabe vivemos uma situação não orientada ou momento de incertezas com relação às quais paradigmas seriam hegemônicos nesse período de pós–modernidade?
Relacionando as posições de Thomas Kuhn e a do professor da PUC-RJ, podemos afirmar que este último avança no sentido de realizar crítica aos moldes como o iluminismo racional e sua cria sociopolítica, o pensamento liberal, têm lidado, por exemplo, com o cientificismo moderno nas Ciências Sociais. Estaríamos diante, por um lado, de uma posição (a de Thomas Kuhn) que delimita, esclarece, o que de fato ocorre em termos de um desenvolvimento da ciência como empreendimento humano orientado por princípios norteadores que, há seu tempo, modificam e são modificados pelos rumos de racionalidades preeminentes; e, por outro viés, o aprestamento teórico de Plastino que, sem negar as racionalidades que dão consistência à tematização sobre a trajetória do conceito de paradigma, reorienta a discussão para a questão do sujeito coletivo e histórico. Em outras palavras, como o próprio autor define “… a racionalidade a ser construída passa necessariamente pelo crivo de nossas opções éticas” (p.49). No âmbito da educação e da formação humana, é primordial investigar como as ideias filosóficas desenvolvem-se com o tempo e influenciam os processos educativos.
Natureza e necessidade das Revoluções Científicas: como nasce um paradigma
Conforme já mencionamos, Thomas Kuhn mostra, através de elementos das ciências exatas, como surgem os paradigmas, inclusive os vinculados às ciências sociais e humanas, apesar de estas possuírem bases de pensamento diferentes daquelas. Através de descobertas dentro da Matemática, mostra que há mudanças de paradigmas, ou rupturas de conceitos e demonstra que uma descoberta possui relação com outra e apenas sistematiza essa relação dentro das ciências sociais e humanas.
Neste ensaio, “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para sua prática posterior. […] A física de Aristóteles, o Almagesto de Ptolomeu, os Principia, a Química de Lavoisier e a Geologia de Lyell – esses e muitos outros trabalhos serviram, por algum tempo, para definir implicitamente os problemas e métodos legítimos de um campo de pesquisa para as gerações posteriores de praticantes das ciências (2011, p – 29 a 30).
Durante certo período, essas descobertas satisfizeram ou foram suficientes para suprir a necessidade de uma comunidade científica, porém quando os procedimentos ou resultados não solucionam mais os problemas, ocorre uma ruptura que segue a mesma linha de conduta com outra visão. O autor mostra como exemplos a “astronomia ptolomaica” (ou “copernicana”), a “dinâmica aristotélica” (ou “newtoniana”) e outras. A revolução científica acontece, segundo Kuhn, com a queda de uma ideia que solucionava os problemas e agora não mais satisfaz. Mesmo que ela não seja descartada por completo, torna-se insuficiente para solucionar os atuais questionamentos, abrindo, assim, novos caminhos com ideias similares.
[…] uma peça de equipamento, protegida e construída para fins de pesquisa normal, não funciona segundo a maneira antecipada, revelando uma anomalia que não pode ser ajustada às expectativas profissionais, não obstante esforços repetidos. Desta e de outras maneiras, a ciência normal desorienta-se seguidamente. E quando isto ocorre – isto é, quando os membros da profissão não podem mais esquivar-se das anomalias que subvertem a tradição existente da prática científica – então começam as investigações extraordinárias que finalmente conduzem a profissão a um novo conjunto de compromissos, a uma nova base para a prática da ciência. Os episódios extraordinários nos quais ocorre essa alteração de compromissos profissionais são denominados, neste ensaio, de revoluções científicas. Elas são complementos desintegradores da tradição à atividade da ciência normal, ligada à tradição. (2011, p – 24 e 25).
Kuhn considera como revoluções científicas as mudanças dentro da física óptica, Suas posteriores descobertas em forma de paradigmas tornam a ciência mais amadurecida e demonstram que há várias formas de se olhar para um mesmo objeto, por prismas diferentes e sem, entretanto, desqualificá-lo. No interior das comunidades científicas, quando há uma ruptura de conceitos, muitas vezes, os pesquisadores são de áreas distintas.
No interior das comunidades científicas, há uma concepção de formação na qual os integrantes participam de uma especialidade científica e são submetidos a uma iniciação profissional, com bases teóricas para seus trabalhos posteriores. Dessa forma, quando olham para um determinado objeto de pesquisa, extraem dele ideias similares àquelas da comunidade científica na qual participam. Entretanto, quando suas ideias diferem, normalmente ocorrem discussão e embates teóricos, já que cada comunidade vê os elementos que surgem em sua pesquisa como sendo os únicos responsáveis por suas criações.
O resultado disso é que os membros de uma comunidade científica veem a si próprios e são vistos pelos outros como os únicos responsáveis pela perseguição de um conjunto de objetivos comuns, que incluem o treino de sucessores (2011, p.223).
Atualmente, os objetos de estudos de uma pesquisa tornaram-se mais amplos e de responsabilidade de todos os membros e, sendo assim, antes de debruçarmo-nos sobre as descobertas, é necessário limitar esta estrutura mutável das comunidades científicas dentro de cada sociedade. Com isso, o autor define que “[…] Um paradigma governa, em primeiro lugar, não um objeto de estudo, mas um grupo de participantes da ciência. Qualquer estudo de pesquisa orientada por paradigma, ou que leva à destruição de paradigma, deve começar pela localização do grupo ou grupos responsáveis” (2011, p. 226).
Apenas, depois dessa transição, é possível reiniciar a pesquisa orientada para a solução de um quebra-cabeças. Encontramos, então, muita ciência desenvolvida com um tipo de paradigmas que norteia suas ideias; entretanto, Kuhn propõe-se a defender o ponto de vista de que “Somente aqueles que retiram encorajamento da constatação de que seu campo de estudo (ou escola) possui paradigma, estão aptos a perceber que algo importante é sacrificado nessa mudança” (2011, p.225).
Assim, Kuhn mostra que a revolução auxilia na reconstrução de compromisso dentro da comunidade científica, sem que necessariamente aconteçam grandes e revolucionárias mudanças. Elas devem ser amplamente discutidas dentro da literatura filosófica. A condição é a de que sejam aceitas dentro de uma aposta de mudanças cumulativas.
A importância de um estudo sobre paradigma
A natureza da investigação filosófica tem, sem dúvida alguma, maior afinidade com a pesquisa bibliográfica, onde se encontram elementos fundamentais para fomentar discussões. No caso do presente tema, cujo objetivo não é exclusivamente a exposição das diferentes concepções filosóficas que influenciaram e compõem o cenário da educação, será privilegiada a abordagem analítico-sintética. Uma tal abordagem metodológica permite percorrer a tradição filosófica e perseguir a noção de paradigma, entendida, tanto dentro dos parâmetros da filosofia platônica, quanto na contemporaneidade, a posição de Thomas Kuhn. Trata-se, pois, de apresentar as várias posições filosóficas e mostrar como a filosofia desenvolveu-se de um modo organizado e ordenado, além de captar elementos essenciais e princípios básicos de cada filosofia e de tecer articulações entre os paradigmas filosóficos e a práxis educacional.
A reconstrução dessa totalidade teórica permite, num segundo momento lógico, a compreensão mais clara e detalhada de cada um dos conceitos utilizados pelos diferentes paradigmas que compõem o universo acadêmico. Trata-se, agora, de uma tarefa analítica. O desdobramento do conjunto da rede categorial filosófica, a análise de seus conceitos-chave torna possível compreender mais precisamente o vigor de cada um na construção do pensamento educacional como um todo. E, pra além disso, possibilita que se descubra a potencialidade de tais conceitos ajudarem no esclarecimento de outras situações que não aquelas imediatamente tomadas como alvo de nossas preocupações. Assim, os conceitos filosóficos contidos nos diferentes paradigmas poderão ser tomados, num momento subsequente, como categorias explicativas mais gerais para a compreensão das políticas e práticas educacionais.
O passo decisivo é a construção de uma nova síntese. Trata-se, neste momento, da rearticulação da rede reflexionante utilizada pela filosofia, desta vez, porém, guiados pela intencionalidade específica que mobiliza a investigação, qual seja, a proposição de uma filosofia da práxis inovadora. Em resumo, a conduta do pensamento segundo uma abordagem analítico-sintética não apenas tematiza sobre o modo como a filosofia desenvolveu-se no passado, não mostra somente como foi organizada e como tem sido utilizada para ajudar a planejar políticas e práticas educacionais, reproduzindo-se descritivamente, mas pode extrair de suas formulações uma produtividade vigorosa para a compreensão dos problemas contemporâneos da educação e da formação humanas.
Paradigmas: pensando uma nova educação
Segundo Kuhn, o paradigma é um modelo que caracteriza um período no qual está inserido, ou seja, satisfaz os questionamentos da época na qual foi consolidado e, sendo assim, torna-se uma solução, traz regras explícitas como fundamento para a solução do restante dos quebra-cabeças da ciência normal. A partir desta definição de paradigma, encontramos a abertura do mundo como algo inconcluso. De modo que sempre poderá haver uma mudança conceitual quando houver uma insatisfação no modelo de visão de mundo vigente.
Uma crise de paradigmas caracteriza-se assim como uma mudança de conceitual, ou uma mudança de visão de mundo, consequência de uma insatisfação com os modelos anteriormente predominantes de explicação. A crise de paradigmas leva geralmente a uma mudança de paradigmas, sendo que as mudanças mais radicais consistem em revoluções científicas. Há, segundo Kuhn, causas internas e externas dessas mudanças. As causas internas são o resultado de desenvolvimentos teóricos e metodológicos dentro de uma mesma teoria e também do esgotamento dos modelos tradicionais de explicação oferecidos pela própria teoria, o que leva à busca de alternativas. Causas externas são mudanças na sociedade e na cultura de uma época, que fazem com que as teorias tradicionais deixem de ser satisfatórias, perdendo assim o seu poder explicativo (2001, p. 16).
Com essa nova visão, o mundo deixa de ser algo fechado, pré-definido e passamos a aceitar que a pluralidade da ação humana é o fator que modifica as verdades até então existentes como únicas e imutáveis. Instaura-se, aqui, a era do início da modernidade, cuja feição traduz-se numa complexidade de ideias, de grandes narrativas, e a verdade torna-se momentânea, acabando com a base concreta teológica do período histórico anterior, que pauta a ação do homem diante no mundo e tem Deus como baliza maior para o conhecimento.
A partir dessa ótica, o próprio objeto de estudo é a construção do sujeito, ou seja, a projeção de suas categorias sobre o real. Já no período que denominamos pós-modernidade, as grandes narrativas cedem lugar à possibilidade de análise das particularidades, dos acontecimentos territorializados e situados. A crise das ideologias ocasiona, por sua vez, uma alteração dos conceitos outrora cristalizados. Em consequência disso, o pesquisador encontrará diversos autores cujas ideias coincidem com seus anseios e, paradoxalmente, encontrar-se-á sozinho em sua busca pelo conhecimento científico no interior da comunidade científica, uma vez que não existe uma base imutável e a crença outrora inabalável na razão sofre oscilações bastante fortes.
Sendo um paradigma o equivalente a uma ideia ou a um código interpretativo de uma realidade e não se tratando apenas de uma visão que alguém tem sobre algo, mais sim do vértice a partir do qual o objeto pode ser visto, temos que o conhecimento é a produção com relação a sua acumulação e aplicação, ou seja, os questionamentos de novos problemas do paradigma considerado. Não seria, portanto, errôneo aproximarmos a teoria de Kuhn da pós-modernidade, uma vez que um paradigma é entendido como uma verdade em permanente mudança, é situado numa realidade plural, distinta daquela dos sonhos imperiais da razão moderna[4] que reduz a mudança a uma dinâmica apreensível em trajetórias determinadas e reversíveis, sendo, portanto até previsível determinar uma situação após outra, já que, do ponto de vista por exemplo, da matemática, a diferença entre passado, presente e futuro não passa de uma mera ilusão embora resistente à ruptura.
Thomas Kuhn ressalta que um paradigma tem como base apoiadora uma comunidade científica, que analisa um determinado viés de um problema científico, propõe novas ideias, quando o antigo conceito tornou-se falho diante dos novos questionamentos da comunidade científica. E alguns autores, na esteira de Kuhn, defendem que é fundamental a explicitação do paradigma. Ou seja, para que se possa conversar sobre as diferenças de ideias, de forma que não se tornem antagônicas como ocorre na maioria das vezes, dificultando o diálogo entre os especialistas, torna-se necessária a explicação do paradigma livre de ambiguidades. Com isso, compreendemos que um paradigma nada mais é do que um modo diferente de olhar um mesmo objeto, em uma situação de concordância dos pares de uma determinada comunidade científica em relação ao objeto.
A inclusão do tempo como parte da história do sujeito o caracteriza como autor/ construtor, o que precipita a crise conceitual de paradigma, ou seja, o tempo torna o próprio processo algo indeterminado. Isso permite pensar sobre o saber como uma atividade autônoma, desvinculada de uma problemática global da sociedade no qual é produzida, porém tem que ser entendido como uma práxis social constitutiva naquilo que ocorre na prática entrelaçada em uma sociedade que vivencia o contexto global.
“Se a ciência é a reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, então os cientistas são homens que, com ou sem sucesso, empenharam-se em contribuir com os outros elementos para essa constelação específica. O desenvolvimento torna-se o processo gradativo através do qual esses itens foram adicionados, isoladamente ou em combinação, ao estoque sempre crescente que constitui o conhecimento e a técnica científicos (2011, p. 20).
É verdade que Kuhn traz em seu livro dois sentidos distintos para o termo “paradigma”. Por um lado, indica todo o conjunto de crenças, valores, compartilhados por membros de uma comunidade específica e demonstra que, dentro de cada comunidade, existe uma forma de acomodar os fenômenos que envolvem uma determinada pesquisa.
“O termo “paradigma” aparece nas primeiras páginas do livro e a sua forma de aparecimento é intrinsecamente circular. Um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma” (2011, p. 221).
Por outro lado, menciona o fator que compõe o conjunto de forma a solucionar os problemas da ciência, ou seja, um elemento que pode modificar as regras explícitas como base para resolver o quebra-cabeças da ciência normal. Assim, um paradigma nada mais é que uma forma de inserir a realidade atual dentro de um conceito clássico que se torna falho diante da nova realidade.
A partir das explicitações de Kuhn sobre a aplicação do termo paradigma, é inevitável que concedamos um outro elemento a ser pensado, a crise da definição do termo paradigmas:
“(…) parece-me necessário discutir não apenas a questão da crise de determinado paradigma, mas a crise do conceito mesmo de paradigma, o que significa questionar a especialização das disciplinas científicas e sua produção, isto é, as problemáticas social, econômica, política e cultural das sociedades nas quais esta produção se realiza. A questão central que atravessa a crise do paradigma da Ciência moderna é a das relações entre o ser e o advir ou, pode-se dizer, entre a permanência e a mudança” (Plastino, 2011, p. 35).
O que enfrentamos, portanto, é uma crise do conceito paradigma e nesse sentido, é preciso criticar a pertinência do próprio conceito de paradigma. É necessário, por exemplo, rever-se a política e o financiamento das diversas áreas, de maneira a superar o privilégio de que gozam as denominadas Ciências Exatas e Naturais e ainda, a Economia, as três áreas que encontram-se frequentemente cegas às consequências sociais, éticas e políticas de seu próprio trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência que vivenciamos, em termos de análise dos processos educativos, é de total desamparo, pois verdades outrora por nós aceitas estão sendo superadas e as certezas de ontem não se confirmam na realidade de hoje. Há uma fragmentação das ideias cujos desdobramentos, às vezes resumimos pelo nome de pós-modernismo. Em outras palavras, encontramo-nos em outro momento, diferente daquele em que confiávamos em verdades garantidas pelo crivo de uma racionalidade cartesiana. Mesmo sem saber o que exatamente isto significa em termos dos processos educativos, vivemos tempos de valorização da interculturalidade, dos espaços micro e de questionamentos a respeito da descristalização da verdade do cogito. Nesse momento, tornamo-nos órfãos, pois perdemos os referenciais seguros da filosofia cartesiana, trilho por onde pautamos nossas ações.
Atualmente, o mundo no qual vivemos, mais do que em qualquer outra época, nos desafia, enquanto seres humanos, a modificar nosso modo de pensar. Em outras palavras, somos provocados por diversas ideias a fim de que possamos saciar nossas dúvidas, de modo que não há uma única verdade para contemplar, mas sim, muitas formas de aceitar os diversos enfoques, conceitos e pensamentos, que permitem criar novas possibilidades no interior da época pós-moderna. Sem astros que nos guiem, sem uma ciência da navegação precisa e exata, avançamos, agora, num mar de surpresas e incertezas. Assim, vivenciamos uma situação paradoxal:
“Perda porque muita esperança se depositou no que se perdeu. Liberação porque, livres das amarras de um projeto predeterminado por pressupostos rígidos, respaldado em uma legitimidade científica, estamos abertos a novas aventuras.” (2001, p.60)
Com esse olhar sobre a conjuntura social e epistêmica, Morin afirma que “ o objetivo do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo numa palavra mestra. É dialogar com o mistério do mundo” (In: Brandão, 2001, p.61). Há necessidade de escolher algum caminho. E, ao fazermos nossas escolhas, corremos sempre um risco. “Nada nos assegura o resultado do caminho escolhido que, só parcialmente, e muito parcialmente, depende de nós.”(2001, p. 62). “O plural nem sempre é fácil de ser vivido, principalmente no caldo autoritário em que estamos imersos” (2001, p. 62).
Esta forma de compreender o movimento da ciência auxilia-nos a ressaltar o quão significativo é discutir os paradigmas educacionais em uma sociedade que não valoriza, prioritariamente, a educação como uma forma de melhorar sua capacidade de crescimento. Designando para a educação a tarefa de qualificar pessoas para o mercado de trabalho, esquece-se, portanto, de sua capacidade de refletir e agir sobre suas atitudes. Discutir uma matriz que conduz a educação de um modo a respeitar cada indivíduo e o estimule a progredir de forma consciente e crescente deve ser meta prioritária para aqueles que se dedicam a refletir sobre os processos educativos
A ação formativa não pode ser pensada, senão a partir de um interagir com o universo de conhecimento que a cerca e do qual ela faz parte, tal como a experiência que estamos buscando em termos de decifrar os paradigmas que norteiam nosso agir educacional. É preciso perder a ilusão de que conseguiremos a liberdade afastando-nos das supostas e reais barreiras que impedem o desenvolvimento humano. O que é de nós exigido parece ser mais do que uma “reforma do entendimento humano”. Trata-se de uma reforma do ser humano enquanto ser social-histórico-político, uma ética da responsabilidade, uma ação intercultural e uma união entre razão e sensibilidade. Seres humanos sábios é a última coisa que a cultura atual produz. A teoria/filosofia epistemológica de Thomas S. Kuhn além de sugerir-nos algumas pistas sobre o modo de compreensão do desenvolvimento das ciências, aponta-nos caminhos para a descoberta de horizontes novos para a educação através da compreensão sobre os paradigmas,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BRANDÃO, Zaia (org). A crise dos paradigmas e a educação. 7.ed., São Paulo: Cortez, 2001. (Coleção Questões de Nossa Época; v.35)
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CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
GAMBOA, Silvio Sánchez. Pesquisa em Educação: métodos e epistemologias. Chapecó, Argos, 2006
GHIRALDELLI, Júnior, Paulo. Filosofia da Educação. São Paulo: Ática, 2006.
HUNNEX, Milton. Filósofos e correntes filosóficas em gráficos e diagramas: conheça melhor os filósofos e as correntes filosóficas por meio de gráficos e diagramas temáticos. São Paulo: Editora Vida, 2003.
KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. Thomas S. Kuhn; tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. – 10. Ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
MORAIS, Regis (Org). Filosofia, Educação e Sociedade. Campinas: Papirus, 1989.
PLASTINO, Carlos Alberto. A crise dos paradigmas e a crise do conceito de paradigma. In: Brandão, Zaia (org). A crise dos paradigmas e a educação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2001.p. 30-47
TEIXERA, Anísio. Pequena Introdução à Filosofia da Educação: a escola progressiva ou a transformação da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
[1] Acadêmica do 5º Semestre do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas, Bolsista PIBIC/UFPel/CNPq, integrante do Grupo de Pesquisa em Filosofia, Educação e Práxis Social (FEPráxiS) e do Núcleo de Estudos Paulo Freire. E-mail: katita.poluca@yahoo.com.br. Orientadora: Profª. Dra. Neiva Afonso Oliveira, e-mail: neivaoliveira@gmail.com
[2] Professora Associada da Faculdade de Educação da UFPel, e-mail: neivaoliveira@gmail.com.
[3] Tema de projeto financiado pelo Cnpq que encontra-se em andamento com o intuito de valorizar a filosofia no âmbito educacional.
[4] Expressão utilizada pelo professor Mário Osório Marques (UNIJUÍ), em Os Paradigmas da Educação.R.Bras.Est. Ped.. Brasília, v.73. n.175, p.547-567, set/dez.1992.
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