Um tributo à frustração
Mara Rovida*
Dia desses, alguém me perguntou o que o fracasso representava para mim?
[Pelo jeitão da pergunta, dá para imaginar que foi um discípulo de Freud ou Jung quem a formulou. Não é mera coincidência. Todo psicólogo(a) tem aquele olhar continente e a mesma maneira de, balançando a cabeça levemente, questionar “o que isso ou aquilo representa para você”.]
O fato é que fracasso pode ser traduzido por objetivo, meta, sonho, propósito ou o que valha frustrados. Talvez, a palavra de ordem seja essa mesmo, frustração. E todo mundo tem medo de se frustrar, de dar com “os burros n’água”, como diria o caipira. Mas, é impossível evitar um tropeço aqui ou acolá que fazem a tal da moça chata aparecer toda sorridente com a desgraça alheia.
Esse ano foi mesmo 13 e cheio de frustrações. Por ai, há quem jure ter sido o pior ano da vida. Já ouvi dizer que a Terra – isso mesmo, o Planeta onde você mora – sofreu uma chuva cósmica ao longo do ano, o que justificaria tantas ocorrências estranhas, diferentes, tristes, enfim.
Não sei se o cosmos pode interferir em coisas tão pequenas, mas na coleção de frustrações tem lugar para tudo:
Congestionamento para o apressado;
Pão vencido e embolorado no saquinho para a fome noturna;
Planeta muito grande para um abraço;
Amor vencido pelo orgulho;
Chuva de verão no meio da manhã de outono;
A que vence a vida;
Dor nas costas para quem precisa estudar;
Nota vermelha no último bimestre;
Professor que ‘pega’ plágio;
Querer dizer sim e acabar falando não;
Dizer “desgosto”, gostando;
Na presença, sentir ausência;
No fim, querer o começo;
Querer se frustrar e acabar não conseguindo. Afinal, vai que dá?
#####
Com o sem chuva cósmica, todo ano tem frustração, mas tem também:
Sonhos renovados;
Novas paixões em velhos amores;
Músicas antigas em novas gravações;
Frustrações frustradas pelo êxito sempre possível.
* Mara Rovida é jornalista, doutoranda no PPGCOM da ECA-USP e membro do Grupo de Pesquisa do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo.