Gilda E. Kluppel
Eles ocupavam a nossa caixa do correio no final do ano, ao abrir encontrávamos a esperada frase “feliz Natal e um próspero Ano-Novo”. Alguns até arriscavam escrever algo mais original, mas em qualquer forma eram sempre bem recebidos.
Do papel espesso aos recados eletrônicos foram escasseando e se tornando um objeto obsoleto e ultrapassado. Na era do e-mail, vencido pela facilidade de clicar, enviar ou repassar mensagens em massa, inexiste sequer a preocupação com o capricho na letra. E quando recebidos são lidos rapidamente para seguir para a próxima mensagem, em meio aos indesejáveis spans.
Receber mensagens de Natal pelo correio eletrônico também é agradável, mas não tem o encanto do cartão impresso. Talvez possua o mesmo significado da leitura de um livro impresso ao poder tocar, sentir a textura e o prazer em folhear as páginas; prazer não propiciado pela leitura num tablet.
Além do mais, as mensagens de e-mail são deletadas e no caso do cartão sequer temos coragem de rasurar, guardamos pela simpática manifestação de cordialidade. Alguns cartões contavam com a delicadeza da confecção pelo próprio remetente, propiciando criações únicas e seguramente mais valorizadas.
Ultimamente chegam grudados aos presentes, um mero apêndice para lembrar de quem nos presenteou, com a saliente indicação “DE” e “PARA” e alguma alusão à data natalina. Virou acessório, não tem mais o privilégio de caminhar sozinho para nossa caixa de correspondência, agora moldada apenas pela frieza das faturas de contas, anúncios comerciais e propaganda política.
As pessoas alegam a falta de tempo para escrever, enfrentar o trânsito e depositar numa agência do Correio. Mas, o tempo que falta, muitas vezes, é tomado pela visualização de avisos e anúncios publicitários que se insinuam fortemente neste período do ano, interessados em arrebatar um outro tipo de cartão.
Os cartões, remanescentes da era vitoriana, adicionavam mais afetividade às celebrações, a sua quase extinção acompanha a mudança de foco no quadro de referências natalinas. As novas sugestões de comportamentos, para a época, faz acreditar que a manutenção da tradição torna-se uma alternativa de menor apelo comercial, portanto não muito conveniente.
A diminuição dos cartões de Natal demonstra, de forma nítida, o que vem acontecendo com outras tradições, propositalmente deixadas de lado; no caso também do presépio de Natal que, a cada ano, aparece menos.
Ao invés de trocar inúmeros presentes, dar e receber tantas inutilidades, que tal reforçar a troca de mensagem em cartões? Cartões são ótimos presentes. Palavras causam boas sensações e a sua visualização, escrita de próprio punho, denotam maior proximidade e consideração. Precisamos de palavras sinceras e desinteressadas, pois elas sempre tiveram mais força que um presente qualquer.