Homossexualismo – Opção, Estratégia Ou Evolução?
Ana Luiza D M Furlanetto, Príscila de Cássia Sanchez Crete, Fernanda F F Groth e Jéssica Janzen dos Santos
RESUMO
Por que animais se dedicariam a comportamentos sexuais que não resultariam em sua reprodução, não produzindo descendentes que poderiam perpetuar a sua herança genética? Entender parte dos mistérios associados com as alterações genéticas e fisiológicas com esse tipo comportamento é o objetivo desse ensaio.
Palavra-chave: genética, etologia, homossexualismo, seleção natural
ABSTRACT
Why animals concentrate on sexual behaviors that do not result in reproduction also no producing descendants that could perpetuate their genetic heritage? Understanding of the mysteries associated with the genetic and physiological changes with such behavior is the aim of this essay.
Keyword: genetics, ethology, homosexuality, natural selection
A abordagem interacionista, considera que a orientação sexual é resultado da interação de fenômenos em níveis genético, epigenético (fatores biológicos não-genéticos) e mêmico que são comportamentos que sofrem intensas ações culturais (FORASTIERI, 2006).
Estudos filogenéticos mostram que o comportamento homossexual não é recente. Segundo Moreira Filho (2008) a homossexualidade é tratada na história desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, não é algo ‘moderno’, e mesmo antes de Cristo já se verificavam a existência de relações homossexuais. Como, na nossa espécie, o comportamento homossexual estar associada à manutenção da coesão social e no fortalecimento das relações entre indivíduos de um mesmo clã. Um possível exemplo desse comportamento seriam as interações entre os guerreiros de Esparta, na Grécia antiga (BORGES, 2010). Que o comportamento sexual deixa de ter como objetivo mera reprodução e passa a ganhar funções sociais diversas para os grupos humanos” (FORASTIERI, 2006). No entanto alguns pesquisadores duvidam da teoria da relação social, demonstrando o exemplo de pinguins gays que negam copular com fêmeas, se unindo com outro macho para a vida toda. Uma quantidade significativa de trabalhos científicos vem confirmando que a homossexualidade permanente ocorre tanto em espécies monogâmicas e não monogâmicas (BBC NEWS).
Uma das preocupações em estudar por meio de comparações o homem e os animais é a garantia em separar os comportamentos homólogos e análagos como é o caso, por exemplo de certos vermes marinhos (Moniliformis dubius) cometem o chamado ‘estupro homossexual’. Os primatas apresentam comportamento sexual aparentemente homólogo ao comportamento homossexual humano como penetração anal, monta, masturbação mútua ou não, felação e contato genital. Esse comportamento é apresentado mais notavelmente entre jovens geralmente em jogos de submissão e dominância. (FORASTIERI, 2006). Logo mostrar a base biológica e identificar os fatores que os selecionaram é uma das grandes questões. (FORASTIERI, 2006).
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Deve-se salientar no entanto que o comportamento sexual dos macacos, não incluem elementos cognitivos para a caracterização da orientação sexual, pois o comportamento homossexual exclusivo é um fenômeno ainda não observado em primatas não-humanos. (FORASTIERI, 2006). Porém tanto a homossexualidade como a bissexualidade são comuns no reino animal, no entanto a motivação para esse comportamento ainda não é compreendido na sua totalidade. Segundo o pesquisador Bagemihl (1999), em seus estudos de comportamento sexual de quase 1500 espécies, essa atitude nem sempre é ligada ao sexo. Em uma exposição “Homossexualidade animal”, no Museu de História Natural de Oslo, dizem que muitas vezes sexo é uma questão de prazer, ao invés de procriação, e que isso se aplica a animais do mesmo sexo, assim como os sexos opostos.
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Os Bonobos têm uma sociedade matriarcal, incomum entre os símios, é uma espécie completamente bissexual. Tanto os machos como as fêmeas realizam atos tanto heterossexuais como homossexuais. Aproximadamente 60% da atividade sexual da espécie são entre duas ou mais fêmeas. Esses primatas fazem sexo para resolver conflitos, pedido de desculpas, ou para obtenção de prazer. Passam boa parte do dia se estimulando, e sexo oral é extremamente comum. As fêmeas possuem clitóris bem maior do que a das humanas,atingem o orgasmo com extrema facilidade. Os golfinhos-nariz-de-garrafa também é uma espécie bissexual, utilizam o seu “nariz de garrafa” para estimulação das genitálias dos colegas, com isso pode-se fortalecer as amizades. Os bisões americanos montam em seus pares para reforçar a hierarquia, tanto macho com macho, em que pode até haver penetração, mostrando a dominância bem como a montaria entre fêmeas, sendo esse mais raro. Outro fator que estimula o comportamento homossexual na espécie é a falta de opção. Se o acesso às fêmeas é difícil (e elas só estão disponíveis para o acasalamento uma vez por ano), sobra para outro macho desprevenido que estiver por perto (MIOTO R., 2010)
Como mencionado nos exemplos anteriores, os estudos atuais, vem apontando a função do comportamento homossexual como pacificadora do grupo, seja evitando agressão, criando escalas de submissão ou formando alianças. Ou seja, tudo indica que a homossexualidade está estreitamente ligada à evolução de comportamentos sociais mais complexos, provavelmente agindo como redutora da agressividade entre machos. Se aceitamos os primatas atuais como grupos de comportamentos semelhantes ao nossos ancestrais e levarmos em conta a nossa complicada relações sociais é bem provável que tenhamos um dos maiores índice de homossexualidade (FORASTIERI, 2006).
A criança que futuramente será um homem homossexual apresenta mais características de submissão do que de feminilidade na infância. Não há, contudo, uma relação necessária entre atipicidade de gênero na infância e orientação homossexual (FORASTIERI, 2006). Porém os homossexuais podem ser os portadores genéticos de alguns dos raros impulsos altruístico da humanidade, um comportamento nitidamente benéfico e importante na organização social humana primitiva. (WILSON, 1981).
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Essa propriedade homófilica, exemplo, homem com características masculinas gostar de homem com características masculinas, pode ser a chave do significado biológico. A homosexualidade é acima de tudo uma forma de união; sendo assim coerente com maior parte do comportamento heterossexual. Essa predisposição para a homofilia poderia vem apresentando com uma base genética e esses genes tendo-se espalhado nas sociedades primitivas, nos leva a concluir que é devido a vantagem que conferia e que é um de alguma forma ‘natural’ (WILSON, 1981). E a sua alta frequência seria improvável que esta venha sendo resposta de uma mutação aleatória (FORASTIERI, 2006).
Como um traço da homossexualidade pode ser transmitido? Se é: (1) ligado de alguma forma ao gene (2) tem um impacto negativo sobre o sucesso reprodutivo.
Se os homossexuais estavam tendo tantos filhos quanto os heterossexuais, com a mudança nas relações sociais na atualidade, pode ser que o traço tenha sua frequência gradativamente diminuída nas populações humanas. Porém esse(s) gene(s) devem trazer alguma outra vantagem para ter conseguido ser mantido ao longo das gerações. Entre as vantagens hipotéticas sugeridas, encontram-se as seguintes:
(1) Vantagem do heterozigoto: Alelos deletérios para reprodução em homozigose podem persistir caso haja vantagem seletiva para o heterozigoto. Machos tendem a exercer relações de dominação nos grupos em que vivem, de forma que animais excessivamente dominantes em tantos conflitos que suas chances de sobrevivência e reprodução bem sucedida poderiam ser diminuídas. Assim, poderia ser vantajosa para alguns indivíduos uma tendência de dominação moderada como os Heterozigotos para esse(s) gene(s).
Sergey Gavrilets e William Rice, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, têm estudado os genes que podem influenciar o homossexualismo humano. Esses pesquisadores têm observado que esse comportamento, como seria de se esperar, é bastante complexo e está associado com um grande número de genes. Mas ainda não é possível apontar, para a nossa espécie, razões adaptativas associadas a esse comportamento. E para além de eventuais fatores biológicos que possam estar associados à orientação sexual na espécie humana, devemos ter sempre em mente que ela é influenciada também por inúmeros fatores ambientais e pela história de vida de cada indivíduo.
Nesse sentido, a compreensão dos papéis dos diversos tipos de relacionamentos entre indivíduos do mesmo sexo e a adaptação ecológica e evolutiva das populações nas quais esse fenômeno ocorre pode enriquecer a nossa compreensão sobre como a seleção natural molda as interações sociais, a reprodução e mesmo a morfologia das espécies.
(2) A persistência de genes que, de certa forma, contribuíssem para a homossexualidade seria causada, para alguns pesquisadores, pelo altruísmo das pessoas homossexuais.
Segundo Wilson (1981), fundador da sociobiologia, homossexuais poderiam ser portadores genéticos de impulsos altruístico raros na espécie.
(3) Alelos ligados ao cromossomo X, que confeririam maior vantagem reprodutiva a fêmeas do que a machos, também foram considerados como possíveis fatores relacionados à homossexualidade. Estudos relatam que, geralmente, as pessoas não-heterossexuais têm parentes não-heterossexuais do lado materno, ou seja, é uma herança materna.
Já analisados então as possíveis causas para a manutenção de uma base genética para a homossexualidade durante a evolução (a questão adaptativa), vamos então partir para analise das contribuições dos estudos sobre fatores genéticos associados ao traço (a questão estrutural).
Uma das maneiras mais utilizadas para analisar a participação de componentes biológicos e ambientais é o estudo em gêmeos.
Quando comparada a hereditariedade dos genes homossexuais entre irmãos o componente genético se mostra forte: Em relação à determinação genética para a orientação sexual, uma vez que gêmeos dizigóticos e irmãos não-gêmeos do sexo masculino deveriam apresentar as mesmas proporções de concordância, e não diferenças tão grandes como as relatadas (de 24% para 13%). Logo, pode-se argumentar, nesta base, que um componente ambiental deve estar fortemente implicado no desenvolvimento do traço, pois 43% dos gêmeos monozigóticos, mostrado discordância para a orientação sexual, assim fatores ambientais podem ter sido a causa de tal discordância (FORASTIERI, 2006, p.57).
A compreensão da contribuição genética, hormonal, neurofisiológica e social para a orientação sexual humana tem se acumulado, nas últimas décadas. Alguns estudos que analisam a orientação sexual de gêmeos monozigóticos, dizigóticos e irmãos adotivos indicam que a tendência à homossexualidade possui um componente hereditário e poderia conferir ganhos adaptativos, pelo menos para homossexuais masculinos (BORGES, 2010).
Há indícios da ocorrência de uma associação entre a homossexualidade e genes presentes no braço longo do cromossomo X (Xq28). Brian Mutanski, do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), realizou um estudo com 456 indivíduos de 146 famílias que possuem dois ou mais irmãos homossexuais. Os resultados indicam que várias regiões dos cromossomos não sexuais também influenciam o comportamento homossexual. Contudo, a equipe de Mutanski não observou uma associação entre a região Xq28 e a homossexualidade (BORGES, 2010).
Pesquisas com a mosca da fruta, mostram que nessa espécie, uma das alterações mais estudadas ocorre no gene conhecido como genderblind (algo como ‘cego para o gênero’, em inglês), associado com os níveis extracelulares de glutamato. Esse neurotransmissor regula o processamento da informação feromonal nos neurônios cerebrais dos machos de drosófila, e a alteração torna esses insetos incapazes de distinguir indivíduos do sexo oposto (BORGES, 2010).
A associação entre homossexualidade e ativação por feromônios também está no foco de vários pesquisadores, como, por exemplo, Ivanka Salic, da Universidade Kariolisnka (Suécia). Segundo Salic, nos cérebros de homossexuais do sexo masculino, há regiões ativadas em resposta os derivados da testosterona, e que apresentam propriedades similares às dos feromônios. E no caso das mulheres derivados do estrogênio (BORGES, 2010).
Ainda existe pouco conhecimento das características genéticas e às numerosas influências do ambiente sobre a orientação sexual de cada indivíduo. Apesar da complexidade comportamentais em nossa espécie, algumas das hipóteses citadas anteriormente podem justificar relações homossexuais entre animais e delinear o comportamento entre os humanos.
REFERÊNCIAS:
BBC NEWS – Oslo gay animal show draws crowds. Outubro de 2006. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/6066606.stm>. Acessado em Outubro de 2013.
BRUCE BAGEMIHL. Biological Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity, St. Martin’s Press, 1999.
BORGES, Jerry Carvalho. Os segredos no fim do arco-íris. Revista Ciência Hoje. Junho de 2010. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/por-dentro-das-celulas/os-segredos-no-fim-do-arco-iris/?searchterm=>. Acesso em Outubro de 2013.
DIAMOND, J. M. Por que o sexo é divertido? A Evolução da Sexualidade Humana. Ed. Rocco, P 49 – 50. 1999.
Encyclopedia Encydia beta. Disponível em: <http://pt.encydia.com/es/Homosexualidad_em_animais>. Acessado em Outubro de 2013.
MIOTO R. Folha.com – Golfinho faz sexo gay para manter amigo; veja ranking animal. Publicado em: 20 de agosto de 2010. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/785884-golfinho-faz-sexo-gay-para-manter-amigo-veja-ranking-animal.shtml>. Acessado Outubro de 2013.
FORASTIERI V. Orientações Sexuais, Evolução E Genética. 2006. Candombá – Revista Virtual, v.2, n. 1, p. 50-60.
MOREIRA FILHO, F. C. A Homossexualidade e a Sua História. 2008. Disponível em: <http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/viewFile/1645/1568>. Acesso em: outubro 2013.
WILSON, E.O. Da natureza humana. São Paulo: EDUSP, 263p. 1981.
Como publicar na Revista Virtual P@rtes FURLANETTO, A.L.D.M.; GROTH, F.; JANZEN S.J. e CRETE P. Homossexualismo – Opção, Estratégia Ou Evolução?
*Ana Luiza D M Furlanetto: Graduada em Biologia pela PUCPR em 2011, atualmente cursa mestrado em Bioquímica na UFPR. E-mail: ana.furlanetto@hotmail.com
*Príscila de Cássia Sanchez Crete: Graduada em Biologia pela PUCPR em 2011, atualmente cursa pós-graduação de microbiologia na PUCPR. E-mail: priskcrete@gmail.com
*Fernanda F F Groth: Graduada em biologia pela PUCPR. E-mail: fgroth@hotmail.com
*Jessica Janzen dos Santos: : Graduada em Biologia pela PUCPR em 2011, E-mail: jessijanzen@hotmail.com