O susto
Gilda E. Kluppel
Em um anoitecer tipicamente curitibano, nebuloso e úmido, no qual as sombras e os vultos predominam, ao voltar para casa, resolvi abastecer o automóvel. Aproveitei também para levar alguns salgadinhos, recomendados e classificados, por uma colega de trabalho, como “divinos”, encontrados na loja de conveniência do posto de gasolina.
Ao descer do carro, avistei uma vizinha entrando rapidamente em seu automóvel, com o semblante enfezado. Não sabia o seu nome, mas ainda não aderi ao incômodo costume das pessoas que, diante de tanta pressa, mal têm tempo para se olharem.
Quando a porta automática da loja de conveniência do posto se abriu, havia apenas um rapaz, com um boné de aba grande que escondia o seu rosto. Pude ouvir a voz ordenando para a moça do caixa: “passe o dinheiro”. Trajava uma folgada jaqueta escura, provavelmente ocultava algum tipo de arma.
Desejei intensamente correr, mas minhas pernas paralisaram. Não sabia o que fazer, senti medo de executar movimentos bruscos. Então, permaneci numa posição estática, encima do tapete da entrada e com a porta automática aberta.
Aquela cena, descrita por tantas pessoas e assistida pela televisão inúmeras vezes, agora, diante de mim, ao vivo. Perplexa, tentei olhar para o rosto da moça do caixa, mas existiam algumas prateleiras de produtos que atrapalhavam a visão. Apenas pude supor o terror e a aflição que ela vivenciava.
Pensei tratar-se da mesma moça que, tempos atrás, relatou assustada sobre o assalto a um posto de gasolina próximo, em plena tarde e diante da luz do Sol. Lembrei-me da infeliz ideia da colega que indicou, naquele mesmo dia, os salgadinhos de queijo; dos quais, durante o percurso para casa, fiquei saboreando com a imaginação. Nem sei como pude pensar tanta coisa em poucos instantes. Talvez, o medo fez várias imagens passarem rapidamente em minha cabeça.
Enquanto permanecia imóvel, em frente à loja, a moça do caixa entrega ao rapaz um maço graúdo de dinheiro. Em seguida, o rapaz se vira em direção à porta. Tomada por muito temor, cheguei a sentir as pernas amolecerem. Quando o rapaz passa por mim e diz sorridente: “boa noite, senhora”.
Ainda atordoada fui conversar com a moça, pressentindo o seu desespero, mas surpreendentemente ela estava tranquila. Perguntei pelo rapaz. Eis a resposta: “é o filho do dono do posto que veio recolher o dinheiro”.