O objetivo foi trazer para debate e conhecimento geral a produção da época. “Trata-se de um material rico, porém pouco estudado”, afirma. Enfatizar a atividade do músico no seu cotidiano ao invés de valorizar apenas alguns intérpretes que tiveram mais notoriedade ou sucesso foi o caminho utilizado pelo músico, que também mostrou que a gravação de programas radiofônicos era tão útil quanto uma gravação fonográfica.
A Era de Ouro tem como característica estar entre dois períodos fartamente estudados, quando se refere à música. O período é conhecido assim devido à importância e prestígio do rádio como veículo de comunicação. De um lado encontra-se o estudo do samba (exaltação e do malandro) e do outro muito se fala da bossa nova e de canções engajadas com a liberdade de expressão e fim da ditadura militar brasileira (1964 – 1985). Segundo o pesquisador, a história do rádio é contada por “Pixinguinha, Noel Rosa, Lamartine e outros mais, até chegar no samba-exaltação e Ary Barroso, por volta de 1945. Depois disso, pouca coisa interessante teria acontecido até que chegou a Bossa Nova, depois a música de protesto, a tropicália, etc. Isto é, pula-se mais de uma década, que ficou lembrada apenas pelas rainhas do rádio, o Cauby e pouco mais”, relata.
Multiplicidade musical
Esse fato representa uma descontinuidade historiográfica. Diversas categorias musicais eram apresentadas neste período, representando a sociedade por meio da visão dos envolvidos no ofício radiofônico, o que justifica a importância do estudo dos aspectos dessa produção e o que eles têm a dizer. A ditadura Varguista havia acabado há pouco e havia uma multiplicidade musical que preocupava os críticos quanto ao futuro da música brasileira, algo que ainda pode-se perceber na sociedade atual. Para o Augusto Pinto, entender o que aconteceu no passado pode ajudar a entender a razão do reaparecimento de alguns debates e fornecer respaldo para reformulá-los de modo a acrescentar algo construtivo para a sociedade.
Para a realização do estudo a documentação, que estava em fitas cassete, foi digitalizada e organizada. Conforme o interesse do autor e a bibliografia estudada, alguns programas foram transcritos. A análise foi feita, principalmente, sob três aspectos: a memória, a representação da negritude e a ameaça da cultura estrangeira. Com orientação do professor Elias Thomé Saliba, a tese Gente que brilha quando os maestros se encontram: música e músicos da ‘Era do Ouro’ do rádio brasileiro (1945-1957) traz o resultado dessa análise.
“Como resultado, o que destacaria primeiramente é o fato de verificar ser possível e interessante uma análise da música brasileira feita a partir de programas de rádio e não de discos, como é mais comum. Nos programas, não havia apenas um conteúdo musical, essencialmente subjetivo” explica. Segundo ele, a oralidade dos locutores permite uma análise menos subjetiva do conteúdo.
“A escuta desses programas antigos me aproximou desse fazer musical e me fez acreditar que o grande desafio naquele lugar e hora não era exatamente o nacionalismo ou uma tradição, e sim fazer o melhor tipo de música possível com as condições que se tinha. E isso era muito”, conclui.
Post interessantíssimo! Parabéns pelo trabalho!