Comunicação Crônicas Mara Rovida

Quanto vale ou é por quilo? Onde está sua indignação?

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Quanto vale ou é por quilo? Onde está sua indignação?

Mara Rovida*

Mara Rovida é jornalista, doutoranda no PPGCOM da ECA-USP e membro do Grupo de Pesquisa do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Esteve presente ao Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas promovido pelo Instituto Vladimir Herzog, Prêmio de Anistia e Direitos Humanos, em parceria com o Itaú Cultural. O evento foi realizado em 21 de outubro de 2013, em São Paulo.

O nome pomposo do evento – Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas – não parecia condizente com o “volume” da plateia. Poucos estudantes, uma jornalista da grande imprensa e alguns comunicadores independentes resumiam as participações. Nada que pudesse preencher os espaços disponíveis para ouvir a polissemia que se colocava ali no debate a respeito da violência contra os jornalistas no mundo.

Anabel Hernandez veio do México para contar sobre os colegas mortos, esquartejados e devolvidos em sacos plásticos como se fossem “peros”, mas eles eram cidadãos, pais e mães, pessoas, histórias e narrativas a serem contadas. As estatísticas são frias, mas revelam um aumento alarmante nos casos de assassinato de jornalistas em vários países e o México é certamente um dos que mais se destaca nesse assunto. “Há os casos em que o correspondente de guerra morre no conflito, mas ele assumiu o risco. O que preocupa, são aquelas situações em que os assassinatos ocorrem por questões locais, nas cidades onde vivem e trabalham esses profissionais.” A fala de Jim Duff do Newseum, ligado ao Instituto Fredom Forum de Washington DC, baseia-se nos números coletados, ainda de forma esparsa, pelos vários atores globais que se ocupam do assunto.

Nossa pátria amada tem aparecido entre os países campeões nesse ranking macabro. Apenas este ano, cinco profissionais foram assassinados; dois deles atuavam numa mesma empresa e cobriam as atividades de um grupo de extermínio formado por policiais. Há os que sobrevivem como Mauri könig. Ele foi espancado durante trabalho de campo em que investigava a disputa agrária na fronteira Brasil-Paraguai. Sobreviveu, publicou suas reportagens e foi reconhecido em importantes premiações da área de jornalismo. Mas, nem sempre as histórias acabam assim.

Anabel é prova viva de que as ameaças não-denunciadas podem se transformar em números nos índices de mortes. “O jornalista acha que as ameaças fazem parte do seu trabalho e que não deve sair por ai choramingando. Mas, elas se concretizam e eles morrem.” Segundo ela, esse é um dos motivos que contribui para o cenário atual em seu país. Além da falta de denúncia das ameaças, a ausência de respaldo das empresas – cuja publicidade é 70% preenchida por anúncios governamentais – e a indiferença da sociedade definem uma situação que, infelizmente, parece bastante com a nossa (apesar dos contextos sociais envolvendo esses crimes serem bem diferentes). “Ninguém se importa.”

A secretaria de Direitos Humanos se fez representar, assim como a Abraji, a FIJ e o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Mas, a indignação faltou, esqueceu do seu compromisso com o direito à liberdade de imprensa, com o direito à informação e, principalmente, com o direito à vida.

* Mara Rovida é jornalista, doutoranda no PPGCOM da ECA-USP e membro do Grupo de Pesquisa do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Esteve presente ao Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas promovido pelo Instituto Vladimir Herzog, Prêmio de Anistia e Direitos Humanos, em parceria com o Itaú Cultural. O evento foi realizado em 21 de outubro de 2013, em São Paulo.

 

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