Em Simpósio realizado pelo curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina reivindicam a apuração e divulgação dos nomes e dos atos praticados pelos torturadores
Na mesma semana em que a Comissão da Verdade apresentou o balanço de um ano de trabalho, o curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina realizou seu VII Simpósio de América Latina, o qual teve como título “A Comissão Nacional da Verdade: O Brasil revê a sua história”. Dentre os principais temas abordados, ressaltam-se: as críticas de entidades da sociedade civil, que cobram mais transparência, mais eventos públicos e mais participação nos trabalhos; as sugestões para que a Lei da Anistia seja revista; a divulgação dos nomes e dos atos praticados pelos torturadores; o direito à Memória; e a comparação com Comissões semelhantes na América Latina, especialmente no Cone Sul.
Para os participantes do Simpósio, por meio dessa Comissão pretende-se resgatar e esclarecer a história brasileira durante o período ditatorial: “Ao invés de propagar qualquer tipo de revanchismo, a Comissão Nacional da Verdade deve auxiliar a sociedade a compreender a história do Brasil no período da Ditadura Militar, visando esclarecer como aquele período permanece afetando nossas relações sociais e evitar que tais experiências sejam negligenciadas e, portanto, possam se repetir”, avalia o coordenador do curso de RI da FASM, Tadeu Maciel.
O Simpósio contou com a presença de personagens bastante conhecidos nesta causa, como Frei Betto e Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado na prisão no período da ditadura militar.
Frei Betto declarou-se totalmente a favor da Comissão, mas ressaltou com veemência a necessidade revisão da Lei de Anistia: “Eles nos puniram, mas não foram punidos. É uma situação absolutamente surreal. Não quero vingança, quero justiça, até para que acontecimentos como aqueles não se repitam. Sei que é uma frase batida, mas retrata a realidade. A Comissão da Verdade é um passo importante, mas é preciso pressão para mudar a Lei da Anistia e apurar quem foram os responsáveis”, declarou durante o evento.
Para Ivo Herzog, que hoje dirige o Instituto Vladimir Herzog, os familiares precisam enterrar seus mortos para encerrar esse capítulo de sofrimento. “O desaparecimento é uma tortura continuada. Queremos um relatório dizendo quem foram os personagens que cometeram os crimes durante a ditadura, que os nomes e ações que cometeram venham a público nos detalhes”, afirmou.
Rosalina Santa Cruz, atualmente professora do curso de Serviço Social da PUC-SP, foi mais uma vítima do regime. Foi presa, torturada e até hoje procura por informações do irmão desaparecido naquele período: “Quero ver meus torturadores responsabilizados. Toda minha história está contada em depoimento à Comissão da Verdade e eu gostaria que isso fosse apurado”, ressalta.
Os também ex-presos políticos Sebastião Neto (membro da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo) e Ernesto Carlos Nascimento (fichado aos 2 anos de idade como subversivo no Dops – Departamento de Ordem Política e Social) contaram suas histórias de vida e ao opinarem sobre o balanço do primeiro ano da Comissão Nacional da Verdade foram unânimes: ainda há muito o que fazer. “O Brasil avançou muito pouco nisso [na
comissão], principalmente se compararmos com as comissões criadas em outros países da América Latina”, concluiu Ernesto Nascimento. “A Comissão da Verdade realmente não produziu muitas coisas” afirmou Sebastião Neto, que completou dizendo: “além da reparação financeira, tem a reparação moral e política. (…) Nós nos daríamos por satisfeitos se a verdade fosse trazida à luz”.
Os professores do curso de RI da FASM estão à disposição para entrevistas sobre o tema. Caso queira entrevistá-los, entre em contato com a equipe de assessoria de imprensa.
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Faculdade Santa Marcelina – FASM – Assessoria de Imprensa