NOTÍCIAS QUE CORREM PELO MUNDO
Margarete Hülsendeger
A rapidez com a qual uma informação é capaz de se alastrar pelo mundo continua a me surpreender. Em tempos de internet, já devia estar acostumada; afinal, o conhecimento está de tal forma disseminado que qualquer um, em quaisquer circunstâncias, é capaz de acessá-lo com a maior facilidade. Por que, então, continuo me espantando? Talvez, o que realmente me surpreenda seja a forma como as pessoas veiculam e interpretam essas informações.
Recentemente, uma notícia divulgada em todas as mídias do planeta causou não só espanto, mas também muito medo. Os meios de comunicação passaram a divulgar informes sobre um experimento que estaria prestes a se realizar com o objetivo de reproduzir as condições da criação do Universo e, assim, revelar a composição da matéria e da energia. A experiência seria realizada nos arredores de Genebra, na Suíça, com o mais novo e maior acelerador de partículas do mundo, o Grande Colisor de Hádrons (LHC). Até aí tudo bem, o experimento realmente era muitíssimo importante para ciência e precisava se tornar público. Algum problema? Infelizmente, sim.
Para grande parte da população mundial passou-se a ideia de que haveria a possibilidade – remotíssima! – de se criar um minúsculo buraco negro que engoliria a Terra inteira. Foi o que bastou para que as pessoas ficassem simplesmente obcecadas com a ideia de que “cientistas malucos” estariam, de forma irresponsável, realizando experimentos que poderiam determinar o final do nosso mundo. O fato de esse equipamento já estar funcionando há muito tempo, sem causar dado algum ao planeta, foi solenemente ignorado. E o resultado foi que, de uma hora para outra, pessoas que nunca haviam se preocupado com assuntos científicos passaram a se interessar – muitos de forma totalmente equivocada – por algo que os cientistas já pesquisavam há vários anos. E o real objetivo do experimento? Bem… esse foi relegado a um segundo plano.
Entretanto, enquanto a expectativa existiu muito se debateu sobre a validade de pesquisas desse nível. Todos tinham uma opinião sobre o assunto. Diversas matérias surgiram nos jornais, na TV, no rádio e nas revistas. Desde charges bem humoradas, até artigos com pretensão a científicos (contendo, inclusive, erros bastante grosseiros). Foi, para muitos, um período de questionamentos. “O que estaria nos aguardando ao final de todo esse rebuliço?”, era a pergunta que todos se faziam.
Infelizmente – ou será felizmente? – as coisas não ocorreram como o previsto, aliás, como é natural no trabalho científico. A experiência simplesmente não funcionou. Motivo? No dia 19 de setembro, o acelerador, acomodado num túnel em forma de anel com 27 quilômetros de extensão e a cem metros de profundidade, precisou ser desligado, pois sofreu um superaquecimento. Houve um grande vazamento de hélio líquido, usado justamente para resfriar a imensa máquina a temperaturas próximas do 1,9 Kelvin, ou -271°C. A realização dos consertos necessários acabou por transferir o evento para abril de 2009.
Para o grande público foi como se uma sentença de morte houvesse sido revogada. A humanidade, com um suspiro de alivio, acreditou que o fim do mundo havia sido adiado. No entanto, me atrevo a perguntar: será? Afinal, não podemos esquecer que ainda existem outros arautos do apocalipse circulando por aí, entre eles, o aquecimento global e a escassez de alimentos, só para ficarmos nos mais conhecidos. Logo, é muito provável que, se o planeta vier a ser destruído, não o será por um hipotético buraco negro, mas pela falta de bom senso – quem sabe, loucura – da qual padece a humanidade há muito tempo.
Percebe-se, então, que a notícia raramente é veiculada com algum juízo de valor. Cabe, portanto, àquele que lê interpretá-la e analisá-la de forma a extrair dela o que realmente é verdadeiro. No entanto, para que isso possa ocorrer, além de informação, deve-se buscar também o conhecimento. Lembre-se: notícia sem a devida interpretação e o necessário discernimento pode se converter em uma faca de dois gumes. Se de um lado você tem a possibilidade de se tornar participe direto do que acontece a sua volta; do outro corre o risco de se transformar em uma simples marionete daqueles que desejam manipulá-lo. Por isso, quando ouvir falar novamente em final de mundo, pense, reflita e procure não só se informar, mas também conhecer.