Maria Isabel Alonso Alves*
Resumo: O mundo vive em processo constante de competição no âmbito econômico. O processo de virtualização no controle dos meios de produção tem causado espanto devido à velocidade de como as coisas se transformam ou se modernizam. Acompanhar o ritmo econômico ditado pela globalização passou a ser um desafio para o trabalhador que precisa estar constantemente se especializando para atender as exigências do mercado. Neste sentido, buscaremos neste artigo fazer uma breve reflexão a cerca do papel da escola frente ao mundo globalizado, levando em consideração as concepções de trabalho e os processos formativos do sujeito.
Palavras-chave: Capitalismo, Escola, Globalização,Trabalho.
Introdução
Em todo o mundo, a palavra trabalho pode ter vários significados e pode representar situações de dor, angústia, fadiga, conflitos, entre outros. Trabalho “lembra tortura, suor do rosto, mais que aflição, fardo”. (ALBORNOZ, 2008, p. 8-9). Ao longo dos tempos o trabalho tem sido relacionado à evolução das sociedades humanas e suas transformações econômicas, sociais e culturais. A concepção de trabalho foi se transformando ao longo dos tempos de acordo com a evolução social e econômica. Nas sociedades primitivas, por exemplo, a concepção de trabalho estava relacionada à
sobrevivência da espécie, ou seja, à manutenção da vida. Neste modelo de trabalho, os indivíduos retiravam da natureza apenas o necessário, no entanto, com a evolução da espécie, o trabalho passou a ser dividido em classes. A partir da divisão das sociedades de classe, quando começaram então a divisão das propriedades de terras para o cultivo, e consequentemente o aparecimento da figura proprietários e não proprietários, Estado e família, entre outros, a escola surgiu como um lugar de ócio, lugar frequentado apenas por proprietários e seus descendentes.
Com base nestes apontamentos, este texto tem a intenção de comunicar saberes que busquem refletir sobre o papel da escola na sociedade capitalista, recorrendo a uma breve reflexão teórica que compreenda a articulação do capitalismo, escola, globalização e trabalho.
Trabalho e natureza
Na visão marxista, o trabalho faz parte da natureza, ou seja, “homem é o que é pelo trabalho”. Lombardi (2012), afirma que o ponto de partida para a categoria trabalho é a produção material, ou seja, a produção em sociedade na qual os indivíduos necessitam produzir para se estabeleceram como homem social. Nesta perspectiva, sem o trabalho seria impossível compreender o homem e suas relações, pois no trabalho ele transforma a natureza e ao transformar a natureza ele cria um mundo novo, o da cultura. Ao transformar em cultura, o ser humano necessita de códigos que sirva não só para ele, mas para a sociedade, onde o homem é apenas um produtor e um produto dessa cultura, por onde o mesmo transita no tempo, e assim, a partir dessa produção cultural, ele se modifica. Compreendemos então, que o que transforma o homem é a própria noção de trabalho e assim ele transmite sua cultura ao outro. Essa transmissão ocorre também através da educação, onde tudo é divido e compartilhado. Para Lombardi (2012), neste modelo de educação não há alienação. Essa compreensão marxista nos leva a entender que é a partir de uma base material que se analisa a existência humana, sendo essa base material, o trabalho.
A partir da categoria trabalho se estabelece as relações sociais, e consequentemente, é necessário o estabelecimento de ordens sociais. As legislações são necessárias para que se estabeleça e se mantenha a ordem na sociedade, no entanto, no que se refere ao material, isso não passa de uma falácia ou grande bobagem, pois se levarmos em consideração o mercado de trabalho, nunca houve pleno emprego no sistema capitalista, pois para o estabelecimento da ordem, sempre foi interessante para as forças de produção a manutenção de uma massa de reserva para o trabalho. Resta-nos entender que o desemprego é fundamental para a subsistência do capitalismo, e mesmo que todos os trabalhadores tivessem qualificação, mesmo assim não seria possível trabalho para todos, daí o estabelecimento da ordem se caracterizar como uma falácia.
A escola e o capital
O desenvolvimento da sociedade contemporânea frente à globalização remete-nos à reflexão sobre possíveis razões pelas quais perpassam a falência da promessa integralizadora da escola. Para elencar tais razões, é preciso levar em consideração a expansão econômica e social nas últimas décadas, bem como o processo de mundialização da economia e os avanços tecnológicos que permitiram e/ou permitem uma competitividade globalizada entre os países capitalistas. Neste sentido, cabe ressaltar as consequências que essa competitividade econômica representa para as instâncias sociais, nas quais a escola encontra-se inserida.
É preciso lembrar que o processo de escolarização a qual vivenciamos, refere-se aos desdobramentos históricos do capitalismo e da relação de classes no eminente modelo hoje estabelecido. O início do processo de escolarização referia-se a capacidade com que as classes dispunham para sustentar seus filhos na escola, emergindo distanciamentos no domínio do saber entre os que possuíam o controle dos meios de produção e aqueles que vendiam suas forças para o mercado. Com o surgimento das ciências e das tecnologias, houve então, a expansão capitalista que resultou na industrialização dos produtos comerciais. Esse período ficou conhecido como “era moderna” ou tecnológica. Compreendemos que nesta “era moderna” o trabalho já não pertence ao trabalhador, pois o trabalho artesanal foi substituído pela produção em série, e os indivíduos – trabalhadores assalariados vendiam sua força de trabalho. Com o surgimento das fábricas e das cidades urbanas, onde o acúmulo de capital e a rapidez da fabricação permitiram o aumento da produção industrial, os trabalhadores passaram assim, a ter divisão, ritmo e horário de trabalho preestabelecido pelos donos das forças de produção.
Levando em consideração a temática em questão, aponta-se que a dinâmica mundializada do capital frente ao processo de globalização e as políticas econômicas voltadas ao sistema capitalista desencadearam crises para o mercado de trabalho e, consequentemente, afetaram a escola que não assumiu seu papel de ensinar para humanização com vistas em um ensino emancipador dos indivíduos, atendendo apenas as exigências do mercado capitalista. Neste sentido, é preciso levar em consideração as responsabilidades e o poder que o Estado possui no aspecto educacional e em relação ao desenvolvimento social, pois no sistema capitalista vigente, toda a responsabilidade da formação escolar passa a ser do indivíduo com fins de empregabilidade, tirando do Estado as responsabilidades sobre a educação.
As teorias marxistas afirmam que a escola é uma instituição burguesa e como tal, é incapaz de se transformar em uma instituição contrária à dinâmica social da qual é parte integrante. Concordamos que
O sistema escolar é um meio de controle das classes dominantes que governam a sociedade por influência no Estado. A denúncia da opressão e da desigualdade nesta última etapa do século estendeu-se às relações de gênero e às de qualquer outra coletividade que se considere oprimida, ficando evidenciado que a educação construída sob o guarda-chuva da modernidade está longe de ser libertadora, ou que, na melhor das hipóteses, é mais para uns do que para outros. (SACRISTÁN, 2000, p. 57).
A nosso ver, existe uma falha no campo educacional, pois compreendemos que para se estabelecer realmente uma educação voltada para emancipação humana, os trabalhadores precisam de uma escolarização plena, que lhes dê condições de desenvolverem-se com uma excelente base de conhecimento. Para isso, seria necessário o envolvimento das instituições sociais de forma geral, como; família, Estado e escola, no entanto, Althusser (1998) aponta que os segmentos sociais evidenciados, são na verdade, “aparelhos ideológicos” de dominação que se situam a mercê da classe dominante, e dessa forma não possuem interesse em uma educação emancipadora, pelo contrário, tendem a idealizar uma escola voltada para atender as exigências do capital.
Concordamos que com pouco conhecimento escolar, provavelmente os indivíduos cheguem com uma qualificação mínima ao mercado de trabalho, no entanto, não é possível deixar a cargo do cidadão a responsabilidade sobre sua formação escolar. Nesta perspectiva, vale ressaltar que educação não se confunde com escolarização, pois “não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e professor profissional não é o seu único praticante.” (BRANDÃO, 1994, p.9).
Compreendemos, no entanto, que a escola apesar de não ser o único veículo de ensino é, ou pelo menos deveria ser, responsável pelo desenvolvimento cultural, social e econômico de toda a sociedade, não apenas de uma determinada classe detentora do domínio do capital, devendo dessa forma, contribuir com o as políticas socioeconômicas voltadas efetivamente ao desenvolvimento humano, mas o que se pode observar é a ineficiência do sistema público de ensino voltado para o público. Dessa forma, investir em educação significa promover condições reais de escolaridade, emprego e renda ao trabalhador. A educação escolarizada deve ser considerada, a nosso ver, o veículo responsável para a redução da pobreza, e esta – a educação seria um processo necessário para a efetivação das promessas da modernidade, e “entre as características da era moderna que as distinguem do passado está a aplicação da ciência à produção.” (ALBORNOZ, 2008, p.21).
Considerações Finais
Compreendemos neste texto que a escola atual é um reflexo dos acontecimentos diretamente ligados ao universo capitalista, muito embora ela tornou-se necessária para qualificação do trabalhador, é possível outros entendimentos sobre este espaço tais como, lugar de disseminação de ideologias, de reprodução das relações sociais produtivas, de fabricação de identidades, de disputas de capital, de representação de poder, entre outros mecanismos que confluem diretamente ao espaço escolar.
Outro entendimento acerca da escola refere-se à compreensão de que ela tornou-se um espaço decisivo a funcionalidade do mundo capitalista, transformando-se então, num veículo de mera formação e qualificação para o trabalho, distanciando-se, portanto, de questões filosóficas tão decisivas para a humanização e emancipação do sujeito. Ainda a este respeito, a escola tornou-se mecanismo de exclusão quando estabelece amplas diferenças entre aqueles que a frequentaram e aqueles que não foram oportunizados passar por ela, ou que neste trajeto conseguiram apenas uma formação elementar.
Mediante os apontamentos evidenciados no texto é possível compreender que a competitividade estabelecida no mercado globalizado exige que o indivíduo esteja em constante formação, sem a qual o trabalhador pode ser excluído do mercado, passando a integrar o quadro de reserva de força de trabalho. Neste sentido, o papel atual da escola é possibilitar que os sujeitos compreendam a funcionalidade do mundo capitalista, adquirindo, portanto, uma ética – regra, bem como uma moral – comportamento, indispensável para a manutenção no/do mundo globalizado.
Referências
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 6ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. (Coleção primeiros Passos: 171).
ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
BRANDÃO, C. R. O que é educação. 31ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção primeiros passos: 20)
LOMBARDI, J. C. Embates marxistas: apontamentos sobre a pós-modernidade e a crise terminal do capitalismo. Campinas, SP: Librum, Navegando, 2012.
SACRISTÁN, J. G. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
ALVES, M. I. A. ; Scaramuzza, Simone Alves . No Ideário da Globalização, Qual o Papel da Escola?. P@rtes (São Paulo) , v. 02, p. 01-06, 2013