Pedro Coimbra
Neste mundão de Deus, segundo afirma meu amigo Bernardo, todos nós temos os nossos perseguidores.
A mulher de branco é um deles. Aparece a qualquer hora na sua frente, de preferência no banheiro da sua escola, com as narinas tampadas por chumaços de algodão. Só assusta e não fazia mal a ninguém.
Mas, cada um de nós cumpre seu destino.
O meu é todas as vezes que tenho que participar de eleições me encontrar com uma loura linda na ante sala da minha seção.
É muito bonita, elegante e sensual no seu vestido drapeado.
Todas às vezes me fala em francês, em Liberté, Egalité e Fraternité.
Quem descobriu quem era foi Bernardo. Chama-se Marianne e representa a República Francesa.
Ela quer que tenhamos ideais democráticos no meio de tanta confusão ideológica.
Ideológica, não. Uma verdadeira “república de bananas” em que cada um defende seus interesses pessoais.
Toas às vezes eu acabo ouvindo seus conselhos e sempre me dou mal.
Mas, Marianne é uma graça de mulher, um verdadeiro anjo ao meu lado!
– Acredite que um dia tudo vai mudar e o povo vai saber o porquê de tomar determinadas atitudes – ela diz.
Sempre digo para ela que temos um sistema informatizado que nem mesmo o USA tem. Mas, nossos representantes são um desastre, bastando verificar o que gastamos para eleger um prefeito do interior.
– A eleição no Brasil deveria voltar a época da República Velha, com as listas dos coronéis – digo em voz alta.
É engraçado que o Golpe de 64 não tenha conseguido acabar com as eleições.
– A continuar do jeito que vai, nós mesmo vamos conseguir acabar com elas – penso em voz alta.
Prefiro Marianne ao curupira que é um ser fantástico, que segundo a crença popular, habita em florestas. É descrito como um menino, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente que confundem os caçadores. Gosta de sentar nas sombras das mangueiras e se deliciar com os frutos.
Nosso grande problema é que não temos mais florestas e nem mangueiras.
Chego bem próximo de Marianne até que ela desaparece no entardecer e fico com minhas dúvidas…