Pedro Coimbra
Zinho dizia que havia nascido numa cidade litorânea que ninguém sabia qual era.
Andava trôpego, como se fosse o andar de um marinheiro e contava que tinha sido taifeiro.
– Isso é importante? – queria saber Creusa, mulata por quem Zinho era apaixonado.
No seu dia-a-dia se especializara em casos assustadores.
– Sabe da última? O Benvindo pedreiro escorregou na lama e caiu do andaime da obra em que trabalhava…
– Morreu?
– Ficou fincado na terra até os cotovelos. Dra Jerusa disse que não anda nunca mais….
As pessoas sabiam do que gostava e o provocavam:
– Qual a última, Zinho?
Ele olhava pro céu azul, pensava um pouco e respondia:
– A Polícia prendeu um tal de Heleno, lá pras bandas do Floresta…
– O que ele fez?
– Suspeitam que matou a mulher a facadas diante dos cinco filhos…
Andava por toda a cidade, conversava com todo mundo, parecia esquecer em um minuto qualquer boa nova.
– Descobriram um bando de garotas especializadas em roubar motoristas de carretas – ele contava – Roubavam, matavam e jogavam o corpo na beirada da estrada.
Suas histórias não se sabia onde haviam acontecido, se ali perto ou em qualquer outro lugar.
Zinho era um agourento e o próprio Padre Carlos uma vez o chamou e repreendeu seu comportamento.
– Uma pessoa não pode viver assim, Zinho! – disse o sacerdote.
Ele prometeu que mudaria seu jeito de ser. Não passou mais de uma hora, sentado no botequim da esquina, contava para uma pequena plateia o caso do filho que matara a mãe, por uns míseros tostões para comprar droga.
– Isso aconteceu aqui, Zinho?
– Em todo lugar, em todo momento – ele respondia com um muxoxo – O mundo está perdido!
E saia procurando outros ouvintes e outras notícias.
Gostava muito também de lembrar o grande navio que afundara, em que mais de mil pessoas morreram.
– Por que acontecem tragédias como essas? – alguém queria saber.
– São desígnios de Deus… – respondia Zinho.
Creusa acabou por lhe dar uma reprimenda;
– Você precisa mudar seu jeito de ser – ela disse – Ou pode desistir de ficar comigo.
Zinho prometia que ia mudar sua maneira de ser, que iria se preocupar com as boas coisas que aconteciam neste mundo de Deus.
Saia entristecido e se encontrava com alguém que lhe contava que na madrugada havia acontecido um sério acidente de carro.
– Quantos morreram? – queria saber Zinho.
Se dissessem que não havia vítimas, desinteressava pelo assunto.
A única má notícia que Zinho não pode contar para os outros foi o da sua morte, vitimado por um prosaico AVC…