A Entomologia em Livros Didáticos de Biologia

A Entomologia em Livros Didáticos de Biologia

Otávio Martins Cruz* & Ricardo Russo Siewert**

Resumo: Este trabalho apresentou dados relativos a análise da entomologia em alguns livros didáticos de biologia. Nota-se, a partir dos resultados a preocupação dos autores em lançarem livros que satisfaçam todos os critérios de avaliação estabelecidos pelo PNLD, mesmo que alguns exemplares careçam de pelo menos um dos critérios. Espera-se, dessa forma, que os docentes sejam críticos em relação a escolha dos livros didáticos que usarão em suas salas de aula, já que estes dispositivos educacionais contribuem na formação plena dos alunos enquanto cidadãos capazes de atuar e transformar o meio em que vivem.

Palavras-chave: Insetos, Livro Didático, Ciências Biológicas, Ensino.

Resumen: Este documento presenta datos para el análisis de entomología en algunos libros de texto de biología. Nota-Si, de los resultados de la preocupación de los autores en lanzamiento libros que cumplen todos los criterios de evaluación establecidos por el PNLD, aunque algunos ejemplares son necesidad de al menos uno de los criterios. Por lo tanto, se espera que profesores critican la elección de los libros de texto que se va a utilizar en sus aulas, ya que estos dispositivos contribuyan educativo formación llena de estudiantes como ciudadanos capaces de actuar y transformar el entorno en que viven.

Palabras clave: insectos; Libro de texto; Ciencias biológicas; Enseñanza.

INTRODUÇÃO

Em 1938 foi criada, pelo Decreto-Lei 1006, a Legislação do Livro Didático no Brasil. Nesse período o livro era considerado uma ferramenta da educação política e ideológica (Núñez et al., 2003). Atualmente os livros didáticos (LD) representam um material de apoio pedagógico para professores e alunos. Entretanto, muitos professores utilizam os LD como a única ferramenta que orienta o conteúdo a ser trabalhado, a sequência de conteúdos, as atividades propostas e a avaliação (Spiassi, 2008). De acordo com Zanchetta (2003 apud Labinas; Calil; Aoyama, 2010), as obras a serem escolhidas pelos professores deveriam contemplar quesitos tais como: consistência gráfica e editorial; utilização de textos autênticos e não artificiais; consistência da obra em termos da fidedignidade das informações ali transpostas, entre outros tantos fatores como, por exemplo, a qualidade da impressão das imagens.

Cabe ressaltar, também, que o LD é um material de forte influência no ensino brasileiro, mas é preciso que os professores estejam atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos (SPIASSE, 2008). O LD não deve ser utilizado como única fonte de conhecimentos a serem trabalhados pelo professor, pois muitas vezes tais conhecimentos podem estar equivocados. Ele deve ser utilizado, juntamente com outros materiais, com o intuito de promover a reflexão dos conceitos científicos entre os alunos. De acordo com Núñez et al. (2003, p.3):

“Os professores devem ter um domínio de saberes diversos a serem mobilizados para assumir a responsabilidade ética de saber selecionar os livros didáticos, e não só isso, como também, estar capacitados para avaliar as possibilidades e limitações dos livros recomendados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), pois o livro deve ser uma, dentre outras ferramentas, para o ensino de Ciências. O professor deve desenvolver saberes e ter competências para superar as próprias limitações dos livros, que por seu caráter genérico, por vezes, não podem contextualizar os saberes assim como não podem ter exercícios específicos para atender às problemáticas locais. É tarefa dos professores complementar, adaptar, dar maior sentido aos bons livros recomendados pelo MEC.”

A escolha dos LD para o ensino de ciências e de biologia constitui uma tarefa de fundamental importância, mas, de acordo com Núñez et al. (2003), a quantidade de livros que circula no mercado dificulta a seleção pois torna esta tarefa ainda mais complexa e exigente profissionalmente. Vasconcelos e Souto (2003) afirmam que os livros de Ciências têm uma função que os difere dos demais – a aplicação do método científico, estimulando a análise de fenômenos, o teste de hipóteses e a formulação de conclusões. Entender o livro didático na sua completude justifica-se, principalmente, em função do papel que este adquire no contexto escolar (CASSIANO, 2004).

Segundo Carneiro, Santos e Mól (2005), para o aluno o livro didático é um elemento significante na sua relação com a disciplina. A ideia central é que ele possibilita ao aluno o desenvolvimento de uma consciência critica sobre a sociedade, a cultura e do mundo no qual ele está inserido (ALBUQUERQUE, 2004 apud SPIASSE, 2008).

Ainda de acordo com Carneiro, Santos e Mól (2005) o LD tem sido objeto de vários estudos, onde a tendência maior desses trabalhos recai, normalmente, sobre a análise de seus conteúdos, visando identificar prováveis erros conceituais, ideologias por eles veiculadas, concepções de ciências adotadas, sua evolução histórica e as Políticas do Ministério da Educação. Carneiro, Santos e Mól (2005, p.2) concluem que:

“No entanto, alguns aspectos têm ficado à margem desses estudos como, por exemplo, a análise da proposta metodológica, as relações entre esse recurso de ensino e as práticas pedagógicas do professor e, finalmente, há ainda poucos estudos sobre suas diferentes formas de uso do LD no contexto escolar.”

Diante a esse cenário, neste trabalho procurou-se avaliar alguns livros didáticos de biologia com a atenção direcionada ao conteúdo, as imagens e as propostas pedagógicas da entomologia. Dessa forma, atentar-se aos conhecimentos apresentados nos LD e o direcionamento dado a eles é de grande valia para o processo educativo, assim como para a consolidação de uma educação de qualidade.

METODOLOGIA

Realizou-se um estudo qualitativo através de uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto de entomologia em cinco livros didáticos de biologia que foram lançados a partir do ano 2000 (Tabela.1). O conteúdo de entomologia foi analisado, discutido e comparado baseando-se nos critérios do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) (Brasil, 2008).

Tabela.1 – Livros Didáticos selecionados para a análise do conteúdo de entomologia.

As categorias escolhidas para análise, discussão e comparação entre os livros didáticos foram as seguintes: se o livro garante acesso a conceitos científicos fundamentais para a etapa de escolaridade que pretende atingir, propondo-se uma progressão gradual de conceitos; se a proposta do ensino de entomologia está em consonância com conhecimentos científicos atuais, veiculando informações corretas, precisas, adequadas e atualizadas; se o livro apresenta terminologia científica, fazendo uso, quando necessário, de aproximações adequadas sem, no entanto, ferir o princípio da correção conceitual; se é estimulada a consulta e leitura de textos complementares, revistas especializadas e livros paradidáticos; se o aluno é desafiado a procurar informações por conta própria; se o livro veicula ilustrações que contribuem para a construção de conceitos cientificamente válidos e se essas ilustrações acrescentam algo significativo no texto; se o livro apresenta nas ilustrações (fotos, esquemas e desenhos) citação de fontes, locais, datas e outras informações necessárias ao crédito; se na apresentação das ilustrações são utilizados recursos (cores, escalas) que contribuem para a formação correta de conceitos, se são selecionadas adequadamente as ilustrações apresentando uma diagramação que estimule a leitura e o estudo; se as atividades propostas têm conexão com o cotidiano dos alunos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Conhecimentos e Conceitos

O livro A é o único que contêm a informação taxonômica Uniramia que engloba os Hexapoda (insetos) e os Myriapoda (lacraias) (BRUSCA; BRUSCA, 2003). Nesse LD os conceitos científicos fundamentais são abordados de uma maneira simples e clara, não deixando de lado a terminologia científica, a qual é corretamente utilizada. Porém, foi possível encontrar alguns erros sobre a classificação de alguns insetos, como as baratas (Ordem Blattodea) dentro da Ordem Orthoptera (gafanhotos, grilos e esperanças), o uso da Ordem Homoptera que não é mais cientificamente utilizada e o erro ortográfico da Ordem Hemyptera (escreve-se Hemiptera).

É interessante ressaltar que o livro aborda informações à respeito do nome das ordens de insetos (que são dadas de acordo com o tipo de asa) e informações sobre a biologia de alguns insetos, como por exemplo que apenas as fêmeas de pernilongo alimentam-se de sangue e que apenas os indivíduos reprodutores de formigas têm asas durante a fase jovem.

O livro B apresenta o conteúdo de uma forma clara e objetiva, sendo um pouco mais detalhado que os demais livros, abordando comparativamente o desenvolvimento, a reprodução e a fisiologia com os demais grupos de Artrópodes. O livro B é o único que aborda o assunto sobre co-evolução de insetos e plantas. Além disso, apresenta a importância dos insetos como polinizadores (destacando as abelhas) e insetos de importância agrícola (grilos) e médica (dípteros). Os nomes das ordens de insetos estão aportuguesados.

O livro C começa abordando a evolução dos insetos sobre o ambiente terrestre citando as principais características morfológicas para tal evento (exoesqueleto quitinoso e asas). Este livro apresenta detalhadamente a morfologia externa e interna dos insetos, dando ênfase para os diferentes tipos de aparelhos bucais. O livro ainda afirma que os insetos possuem três olhos simples remetendo-se aos ocelos.

Assim como o livro A, o livro C aborda as principais ordens de insetos apresentando a terminologia científica corretamente, dando ênfase para os danos que eles podem causar. Um breve parágrafo sobre a ecologia destes animais é apresentado.

O livro D apresenta de uma forma muito breve o conteúdo de entomologia, apontando as principais características sobre a morfologia e reprodução dos insetos.

O livro E, por se tratar de um mini manual compacto, aborda de forma breve o conteúdo de entomologia, porém de forma clara e objetiva. Um texto sobre a organizada sociedade das formigas é apresentado detalhadamente e comparado com a sociedade humana.

Segundo Vasconcelos e Souto (2003) no tópico “Insetos” deveriam ser trabalhados os seguintes conteúdos: princípios gerais de morfologia, fisiologia, comportamento, sistemática e ecologia de insetos, e as relações entre insetos, ambiente (incluindo aí outros seres vivos) e os seres humanos. Como analisado, esta regra não é seguida em todos os livros.

2. Pesquisa, Experimentação e Prática

Em nenhum dos livros analisados, no decorrer do texto, é estimulada a consulta e leitura de textos complementares, revistas especializadas e/ou livros paradidáticos. Apenas os exercícios de auto-avaliação, possivelmente, instigam o aluno a procurar informações além das apresentadas nos LD.

De acordo com Trevisan, Lattari e Canalle (1997) os livros didáticos devem demonstrar, além do rigor científico e atualidade nos conceitos, exercícios que privilegiem a oralidade, a leitura e a escrita; e ainda que estimulem a reflexão, a pesquisa e a criatividade.

          3.Ilustrações, Diagramas e Figuras

O conhecimento das ciências naturais costuma ser apresentado vinculado a imagens, visto que elas são importantes recursos para a comunicação de idéias científicas (MARTINS; GOUVÊA; PICCININI, 2005), por isso utilizá-las constitui parte fundamental nas práticas de ensino, pois há consenso entre vários autores sobre o fato das imagens desempenharem importante papel pedagógico no processo de ensino-aprendizagem (SILVA et al., 2006).

O livro A apresenta ilustrações que contribuem para a construção de conceitos cientificamente válidos, como os tipos de desenvolvimento em insetos (ametábolo, hemimetábolo e holometábolo). Entretanto, ilustrações de morfologia externa e interna não estão presentes. Em nenhuma das ilustrações é citada a fonte necessária ao crédito.

O livro B é o que possui o maior número de ilustrações apresentando uma diagramação que estimula a leitura e o estudo.

De acordo com Carneiro (1997), as imagens constituem um bom recurso que facilita a construção de conhecimentos, porém somente quando compreendida a relação entre o texto escrito e as figuras. Estão presentes no livro B ilustrações sobre morfologia interna, externa, reprodução e desenvolvimento. Há um quadro em que o autor representou algumas ordens de besouros (Ordem Coleoptera), porém um fede-fede (Ordem Hemiptera) está classificado incorretamente entre os Coleópteros, sendo representado também como um besouro (Fig. 1). Ainda na legenda sobre os besouros é contida a informação que o maior deles mede cerca de 10 cm de comprimento, o que é um equívoco pois o maior besouro na verdade mede 22 cm (Titanus gigantus) (FIOCRUZ, 2010). O livro B cita as fontes necessárias ao crédito em todas as imagens e ilustrações. E também são citadas as escalas nas figuras, contribuindo assim para a formação correta de conceitos e de padrões científicos.

O livro C apresenta ilustrações das morfologias externa e interna e da reprodução dos insetos. São apresentadas fotografias, ao contrário de ilustrações, das fases do ciclo de vida de uma borboleta, semelhante ao livro B que também apresenta fotografias do mesmo ciclo de vida (ciclo holometábolo). Assim como o livro B, o C cita as fontes necessárias ao crédito em todas as imagens e ilustrações.

Figura 1 – Fede-fede (Hemiptera) classificado incorretamente entre os coleópteros no livro B. Fonte: LAURENCE, 2005, p.415Diferente dos demais livros, o D faz uma representação dos diferentes tipos de aparelhos bucais encontrados em insetos (sugador, picador-sugador e mastigador). Além desta imagem apresenta, também, a morfologia externa e interna dos insetos de forma atrativa e bem representada. Assim como nos livros anteriores as questões do desenvolvimento (hemimetábolo e holometábolo) são representadas por imagens. Os créditos das imagens, como nos livros B e C, são citados.

O livro E apresenta apenas uma figura da morfologia externa dos insetos no decorrer de todo o capítulo. A qualidade desta imagem é baixa, pois trata-se de um desenho esquemático, pouco representativo e real, em preto e branco, prejudicando desta forma a ancoragem entre texto-imagem. Além do mais não cita os créditos referentes à fonte.

3. Proposta Pedagógica

Os livros A, B, C e D não apresentam uma proposta coerente que permita aos alunos fazerem relações com seu cotidiano, porém alguns textos de apoio e complementares procuram suplementar os capítulos, ainda assim, estão desconectados dos textos e das imagens efetivas do conteúdo de entomologia, apenas figurando como um coadjuvante na apresentação do assunto. Cabe ressaltar, que o livro E é o único que procura relacionar efetivamente o cotidiano à entomologia, mesmo que nos textos de apoio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou dados relativos a análise da entomologia em alguns livros didáticos de biologia.

Nota-se a preocupação dos autores em lançarem livros que satisfaçam todos os critérios de avaliação (Conteúdo; Pesquisa, Experimentação e Prática; Imagens; Diagramas e Figuras e Proposta Pedagógica), mesmo que alguns exemplares careçam de pelo menos um dos critérios. Espera-se, dessa forma, que os docentes sejam críticos em relação a escolha dos livros didáticos que usarão em suas salas de aula já que estes dispositivos educacionais contribuem na formação plena dos alunos enquanto cidadãos capazes de atuar e transformar o meio em que vivem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Educação. Guia de Livros Didáticos PNLD 2008. Brasília: Ministério da Educação, 2008.

BRUSCA, Richard; BRUSCA, Gary. Invertebrates. 2ª ed. Sunderland: Sinauer Associates, 2003. 936 p.

CASSIANO, Célia Cristina de Figueiredo. Aspectos políticos e econômicos da circulação do livro didático de História e suas implicações curriculares. História, v.23, n.1-2, p. 33-48, 2004.

CARNEIRO, Maria Helena da Silva. As Imagens no Livro Didático. In:  Atas do I Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências, 1997. p. 366-373.

CARNEIRO, M. H. S.; SANTOS, W. L. P.; MÓL, G. S. Livro Didático Inovador e Professores: Uma Tensão a Ser Vencida. ENSAIO – Pesquisa em Educação e Ciências, v. 7, n.2, p. 01-13, 2005.

FIOCRUZ – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/besouros.htm>Acesso em: 01 fev. 2012.

LABINAS, A. M.; CALIL, A. M. G. C.; AOYAMA, E. M. Experiências Concretas como Recurso para o Ensino Sobre Insetos. Revista Ciências Humanas, v.3, n.1, p. 96-103, 2010.

MARTINS, I.; GOUVÊA, G.; PICCININI, C. Aprendendo com Imagens. Ciência e Cultura, n.4, p. 38-40, 2005.

NÚÑEZ, Isauro Beltrán et al. A Seleção dos Livros Didáticos: Um Saber Necessário ao Professor. O Caso do Ensino de Ciências. Disponível em: <http://www.campus-oei.org/revistadeloslectores/427beltran.pdf>. 2003. Acesso em: 22 jan. 2012.

SILVA, H. C.; ZIMMERMANN, E.; CARNEIRO, M. H. S.; GASTAL, M. L.; CASSIANO, W. S. Cautela ao usar imagens em aulas de ciências. Ciência e Educação, n.2, p. 219-233, 2006.

SPIASSI, Ariani. Análise de Livros Didáticos de Ciências: Um Estudo de Caso. Revista Trama, v.4, n.7, p.45-54, 2008.

TREVISAN, R. H.; LATTARI, C. J. B.; CANALLE, J. B. G. Assessoria na Avaliação do Conteúdo de Astronomia nos Livros Didáticos de Ciências do Primeiro Grau. Cadernos Catarinense de Ensino de Física, v.14, n.3, p. 254-263, 1997.

VASCONCELOS, S. D.; SOUTO, E. O Livro Didático de Ciências no Ensino Fundamental – Proposta de Critérios para Análise do Conteúdo Zoológico. Ciência & Educação, v. 9, n.1, p.93-104, 2003.

¨* Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pelotas. Mestrando em Biotecnologia pela mesma universidade.

Contato Eletrônico: otaviomartinscruz@yahoo.com.br

** Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pelotas. Mestrando em Biologia Animal pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Contato Eletrônico: ricardo_siewert@yahoo.com.br

CRUZ, O; SIEWERT; R.R. A Entomologia em Livros Didáticos de Biologia. P@rtes.XXXX