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Brincar na Educação Infantil: Possibilidades e Desafios

 

Brincar na Educação Infantil: Possibilidades e Desafios

Maristela Guedes Silva*

Marta Maria Faria Ferreira**

Fernanda Duarte Araújo Silva***

Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir aspectos referentes ao brincar e sua importância na Educação Infantil. A brincadeira é uma linguagem natural da criança e deve fazer parte da rotina da Educação Infantil, dando oportunidade para que as crianças possam por meio de atividades lúdicas se expressar e estimular a espontaneidade das crianças. Concluímos que é importante ter conhecimento sobre o papel da educação e do educador infantil, para realizarmos um trabalho significativo com o brincar na escola.

Palavras-chave: Brincar, Currículo, Educação Infantil.

Abstract: This paper aims to discuss aspects related to the play and its importance in early childhood education. Play is a child’s natural language and should be part of the routine of early childhood education, providing an opportunity for children to play through activities that express and stimulate children’s spontaneity. According Angottti (2009) find that most of the time the teacher is not prepared to deal with the jokes at school and in the classroom. Conclude that it is important to have knowledge about the role of education and child educator for meaningful work with the school play.

Keywords: Play, Curriculum, Early Childhood Education.

INTRODUÇÃO 

O presente artigo tem como objetivo discutir aspectos referentes ao brincar e sua importância na Educação Infantil. Para embasar essa reflexão utilizaremos como aporte teórico os seguintes autores: Angotti (2009), Craidy (2011), Siller (1999), Kishimoto (2008), Corsino (2009) e Brougerè (2008).

Sabemos que muitas vezes, nas aulas de Educação Infantil as crianças  devem apenas realizar atividades xerocadas e mimeografadas, além disso os espaços físicos são pequenos para comportar as crianças. Nessa realidade, muitas vezes o brincar acontece somente às sextas-feiras, quando as crianças podem trazer os brinquedos de casa. Percebemos assim  que o brincar não tem sido compreendido nas instituições escolares como um valioso instrumento de desenvolvimento e aprendizagem. 

 

ALGUMAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS…

Para entendermos o contexto em discussão faz-se necessário esclarecer e afirmar os avanços alcançados nos últimos anos no que diz respeito aos direitos das crianças, assegurado pela Constituição de 1988, que dispõe em seu art.208, inciso IV: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de […] atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade.

Com isso podemos afirmar que deveria ser obrigação do estado em garantir educação para as crianças desde o nascimento, e com qualidade suficiente para garantir sua aprendizagem e sua integração neste espaço, de forma que atenda a cada sujeito na sua especificidade como mostra também a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96), ao enfatizar que a Educação Infantil, constitui-se  como  primeira etapa da Educação Básica e  tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Percebemos que mesmo com leis que garantem direitos às crianças ainda encontramos muitos desafios para a Educação Infantil.

Temos assim o desafio de planejar práticas pedagógicas para a Educação Infantil que busquem demonstrar a importância do brincar. Sabemos que essa modalidade de ensino deve constituir-se por meio de práticas que sejam planejadas e sistematizadas e que façam parte das propostas pedagógicas das instituições escolares. Nessa linha é necessário considerar as especificidades das diferentes faixas etárias e o que é singular de cada criança, incentivando seu desenvolvimento em todos os aspectos. Concordamos assim com Angotti (2009) quando afirma:

Olhar a Educação Infantil, enxergá-la em sua complexidade e sua singularidade significa buscar entendê-la em sua característica de formação de crianças entre 0 e os 6  anos de idade, constituindo espaços e tempos, procedimentos e instrumentos, atividades e jogos, experiências, vivências… em que o cuidar possa oferecer condições para que o educar possa acontecer e o educar possa prover condições de cuidado, respeitando a criança em suas inúmeras linguagens e no seu  vínculo estreito com a ludicidade       (ANGOTTI, 2009, p. 25).

Nessa perspectiva o currículo na Educação Infantil deve ser considerado como conjunto de experiências culturais onde se permita articular os saberes das experiências das crianças e os conhecimentos que fazem parte de suas culturas.

Sacristán (1999) propõe um currículo universalizador como componente cultural universalizado e linguagem universalizada de fato; “valores dados como válidos, universalmente, como meta na construção das sociedades e do indivíduo” e “um lugar para o específico, sem obsessão comunitarista” (SACRISTÁN, 1999, p.189). Assim o currículo deve contemplar as especificidades de identidade de cada indivíduo, reconhecendo as diversas identidades e promovendo diálogo e interação entre elas.

Dessa forma se a Educação Infantil deve  priorizar a criança enquanto  participante do seu próprio processo de formação temos no brincar  um importante aliado para que isso ocorra de forma  lúdica.

Sabemos que o brincar já acontece há muito tempo, em diversos lugares, espaços e de várias formas e que por meio da brincadeira podemos  propor à criança desafios e questões que a façam refletir, propor soluções e resolver problemas, sem deixar de proporcionar espaços para que usem a criatividade e  a imaginação para criar seu próprio mundo.

A brincadeira é uma linguagem natural da criança e deve fazer parte da rotina da Educação Infantil, dando oportunidade para que as crianças possam por meio de atividades lúdicas se expressar e estimular seu desenvolvimento em todos os aspectos: afetivo, cognitivo, psicomotor, entre outros.

Segundo Angottti (2009) percebemos que na maioria das vezes o professor não está preparado para lidar com as brincadeiras na escola e na sala de aula. Acreditamos que toda a equipe escolar precisa valorizar o brincar para aproveitar todas as oportunidades do cotidiano escolar. Para tanto, o professor deve organizar e criar espaços e tempos para as brincadeiras e os jogos na Educação Infantil. Organizar diferentes formas de brincadeiras, proporcionar e avaliar as dificuldades e facilidades que cada criança apresenta.

Normalmente, tem-se atribuído e exigido responsabilidades muito precoces às crianças, daí a necessidade de assumirmos que trabalhar com brincadeiras na escola deve ser uma postura constante que exige muita reflexão e dedicação por parte de todos os envolvidos no processo escolar. Segundo Negrine (1994), podemos destacar que:

As atividades lúdicas possibilitam fomentar a “resiliência”, pois permitem a formação do autoconceito positivo; as atividades lúdicas possibilitam o desenvolvimento integral da criança, já que através destas atividades a criança se desenvolve afetivamente, convive socialmente e opera mental-mente. O brinquedo e o jogo são produtos de cultura e seus usos permitem a inserção da criança na sociedade; brincar é uma necessidade básica assim como é a nutrição, a saúde, a habitação e a educação; brincar ajuda a criança no seu desenvolvimento físico, afetivo, intelectual e social, pois, através das atividades lúdicas, a criança forma conceitos, relaciona idéias, estabelece relações lógicas, desenvolve a expressão oral e corporal, reforça habilidades sociais, reduz a agressividade, integra-se na sociedade e constrói seu próprio conhecimento (NEGRINE, 1994, p.41).

Para Piaget (1971) ao brincar, a criança assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui. Assim sendo, o brinquedo não é atribuído ao que ele realmente é, mas ao que a criança quer que ele seja. Por exemplo: quando a criança usa um pedaço de madeira para representar um cavalo.

Kishimoto (1999) afirma que o  brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.

Percebemos assim que a brincadeira é uma ação que é apreendida pelas crianças, assim como outras ações da vida, e é um processo de relações interindividuais, sendo, portanto cultura, deixando-nos claro que é necessário disponibilizar tempo e espaço para que a mesma aconteça nas instituições escolares (KISHIMOTO, 2008).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendemos com este artigo discutir a importância do brincar no desenvolvimento da criança, no processo de ensino-aprendizagem e em sua construção social, cultural e humana. Compreendendo o objetivo do brincar como parte do processo de construção da criança, nota-se sua manifestação em diversas faixas etárias, sendo fundamental para a construção da identidade de cada ser humano, além de despertar o autoconhecimento das crianças e nortear o trabalho educativo.

Concluímos que é importante ter conhecimento sobre o papel da educação e do educador infantil, para realizarmos um trabalho significativo com o brincar na escola. Devemos também recuperar o conceito de infância que tem ficado perdido no tempo, pois o inserindo  num mundo de conhecimentos, teremos a  oportunidade de usufruir de tudo que está ao nosso redor,  sem deixar se perder a fantasia e a magia de ser criança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGOTTI, Maristela. Educação Infantil: para que, para quem e por quê. In: CORSINO, Patrícia. (org.). Educação Infantil: cotidiano e políticas. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. p. 15-32.

BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2008.

CORSINO, Patrícia. Trabalhando com projetos na educação infantil. . In: CORSINO, P. (org.). Educação Infantil: cotidiano e políticas. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. p. 105-121.

 CRAIDY, Carmen Maria. Educação Infantil e as novas definições da legislação. In: CRAIDY, Carmen Maria. Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 67-79.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. In: KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez,2008. (p.13-44).

NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Prodil, 1994.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Tradução de A. Cabral e C. M. Oiticica. Rio de Janeiro, Zahar, 1971.

SILLER, Roseli Rauta. A construção da subjetividade no cotidiano da educação infantil. Dissertação de mestrado. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, 1999.

 

*Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP-UFU). maristelawinny@hotmail.com

**Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP-UFU).

***Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Uberlândia, especialista em Docência no Ensino Superior e graduada em Pedagogia. Professora da Universidade Federal de Uberlândia, Campus do Pontal. fernandaduarte@pontal.ufu.br

 

 

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