O Natal no Palácio Avenida
Gilda E. Kluppel
Curitiba tem fama de cidade fria, não apenas pelo clima da capital, mas também em relação ao seu povo. O “homos curitibanos”, habitante desta bela, chuvosa e elegante cidade, facilmente conhecido pelo sotaque característico, a fala cantada, por não conversar com estranhos; sequer cumprimentar o vizinho e em nenhuma hipótese visitar alguém sem avisar pelo telefone. Visita inesperada pode ser considerada uma falta de educação grave. Exagero à parte, ainda é comum ouvir os relatos das pessoas de outras localidades e alguns embaraços com a cidade, devido à dificuldade em fazer amizade com os curitibanos.
Talvez por ser uma das capitais onde o céu teime em ficar nublado durante muitos dias durante o ano, as pessoas procuram se resguardar; com receio que as nuvens cinzentas perturbem a sua tranquilidade. Mas, toda essa suposta frieza se dispersa ao passar pelo centro da cidade no final de novembro. Precisamente na esquina da Travessa Oliveira Belo com a Avenida Luiz Xavier, ao cair a noite, deparamos com a multidão de pessoas olhando para o alto. Num deslumbramento inigualável, entre tantos olhos marejados pela emoção que o belo visual desperta. Centenas de flashes e filmagens na tentativa de guardar a emoção para ser revivida em outras datas do ano.
Diante da ânsia pelas compras e toda a correria advinda da época natalina, nesta esquina, no centro da cidade, encontramos um refúgio do consumismo desenfreado que ocorre neste período. As tradicionais apresentações do Palácio Avenida trazem um sopro de alegria aos transeuntes e ao público cativo. Impossível ficar indiferente e não sentir um arrepio na pele ao assistir o espetáculo realizado anualmente. Sempre contando com novidades, diferentes temas e propiciando momentos de interação com o público. As crianças emolduradas na janela do imponente e belo prédio, uma edificação histórica datada de 1929; marco da cidade, um dos primeiros edifícios abrigando residências e escritórios.
São tantas inovações nas decorações natalinas que apareceram pelas ruas, shoppings, casas, entre Papais Noéis em movimento e efeitos de luzes. Contudo, não sentimos o calor humano, algo que não falta às apresentações do Palácio Avenida. Recordo das primeiras exibições na década de 90, em que o público ainda não era gigantesco. O espetáculo continua cativando e emocionando da mesma forma, desde a sua singela estreia. O ponto alto continua pertencendo às crianças, capazes de cantar com a afinação de passarinhos, renovando a esperança que apenas os olhos ingênuos conseguem transmitir. Apesar de crianças, na faixa de idade entre sete e doze anos, não descuidam da parte profissional, especialmente apurada. É gratificante saber que estes meninos e meninas são oriundos de algumas instituições beneficentes de Curitiba e da região metropolitana. Este espetáculo é proporcionado por um coral de crianças carentes, com todas as suas dificuldades, nos ajudam a lembrar o real espírito do Natal, a solidariedade.
Enquanto muitos estão preocupados em apresentar uma mesa farta e comprar uma pilha de presentes para o Natal, as crianças do Palácio Avenida mostram que existe algo mais belo para apreciarmos. E este mais belo não poderia ser melhor demonstrado através da música e do canto, um verdadeiro alívio para a alma.