(Autor: Antonio Brás Constante)
– É um assalto!
– Como?
– Eu disse que é um assalto!
– Mas, nem revolver você tem…
– É que sou contra a violência. O desemprego me obrigou a partir para o mundo do crime, mas procuro fazer isso de forma pacífica.
– Olha. Não me leva a mal, mas o que faz você pensar que eu vou aceitar ser assaltado por alguém que não usa armas e não gosta de violência?
– Justamente para evitar mais violência desnecessária. Se você não colaborar comigo e chamar a polícia, vou acabar preso. A prisão vai servir de escola para me transformar em uma pessoa pior. Quando sair de lá provavelmente vou passar a ser violento e agressivo em meus assaltos. Você não quer isso quer?
– Sei…
– Sem falar que se eu fosse praticante da violência, ao invés de estarmos dialogando calmamente como agora, você estaria com uma arma apontada para sua cabeça, sendo agredido, humilhado, quem sabe até mesmo morto. Se tivesse problemas cardíacos poderia ter um ataque ou algo parecido…
– E você acha que alguém em juízo perfeito vai dar dinheiro para um ladrão somente baseado nesses argumentos?
– Claro. Pense bem. Se todos os assaltantes agissem assim, não haveria tantas mortes, violência, famílias que perdem seus maridos, filhos, irmãos entre outrosem assaltos. As verbas contra a violência poderiam ser destinadas para outros fins como a geração de empregos, diminuindo assim o índice de assaltos até finalmente acabar com eles de vez.
– Ok. Toma este dinheiro aqui…
– Uau! Tudo isto? Como você é generoso…
– Generoso nada. Pega este dinheiro e vai comprar uma arma. Sou um homem da lei. Se essa moda que você está pregando der certo vou acabar sem emprego. Por isso escuta bem, se eu te pegar tentando dar uma de assaltante bonzinho novamente, te prendo e cubro de porrada. Agora some daqui.