Margarete Hülsendeger
publicado em 02/09/2011
O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança.
Gabriel Garcia Márquez
Parece brincadeira, mas não é. Ela tem nome e já chegou ao Brasil. Estou falando da Pheromone Bracelet Erotic Stimulant Attractant, uma pulseira feita de silicone com “feromônios 100% infundidos”. Segundo os fabricantes, o seu uso ativaria uma reação das glândulas que produzem o suor, o que permitiria a liberação do feromônio, substância química responsável pelo “atrativo sexual natural”.
A ideia do produto é que o seu uso estimularia o desejo sexual entre os seres humanos. Em outras palavras, a falta de “tesão”, um problema sério entre muitos casais, estaria resolvido. Bastaria colocar a pulseira no pulso da amada e/ou do amado para que a vontade de fazer sexo acontecesse espontânea e rapidamente. Maravilha! Como é que ninguém tinha pensado nisso antes, é o que eu me pergunto.
E a ciência, o que diz a respeito disso? Até o momento – para infelicidade dos fabricantes – não há nenhuma comprovação científica da eficácia desse tipo de produto. Então, como ficamos? Valerá a pena investir em semelhante artefato ou, quem sabe, devêssemos continuar investindo nas velhas técnicas de sedução?
Para aqueles que buscam soluções rápidas e milagrosas a pulseira é, com certeza, o caminho. No entanto, para os que, como eu, creem que as relações humanas são construídas com tempo e com muito investimento pessoal, essa pulseira é uma tremenda enganação.
Felizmente – ou infelizmente, dependendo do ponto de vista –, eu ainda sou daquelas que acredita que o desejo sexual tem a ver com uma química que não se obtém usando pulseiras, anéis, colares ou sei lá mais o quê que possam querer inventar. É uma questão que tem mais a ver com um jeito diferente de olhar, de tocar, de falar; em resumo, de sentir o outro de uma maneira especial e única. Muitas vezes, essa química ocorre naturalmente, quase sem esforço, sobretudo quando se está no início de um relacionamento, momento no qual a “tesão” é uma constante. A dificuldade, no entanto, está em manter essas “reações químicas” ativas quando a relação se prolonga por meses ou anos.
Apaixonar-se até que é uma tarefa fácil, mas manter-se e manter o outro apaixonado, essa sim é uma missão difícil. Para que ela tenha a mínima chance de êxito é preciso que os dois tenham a disposição necessária para construir um relacionamento no qual a rotina não tome conte dele e, consequentemente, dite as regras do jogo. Qualquer relação que queira durar deve ter em vista não só o sexo, mas também o respeito pela individualidade e o desejo de fazer o outro feliz.
O problema é que, atualmente, as pessoas parecem não querer desperdiçar muita energia na manutenção de um relacionamento. Tudo se resume no aqui e agora, e quanto mais rápido uma situação evoluir, melhor. Daí a opção por métodos alternativos e fora do comum. As pessoas têm pressa e é essa pressa o fator determinante das suas ações e dos seus desejos.
De qualquer maneira, talvez o objetivo de quem venha a comprar essa pulseira não seja o amor ou um relacionamento duradouro. Particularmente, eu não vejo problema algum nessa opção de vida, cada um sabe do que precisa para encontrar a felicidade. No entanto, é importante entender que nem mesmo em uma relação fortuita teremos sucesso sem um mínimo de investimento. Uma pulseira pode até dar o impulso inicial, mas depois cada um terá que seguir em frente utilizando seus próprios recursos. Aí só mesmo a criatividade para manter o “fogo da paixão” acesso.
De minha parte, só posso reiterar minha total descrença nesse tipo de produto. Além disso, preciso me confessar uma romântica. Acredito que o amor sempre dá os meios para seduzir a pessoa amada. Acredito que o sexo é apenas uma consequência natural de estarmos ligados a alguém. Enfim, prefiro pensar em termos de “fazer amor”, pois como disse Mario Quintana, quando estamos fazendo amor, estamos dando corda ao relógio do mundo.