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ENSINO DO GÊNERO ORAL NA ESCOLA: A PRÁTICA DO SEMINÁRIO

ENSINO DO GÊNERO ORAL NA ESCOLA: A PRÁTICA DO SEMINÁRIO

Leandro Freitas Menezes[*]

Resumo: Os gêneros textuais são importantes por ser o meio pelos qual se comunica. Observa-se nesse sentido, entretanto, que os gêneros orais são mais usados na vida cotidiana e os escritos menos ensinados nas escolas, especialmente os formais como o seminário, que têm uma grande utilidade e não são dominados com perfeição pelos alunos. Dessa forma, apresenta-se o seminário para ser trabalhado em uma proposta de sequência didática visando o aprimoramento dos educandos.

Palavras chave: Gêneros textuais, linguagem, seminário, sequência didática.

Abstract: The textual types are important because of being the way for which communicates. It is noticed in this sense, meantime, that the oral types are more worn-out in the daily life and the written ones least taught in the schools, specially you form them like the seminar, which they have a great usefulness and are not dominated by perfection by the pupils. In this form, the seminar shows up to be worked in a proposal of educational sequence aiming at the aprimoramento of the educandos.

Key wolrds: Textual types; language; seminar; educational sequence.

1.  Introdução

O objetivo de se ensinar a língua materna é de que o educando aprenda a se comunicar eficientemente. Nesse sentido, o aprendizado dos gêneros textuais, tanto escritos como orais, se torna importante, porque é por meio deles que se comunica e segundo Bakhtin (1992) “sem os gêneros textuais seria impossível a comunicação”. Por isso, deve-se dar aos alunos mais possibilidades de ler, de escrever textos, de se expressar, de aprender gramática e ortografia de forma mais dinâmica em função da comunicação.

Porém, o que se observa nas escolas é que a ênfase nos estudos dos gêneros textuais é maior para os gêneros escritos até por serem mais utilizados na vida diária. A motivação para esta pesquisa reside no fato de que os gêneros orais são muito pouco utilizados no ensino de Língua Portuguesa nas escolas de Ensino Fundamental, e os professores de linha mais tradicional geralmente não aplicam esta atividade. Comete-se, com essa atitude, um grave erro em pensar que os gêneros orais se reduzem apenas ao cotidiano, às conversas informais (NOVA ESCOLA, 2008). Ao contrário existem muitos gêneros formais que precisam ser estimulados nos alunos e não o são. Uma razão para isso seria o pouco planejamento e desenvolvimento de atividades voltadas para o ensino dos inúmeros gêneros orais, assim como se desenvolve para os gêneros escritos. No caso, o professor seria o orientador e o mediador que debateria os assuntos e ajudaria o aluno na confecção do trabalho até a apresentação.

Nessa perspectiva, este artigo tem a pretensão de mostrar como apresentar ao educando um gênero oral, neste caso o seminário, uma vez que este é um gênero de uso mais formal, exigindo que se tenha uma série de conhecimentos para sua utilização, que vai desde a preparação do material escrito e do áudio-visual, do uso correto das palavras, da postura corporal, de gestos, até a apresentação de fato. Isso é de pouco domínio deles, por isso esse assunto será tratado de forma sistemática com a apresentação de pressupostos teóricos que terão o objetivo de esclarecer o conceito de gênero oral, e em seguida, apresentar uma proposta didática de ensino desse gênero formal.

2. Pressupostos Teóricos

A linguagem engloba todos os campos da atividade humana e é empregada por meio de enunciados que refletem as condições específicas e as finalidades de cada momento situacional (BAKHTIN, 1992). Em consequencia dessa situação ou dessa emergência comunicativa descrita pelo autor, surge a necessidade de se utilizar um meio ou um intermédio que torne a comunicação eficiente. Por conseguinte, se os gêneros não existissem seria impossível a comunicação, uma vez que eles são a condição para esse processo. Dessa forma, é para esse fim, Bakhtin elege os gêneros do discurso como instrumentos que estão à disposição do usuário da língua, funcionando como se fossem modelos fixos, embora não o sejam.  Comungando com esse mesmo pensamento, Marcuschi afirma que os gêneros textuais são fenômenos históricos ligados à vida cultural e social dos sujeitos e, por isso, são considerados como eventos textuais “altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos” (MARCUSCHI 2008, p.19) e, portanto, criativos.

Os gêneros podem ser tanto escritos como orais e são em grande diversidade. Por esse motivo, falam-se deles inclusive utilizando a metáfora de “constelação” dada sua abrangência de acordo com os eventos sociais. Por exemplo, pode-se listar: o diálogo cotidiano, o relato do dia-a-dia, a carta, o bilhete, e-mail, receita de bolo, textos publicitários etc. Além disso, eles podem ainda se interpenetrarem formando outros gêneros.

Os estudos da natureza do enunciado e da diversidade de formas de gênero dos enunciados nas diversas situações de comunicação é de grande importância, pois em toda a análise da linguagem utilizam-se enunciados concretos (escritos e orais) que estão relacionados com essas diversas situações do cotidiano. Sobre essa necessidade dos estudos dos gêneros que Bakhtin (1992) salienta que eles integram a língua por meio dos enunciados concretos, e é por meio deles que a vida entre na língua. Além disso, o autor acrescenta algo em colaboração com ensino dos gêneros quando diz que são assimilados pelos usuários da língua no aprendizado da própria língua, ou seja, na interação comunicativa.

Percebe-se que o Ensino Fundamental carece de um suporte maior no que diz respeito à utilização dos gêneros textuais, pois os alunos estão vindo de um processo de alfabetização e, por isso, contam com pouco conhecimento de mundo. Para agravar essa situação, nas salas encontram-se alunos completamente desinteressados pela leitura e pelas aulas e, além disso, muitos dos tais desconsideram a Língua Portuguesa, porque os conteúdos não são transmitidos de forma prática e não reproduzem situações comunicativas. De forma que esses métodos não cumprem uma função social e nem demonstram uma ação social existente nos uso dos gêneros textuais. Ao contrário, as matérias são ministradas de maneira formal e sem uma função específica. Isso sem dúvida tem sido uma das causas de tanto fracasso escolar e de tanta repetência. Entende-se desse modo que para o aluno aprender a ler e a escrever ele precisa ter o conhecimento da língua em sua forma de uso. E é exatamente neste sentido que Bakhtin (1992) apresenta os gêneros textuais como um instrumento importante para a aprendizagem da interação comunicativa.

Após o destaque da importância que os gêneros textuais exercem na vida cotidiana e para a aprendizagem da própria língua, quais tipos de gêneros textuais estão mais em evidência no ensino da Língua Portuguesa? Marcuschi após apresentar uma diversidade de gêneros escritos e orais, diz: “deve ter ficado claro que há mais gêneros na escrita do que na fala […] explicável pela diversidade das ações linguísticas que praticamos no dia-a-dia na modalidade escrita” (MARCUSCHI 2008, p. 207). As palavras do autor de antemão responde a incógnita inicial, ou seja, se os gêneros textuais escritos são mais utilizados é possível se afirmar que na escola também sem os mais ensinados. Dessa forma, embora a declaração de Marcuschi coloque mais em evidência os gêneros escritos, os orais também têm seu lugar de uso e sua importância. Com isso, assinalar sua a importância no ensino dos gêneros textuais nas escolas, pois são o meio pelo qual interagem-se em muitas situações escolares.

Sobre o tratamento que os PCN’s atribuem ao ensino dos gêneros textuais orais, Marcuschi (2008) declara que embora admitam sua importância, não existe nele definição precisa de quais gêneros são mais adequados para o ensino. O autor diz ainda que os gêneros centrais e básicos analisados pelos PCN’s são sempre os mesmos e poucos são tratados de forma sistemática. No caso dos gêneros orais, ainda não são tratados de forma sistemática. Talvez seja por esse motivo também que circule uma ideologia social, apresentada na Revista Nova Escola (2008, p. 62), de que o papel da escola não é ensinar a falar, transferindo essa responsabilidade à família, reduzindo assim, o papel da oralidade ao cotidiano que é representado pelos bate-papos e conversas. Porém, esquecem-se que existem muitos gêneros orais formais como entrevistas, debates, exposições etc. que são importantes para o aprendizado do aluno.

Diante do exposto acima, agora se pode discutir: por que se deve ampliar a noção dos gêneros orais na escola? Sobre isso, Goulart apresenta uma resposta dizendo:

É válido ressaltar que, ao se adotar uma perspectiva de trabalho com a modalidade oral da linguagem, com vistas a formar alunos para o exercício da cidadania, estar-se-ia contemplando a diversidade de situações comunicativas e, assim, os gêneros orais seriam tomados como instrumentos semióticos para o ensino (GOULART 2005, p. 58).

A autora ainda aponta três princípios fundamentais para o ensino do gênero oral nas escolas:

• possibilitar aos alunos atividades que os insiram em situações comunicativas as mais diversas como meio de conhecimento e domínio cada vez maior da língua;

• confrontar os alunos com situações de uso público da língua, com vistas ao desenvolvimento de uma relação mais consciente e voluntária do próprio comportamento lingüístico-comunicativo, a fim de motivar as capacidades de escrever e de falar;

• conscientizar os alunos de que o trabalho de produção de linguagem deve se dar  por meio da inserção deles em situações cada vez mais complexas e, por isso, é um trabalho lento e em constante elaboração.

Assim, é dever da escola ensinar o aluno a usar esses gêneros nas diversas situações necessárias. E, embora os gêneros orais formais sejam próximo da escrita formal, ensiná-los não equivaleria ao ensino da gramática normativa, como poderia pensar alguns educadores, mas de modular algumas formas de utilização da fala em público para que o aluno se sinta desinibido e, além disso, com a aproximação do oral e do escrito poder-se-ia elaborar outros tipos de gêneros híbridos (ROJO apud SCHNEUWLY; DOLZ 2004).  É preciso salientar que em meio a esta diversidade de gêneros orais, elegeu-se o seminário como objeto de estudo, porque é um gênero que se poderia trabalhar a fala em situações formais, e, além disso, poderia se ensinar também a produzir conhecimento.

3. Proposta de ensino: A sequência didática.

Nessa perspectiva, insere-se a proposta das sequências didáticas como forma de aperfeiçoamento dos educandos em um gênero que seja pouco dominado por eles. Nesse sentido, a sequência didática pode ser definida como um conjunto de atividades em que o gênero textual oral pode ser desmembrado e estudado gradativamente para tornar mais fácil a compreensão dos educandos, permitindo assim, que eles assimilem e tenham a capacidades de usá-lo de forma adequada. Segue abaixo uma proposta semelhante à utilizada por Goulart (1995) de quem poda-se extrair em termos teóricos, a afirmação de que

[…] ao analisar o desempenho dos seminários, antes e depois da intervenção didática realizada, foi possível confirmar a suposição de que a exposição oral é um gênero que os alunos não dominam, porque é um gênero vinculado às instâncias públicas de produção de linguagem e, por esse motivo, deve ser ensinado por meio de estratégias didáticas, e o seminário como sendo uma atividade escolar estruturada basicamente por esse gênero que também deve ser objeto de ensino (GOULART, 1995, p. 189-190).

Após a aplicação das sequências didáticas Goulart (1995) pode conclui que

[…] as intervenções didáticas realizadas, comprovou-se que os alunos conseguiram apropriar-se, ainda de forma muito tímida, daquilo que, com base em Bakhtin, pode-se definir como as três dimensões básicas que constituem a identidade de um gênero que são: (i) a estrutura composicional (na medida em que os alunos conseguiram, minimamente, organizar o discurso e causar uma atitude responsiva ativa na platéia); (ii) o conteúdo temático (porque eles tomaram decisões importantes em relação à reconfiguração tanto da estrutura do seminário quanto dos conteúdos que nele seriam abordados) e (iii) o estilo (que são os meios lingüísticos, verbais, não-verbais e supra-segmentais que operaram o modo como os alunos organizaram seus discursos) (GOULART, 1995, p. 190).

               De acordo com os comentários da autora a sequência didática referente ao seminário pode ser apresentada como no quadro abaixo:

  Apresentação do tema.  . Incentivo a produção;   . Fazer com que a atividade faça sentido.  1. Apresentação de uma apresentação oral;   2. Discussão sobre o assunto.  Vídeo de uma exposição oral.  Aula de 50 min.
  Preparação para a apresentação.  . Preparação da 1ª exposição do seminário.  1. Separação dos devidos grupos; 2. Preparação do material expositivo.  Datashow, projetor ou cartazes. 
  1ª apresentação  . Observar o desempenho do aluno quanto: . uso da fala em situações formais; . utilização dos recursos de voz e não verbais; . organização de fala de acordo com a estrutura de uma exposição oral; . Ao ouvir e responder eventuais perguntas do público.      1. Apresentação pode feita por um representante do grupo ou por outros integrantes.  Datashow, projetor ou cartazes.  Aula de 50 min
      1ª Oficina  Levar os alunos a uma reflexão sobre a 1ª exposição que consistirá em: . observar as principais dificuldade.    1. Estimular um debate a respeito da utilização da voz e da postura corporal; 2.  fazer uma explicação de como esses elementos transmitem intenções e que as palavras sozinhas não são capazes.  Material da 1ª apresentação  Aula de 50 min
  2ª Oficina  . Discutir o planejamento do texto oral.  1. Apresentar à turma os marcadores de estruturação, palavras e expressões que vão dar seqüência a exposição: “Em primeiro lugar”; “Em seguda”; “depois”; “então”; “portanto” etc.   2. Chamar a atenção para o uso dos tempos verbais no futuro para a apresentação no plano da exposição: “Falarei primeiro”; “Farei agora” etc.  Material da 1ª apresentação   Material elaborado pelo professor.  Aula de 50 min
  3ª Oficina  . Debater a estruturação externa da exposição oral.  1. Demonstrar expressões para introduzir assuntos, dar seqüência e finalizá-los, tais como: “vou tentar explicar”; “o assunto da minha explicação será”.   2. Para o desenvolvimento: “agora vou passar a falar de”; “passarei a outro aspecto”.   3. Para conclusão: “gostaria de resumir alguns pontos”; “para concluir”.    Material da 1ª apresentação   Material elaborado pelo professor.  Aula de 50 min
  4ª Oficina        . Ensinar o manuseio de recursos áudio-visuais  1. Explicar que cartazes, slide, apresentações em computador possibilitam sistematizar o conteúdo e facilitam o entendimento da platéia.  Material elaborado pelo professor.  Aula de 50 min
Apresentação de um último seminário. Solicitar aos alunos a apresentação de um novo seminário a fim de avaliar a fixação do conteúdo apresentado; . A platéia deve ser também avaliada.1. Apresentação pode feita por um representante do grupo ou por outros integrantes.Material elaborado no decorrer das oficinas.Aula de 50 min

4. Considerações Finais

Retomando o que foi dito anteriormente, o que motivou este estudo foi a preocupação com o pouco espaço dedicado ao trabalho com a exposição oral em seminários, na escola, e pela observação de que não havia qualquer tipo de sistematização de conhecimentos que levassem os alunos ao desenvolvimento das competências linguística, textual e comunicativa em relação a esse gênero.

Antes, porém, foi necessário mostrar os pressupostos teóricos de alguns estudiosos sobre os gêneros textuais, tais como, Bakhtin (1992), de Marcuschi (2002) que apresentou uma visão entre os gêneros orais e escritos e, além disso, mostrou o que os PCN’s dizem a esse respeito. E Goulart (1995) que apresentou quais os objetivos, os princípios e benefícios em se aplicar o ensino do gênero oral nas escolas.

Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, realizou-se um comentário mostrando a importância do trabalho com a exposição oral e a necessidade de transformá-lo na sala de aula, porque o trabalho oral faz uma ponte entre a escrita e a leitura. Porém, a grande importância é comentada por Goulart (2005) quando mostra em sua pesquisa que o trabalho de uma intervenção didática com vistas a favorecer o ensino do seminário é válido. Pois, em seu trabalho, a autora a autora vivenciou isso na prática ao acompanhar o desempenho dos educandos antes e depois da aplicação da sequência didática.

Portanto, não foi somente o intuito, deste artigo, apresentar que os gêneros orais necessitam ser aplicados na escola, mas também que o gênero exposição oral é um instrumento importante e necessário nela, porque funciona como um mediador fundamental no desenvolvimento de habilidades diversas em contextos formais dentro e fora da escola.

Referências

A falta do que se ensina. Revista nova escola, São Paulo, ano 23, n. 215, set. 2008.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In:______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 277-326.

GOULART, Cláudia. As Práticas orais na escola: o seminário como objeto de ensino. 2005. 206 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, SP.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

ROJO, Roxane. Apresentação: gêneros orais escritos como objetivo de ensino: modo de pensar, modo de fazer. In.: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim et all. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de letras, 2004.

Esse artigo deve ser citado no seguinte formato:

MENEZES, L. F. Ensino do gênero oral na escola: a prática do seminário. Revista virtual Partes. Cidade, v. 00, n. 00, p. 00, maio/ago. 2011. Disponível em: (site). Acesso em 4 de maio de 2011.


[*] Leandro Freitas Menezes é Licenciado em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Espírito Santo. Emails: leandrofm.icm@hotmail.com / leandrofreitasmenezes@yahoo.com.br  / Tel.: 3721-7003   Cel.: 8844-5147

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