AUTO-AJUDA AJUDA?
Margarete Hülsendeger
Publicado originalmente em 2 de ago de 2011 como www.partes.com.br/cronicas/mhulsendeger/autoajuda.asp
Quando questionada, em entrevista para um jornal, sobre se o filme O Segredo teria uma influência positiva sobre as pessoas, uma psiquiatra respondeu dizendo que esse tipo de filme (e também o livro) era, sim, uma influência bastante saudável, porque orientava a pensar positivamente, aumentava o entusiasmo e a motivação para vencer as dificuldades. No entanto, ao final da entrevista, ela não pôde deixar de alertar para os riscos da fanatização. Segundo a psiquiatra, é muito perigoso fugir do cientificamente comprovado, principalmente quando o assunto é a nossa saúde.
Em relação aos livros de auto-ajuda – e agora aos filmes – com certeza as opiniões se dividem. Sempre haverá aqueles que acreditarão na eficácia desse tipo de leitura, vendo nela um caminho alternativo para se conquistar o equilíbrio e a harmonia interior, enquanto outros a considerarão apenas uma forma muito esperta de ganhar dinheiro em cima do sofrimento alheio. De minha parte, acredito que os dois grupos estão certos de alguma maneira.
Eu mesma já li vários livros de auto-ajuda e não tenho vergonha de admitir que encontrei em muitos deles a orientação que precisava para superar alguns momentos difíceis da minha vida. Posso, inclusive, dizer que houve uma ocasião que, se não fosse por um certo livro de auto-ajuda*, teria com certeza adoecido.
Quando estamos cercados de problemas nos tornamos, na maioria das vezes, surdos aos conselhos de pessoas que nos são próximas. No entanto, ao nos depararmos com as palavras escritas por alguém que não nos conhece e que muitas vezes vive uma vida diferente da nossa, reconhecemos nelas as verdades de que tanto necessitamos. Assim, as mensagens de esperança de muitos desses livros tornam-se aquela luz que precisamos para conseguir enxergar com maior clareza o que se passa à nossa volta.
Contudo, a desconfiança em relação a esse tipo de leitura também procede. Nesse campo também há, como em todas as áreas da vida, pessoas que se comprazem em obter ganhos em cima da dor do outro. Da mesma forma, vamos encontrar charlatães que dizem o óbvio e usam e abusam de clichês para enganar os inocentes. Assim como ouvimos todos os dias palavras vazias e sem imaginação, também nesses e em tantos outros livros (não necessariamente de auto-ajuda) iremos nos deparar com conteúdos que pouco nos acrescentam ou motivam. Não pretendo citar nomes, mas posso dizer que ao longo de minhas leituras me deparei com livros dessa espécie inúmeras vezes.
É possível, então, perceber o quanto o tema auto-ajuda é polêmico. Há os que amam e há, com certeza, os que odeiam. Contudo, é possível escolher um caminho intermediário. Nele teremos de avaliar, analisar e criticar, selecionando aquilo que, realmente, vale a pena ler (sendo livros) e ver (se forem filmes).
A força do pensamento positivo é reconhecida pela ciência; no entanto, abandonar métodos que essa mesma ciência comprovou e aprovou porque alguém lhe disse para fazê-lo é algo que deve ser avaliado com muita calma e prudência. A decisão final sempre é nossa e ela deve ser embasada em argumentos sólidos que não nos deixem à mercê de pessoas que pouco ou nada sabem de nós ou dos nossos problemas. Portanto, ratifico o conselho da psiquiatra quando recomenda cautela. É preciso evitar a todo custo a adesão cega a ideias que não foram devidamente testadas. Leia, assista filmes, permita-se ser motivado por eles, mas não abra mão do seu espírito crítico e apenas escolha aquilo que for comprovadamente melhor para você.