Crônicas Margarete Hülsendeger

Quando menos é mais

Margarete Hülsendeger

publicado em 06/07/2011

 

 

pessimista é uma pessoa que, podendo escolher entre dois males, prefere ambos.

Oscar Wilde

Margarete Hülsendeger é Física e Mestre em Educação em Ciências e Matemática/PUCRS. É mestra e doutoranda em Teoria Literária na PUC-RS. margacenteno@gmail.com

Todo mundo conhece alguém que, sem ao menos perceber, traz consigo uma nuvem preta sobre a cabeça ou carrega um urubu negro pousado sobre os ombros. São pessoas às quais temos medo de fazer até mesmo aquela pergunta educada, “Como você está?”, tal é a carga negativa que as envolve.

Para indivíduos com esse perfil não existem dias bons, pois tudo sempre está a ponto de degringolar em alguma espécie de catástrofe que só eles são capazes de perceber. Sua empatia com os problemas alheios é mínima, uma vez que as suas dificuldades e atribulações são invariavelmente as piores e as mais difíceis de suportar. Todos os desafios são provas insuperáveis e os fracassos são uma consequência natural da sua pouca sorte.

Até agora se acreditava que o pessimismo fosse um problema e um desconforto apenas para os outros, no entanto, pesquisa realizada pela Universidade de Oxford, da Grã-Bretanha, esclareceu que, na verdade, esse comportamento é extremamente nocivo também para quem o vive. Assim, em um dos experimentos, bastou insinuar aos voluntários que uma determinada situação poderia piorar para que os seus níveis de estresse e ansiedade subissem vertiginosamente. A ideia do pior tornou-se tão aterrorizante que ela deixou de ser apenas uma ideia, transformando-se em algo concreto e factível. Essa pesquisa comprovou algo que há muito tempo já se sabia: o pensamento negativo pode influenciar no estado de espírito de uma pessoa e, consequentemente, na sua saúde.

Em geral, quando acreditamos que algo não vai dar certo, isso faz com que o cérebro libere substâncias – cortisol e adrenalina – que têm como função fazer frente a essas dificuldades. O problema é que o pessimista vive essa mesma situação de forma praticamente ininterrupta. Logo, seu organismo está sempre recebendo doses maciças desses hormônios impedindo que ele veja os obstáculos naturais do dia-a-dia de forma mais positiva e até construtiva. A ideia é a de um corpo que está sempre se preparando para a guerra e para o que de pior pode dela advir.

Quando refletimos sobre as condições psicológicas nas quais vivem os pessimistas compulsivos, podemos entender o quanto é difícil para eles enxergar o lado bom da vida. O mundo assume cores que vão do cinza até o negro absoluto e, no final, a tendência é tudo dar realmente errado. Todos nós passamos por momentos de pessimismo, mas imaginem viver o tempo todo dessa forma?

No entanto, com algum esforço é possível programar o cérebro para evitar esse tipo de armadilha. É claro que os pessimistas crônicos terão de ter uma disciplina mental mais rigorosa a fim de evitar que pensamentos negativos dominem a mente e pautem as suas ações. É preciso redirecionar esses pensamentos, sempre lembrando tudo o que de bom já se realizou e que toda a vitória é uma conquista a ser festejada.

De qualquer maneira, esse lembrete não serve apenas para os pessimistas, uma vez que todos nós passamos por períodos nos quais nos deixamos abater. Nessas horas é importante seguir a mesma receita, pensar que mesmo nas situações mais difíceis é possível encontrar uma saída, uma solução que nos favoreça. Quanto menos pensamentos negativos forem alimentados, mais confiantes iremos nos sentir. Quanto menos atenção dermos ao que pode dar errado na vida, mais facilmente superaremos as dificuldades. Enfim, não acredito no otimismo irresponsável, mas também não vejo vantagem alguma em acalentar pensamentos que só me trarão tristeza, ansiedade e sofrimento. Portanto, acredite quando digo que na maior parte do tempo o verdadeiro inferno não são os outros, mas nós mesmos.

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