Apoema, o conquistador e seu fim


Pedro Coimbra
                Nem mesmo seu nome, Apoema, as pessoas sabiam se havia recebido na pia batismal ou era mera invenção. Jairinho G., o melhor contador de “causos” da corruptela de Vai-quem-pode dizia que o conhecera quando era um faz de tudo nas fazendas e casas do arraia. Jurava então, pela Santa Virgem, que naquele tempo há muito passado, ele se chamava Antônio Serapião.
                A lenda contava que um dia tivera uma visão da Santa Virgem, em pleno Sol do meio dia e ela o encarregara de uma grande missão na terra, de arrebanhar homens, mulheres e crianças para uma nova vida.
                Jairinho G. finalizava sua história dizendo que na verdade Antônio Serapião, levou um tombaço na entrada da Gruta do Cachorro Doido e quando levou do chão, a testa sangrando, já era Apoema, que significa aquele que vê mais longe.
                Arranjou uma espécie de túnica branca e com uma imagem da Santa Virgem debaixo do braço começou a pregar por seca e Meca, dizendo que era um enviado para arrebanhar o povo de Deus e encaminhá-lo no propósito do bem.
                Em uma terra que tomou posse, Apoema, que era um excelente pedreiro, começou a erguer uma grandiosa construção. Aos que lhe perguntavam o que era aquilo, dizia ser o Castelo do Reino Encantado.
                – E sabem vocês quem era o Rei daquele lugar? – perguntava Jairinho G. aos que ouviam E respondia com um sorriso no canto da boca: Apoema, Primeiro e Único.
                Apoema interpretava ao seu modo as poucas linhas que se lembrava das Escrituras Sagradas. Nas suas andanças aumentava seus acólitos que o procuram a pé, a cavalo ou em carros de boi, vindos de lugares longínquos, muito além da Serra do Carrapato.
                Na região havia poucos religiosos e ele que não concordava com nenhum deles acabou por expulsar padres e freis, passando as igrejinhas e capelinhas a fazerem parte do seu Reino Encantado.
                Não satisfeito, Apoema, que já possuía muito poder e muitos acompanhantes, se voltou contra o poder temporal, colocando-se contra os representantes legislativos, executivos e judiciário do local. Por tal feito acabou tendo que enfrentar os milicos enviados. Venceu-os em sucessivas batalhas, as quais ele mesmo dava suas denominações, como a da “Luta contra os demônios”.
                As autoridades da capital acabaram por achar de melhor alvitre não gastar pólvora com aquele visionário perdido no fim do mundo e o esqueceram. Rei Apoema mudou o nome de Vai-quem-pode para cidade Presidente.
                – Qual Presidente? – sua corte quis saber.
                Cortando as unhas encravada dos pés Apoema que seria o do momento.
                Vivia no castelo, acompanhado de duques e viscondes, gente muito simples que levava pros quatros cantos sua mensagem do fim do mundo e da necessidade de purgar todos os pecados. Varão feroz coabitava com várias mulheres com quem mantinha grande prole. Tornou-se também um grande proprietário.
                – Mas diga- nos, Jairinho G. como foi o fim de Apoema? – perguntavam as pessoas.
                – A ignorância provoca o fim de quem as gera – afirmou o contador de histórias.
                Segundo ele, sem que Apoema soubesse, os grandões da capital armaram contra ele uma grande armadilha. Seu palácio do Reino Encantado tornou-se um estorvo a construção de uma ferrovia.
                – Mas ele não resistiu? – perguntavam todos.
                – O máximo que pode – dizia Jairinho G. – mas acabou vencido. Quando dinamitaram aquela estranha construção, um pedaço da torre desabou sobre sua cabeça. Seu corpo levaram para bem longe e os que o seguiam desapareceram de uma hora para outra.
                Sentado na porta do botequim o homem parecia em outra dimensão.
                – Ficou a saudade de Apoema e o Reino Encantado – finalizava.
                – Por que Jairinho G.? – os circunstante perguntavam.
                – Porque depois que Apoema e seu Reino Encantado desapareceram todos compreenderam que, com todos os defeitos, a covardia e falta de liberdade aquele foi um tempo melhor do que hoje aí está, desta tal democracia, porque o ele era um homem bom…

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