Elaine Bomfim de Souza[*]
publicado em 02/06/2011 como <www.partes.com.br/cidadania/pesquisaeproducao.asp>
RESUMO
A pesquisa constitui-se atividade básica da ciência na construção da sociedade, é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. A partir deste estudo, pretende-se verificar, qual a influência da pesquisa e produção do conhecimento na formação do acadêmico de Serviço Social, pois nas últimas duas décadas a pesquisa tornou-se artefato essencial na prática instrumental do Assistente Social, observando-se um crescimento na produção científica, ideológica e sócio-histórica no Serviço Social.
PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa, Produção do Conhecimento, acadêmico, Serviço Social.
ABSTRACT
The research constitutes a basic activity of science in building society, is the research that fuels the activity of teaching and updates faced with the reality of the world. Therefore, although a theoretical, research links thought and action. From this study, we intend to verify the influence of research and knowledge production in academic training of the Social Service for the past two decades research has become essential artifact in the instrumental practice of the social worker, observing a growth in scientific, ideological and socio-historical Social Work.
KEYWORDS: Research, Knowledge Production, Academic, Social Service.
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas a pesquisa tornou-se artefato essencial na prática instrumental do Assistente Social, observando-se um crescimento na produção científica do Serviço Social, através das bases ideológicas e da constituição sócio-histórica da profissão e seus componentes, revendo-se necessária sua inserção no âmbito acadêmico. Fundamentando-se nestas considerações, justifica-se a escolha relevante de tratar o tema “Pesquisa e Produção do Conhecimento no âmbito acadêmico do Serviço social”.
Logo, a partir deste estudo, pretende-se verificar, qual a influência da pesquisa e produção do conhecimento na formação do acadêmico de Serviço Social. Como questões operacionais para subsidiar o estudo, foram traçadas as seguintes indagações: A postura investigativa está restrita apenas ao espaço da Universidade? A pesquisa gera produção de conhecimento na academia? Como a pesquisa tem influenciado na formação dos discentes do curso de Serviço Social?
2. PESQUISA, PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E A RELAÇÃO COM O SERVIÇO SOCIAL
A pesquisa é a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. Para Minayo (1994, p.17) “é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação”.
Dessa forma, compreende-se que ao questionar sobre: o que é pesquisa? Esta pergunta pode ser respondida de várias formas, pois, o conhecimento e o conhecer não se realizam somente no vazio intelectual, teórico ou prático. Assim, ao tratar da produção do conhecimento, considera-se o conhecimento como expressão do homem no decorrer de sua história, percebe-se que desde os primórdios da humanidade, ele construiu uma relação entre os homens e destes com os objetos da natureza.
O conhecimento foi desenvolvendo-se à medida que as próprias ações humanas expandiam-se em decorrência do surgimento e crescimento das necessidades estimuladas pelas experiências sociais, muitas das quais impostas pelos sistemas de produção determinantes das relações sociais[2] de cada época (SETUBAL, 2002, p. 28).
Demo (2006, p.16) diz que “pesquisa é o processo que deve aparecer em todo trajeto educativo, como princípio educativo que é à base de qualquer proposta emancipatória”. Nesse sentido, a produção do conhecimento é transformada a partir da pesquisa, pois o estudante que participa do processo de produção do conhecimento (isto é, da pesquisa científica) enriquece sua formação acadêmica, seja pelo exercício da metodologia de investigação científica seja pelos novos conhecimentos adquiridos.
Além disso, a iniciação científica através da pesquisa é um processo dinâmico que permite ampliar a visão pessoal e profissional, sendo fundamental no exercício do conhecimento. Pois, participar ativamente da produção do conhecimento é hoje uma necessidade para o desenvolvimento social, político e econômico. Logo, uma Universidade que se comprometa com a produção do conhecimento, através da Prática da Pesquisa, poderá desenvolver, com êxito, sua tarefa pedagógica de ensino e sua tarefa social. Tornando-se centro essencial de transformação na sociedade, contribuindo para a construção de uma sociedade mais democrática, para a instauração de uma nova consciência social e para a construção da cidadania.
O vínculo entre Pesquisa, Produção do conhecimento e a relação com o Serviço Social sustenta particularidades e ações vivenciadas pelos Assistentes Sociais no processo sócio-histórico da profissão. Gerando, por sua vez, a capacidade de interlocução entre pesquisadores provindos do Serviço Social com aqueles ligados a outros saberes. Ampliou-se a inserção interdisciplinar e a construção do conhecimento científico dentro de uma perspectiva e análise do real.
Nesse sentido, o Serviço Social como profissão sócio-histórica, tem em sua essência, a pesquisa como meio de construção de um conhecimento comprometido com as demandas específicas da profissão e com as possibilidades de seu enfrentamento. A pesquisa é fundamental para compreender o processo de produção de conhecimento, como elemento transformador da realidade social, pois, o Serviço Social assume a pesquisa e produção do conhecimento para analisar os aspectos teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político da profissão. Estabelecendo uma atitude investigativa realizada na academia e no exercício profissional, que em sua trajetória histórica construiu um legado teórico, através do diálogo crítico com outras áreas do conhecimento.
Para Setubal (2002) “o Serviço Social ao tomar a pesquisa de forma instrumental, cada vez mais reafirma sua forma de aparecer na mentalidade pragmática tão bem representada pela sua especificidade de profissão de intervenção, e pelo esforço em atingir resultados imediatos”. Mesmo em detrimento da qualidade do conhecimento produzido, pois o Serviço Social reproduz-se como um trabalho especializado na sociedade por ser socialmente necessário, tendo um valor de uso, uma utilidade social.
3. PESQUISA E REFORMA CURRICULAR NO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
A pesquisa e a reforma curricular inserem-se no processo de formação profissional do Assistente Social como uma exigência na superação do pragmatismo que marcou sua história na prática profissional, e que ainda se faz presente na contemporaneidade. Foi na década de 80, mais precisamente em 1982, que foi aprovado um novo currículo para o curso de Serviço Social no Brasil, produto de várias discussões norteadas por uma concepção de formação profissional, que preza como elemento fundamental o compromisso dos Assistentes Sociais com a classe subalterna.
Até então a pesquisa não constava no elenco das matérias obrigatórias, por estar implícito no espírito integrador ensino-pesquisa da reforma universitária. No início em 1977, as unidades de ensino e a Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social (ABESS, hoje Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS) iniciam discussões sobre a reformulação do terceiro currículo mínimo, voltando a identificar a pesquisa como instrumento fundamental para uma sólida formação científica dos docentes e dos Assistentes Sociais na sua prática profissional. Dessas reflexões sobre a formação profissional resultou o quarto currículo, que foi aprovado por meio do Parecer nº 412/82, do Conselho Federal de Educação (BRASIL, 1982) [3].
Fatores históricos compelem o currículo, no interior de um projeto educacional mais amplo, o currículo é na verdade, um espaço para pensar e reinventar a realidade – o que pode ser feito de vários modos ao ritmo do movimento dessa mesma realidade.
O currículo não pode ser, portanto um mero elenco de temáticas ou a justaposição de conteúdos programáticos. A busca de uma unidade político-pedagógica deve presidir a sua formulação, implantação, desenvolvimento e avaliação, sob pena de se enveredar para um ecletismo amorfo e “novidadeiro”, com lamentáveis prejuízos para a formação profissional (ABESS Nº 6, 1998, p.149).
O Currículo Mínimo é entendido como um conjunto de diretrizes que estabelecem uma base comum, no plano nacional, para os cursos de graduação em Serviço Social, a partir da qual cada Instituição de Ensino Superior (IES) elabora seu Currículo Pleno. Aquela base está pautada por um projeto de formação profissional, coletivamente construído, ao longo dos anos 80 e 90, sob a coordenação da ABESS. O Currículo Mínimo tem uma função prescritiva, devendo assegurar os princípios e marco essencial de um projeto de formação e possibilitar adequações locais.
Hoje existe um projeto profissional, que aglutina segmentos significativos discutidos coletivamente nas duas últimas décadas, suas diretrizes desdobraram-se no Código de Ética Profissional, na Lei Orgânica do Assistente Social (LOAS) que regulamenta a Profissão (Lei 8662/93) e na nova proposta de diretrizes gerais para o curso de Serviço Social. Por outro lado o curso de graduação em Serviço Social tem uma história bastante expressiva, coletiva e nacionalmente, constituída a partir da articulação das escolas de Serviço Social, por intermédio da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social – ABESS, quando tais cursos eram poucos e isolados em faculdades ou escolas que não pertenciam ao sistema universitário brasileiro.
4. A Pesquisa nos cursos de pós-graduação em Serviço Social
A pós-graduação em Serviço Social no Brasil constitui uma das iniciativas mais relevantes da política de educação, sendo protagonista na consolidação do pensamento político moderno, laico e democrático. Todavia, o processo que permitiu a articulação entre a institucionalização da profissão e o desenvolvimento da pesquisa e da pós-graduação foi fomentado pelas necessidades prático-operativas e pela sistematização da intervenção; seja ela técnica, política ou institucional.
Neste quadro, o Serviço Social brasileiro foi colocado a transformar a pesquisa num instrumento para conhecer, analisar e intervir sobre a realidade. Tal transformação se deu no interior de um amplo processo de reconhecimento e legitimação social, mediado pela ação dos Pesquisadores e Intelectuais ligados às agências de fomento à pesquisa como a Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ e pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, que é nossa entidade representativa na área do ensino e da pesquisa; além de outras como o Conselho Federal de Serviço Social – CFESS e o movimento sindical docente. A formulação e implantação das diretrizes básicas para a formação do Assistente Social nas unidades de ensino do país vêm sendo direcionado e coordenado nacionalmente pela Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, entidade com uma tradição de 56 anos.
É interessante lembrar, que implantar a pós-graduação no curso de Serviço Social significou, a convalidação nos órgãos oficiais de campo do Serviço Social como área de estudo e pesquisa. Os programas de pós-graduação em Serviço Social têm por finalidade dar aos Professores Universitários, e aos profissionais ligados as instituições de prestação de serviços, uma formação viabilizadora da transmissão e da produção do conhecimento científico.
Segundo Iamamoto (2008, p.89) Os programas de pós-graduação são submetidos à avaliação periódica da CAPES/MEC, considerando-se os seguintes critérios: proposta do programa, corpo docente, atividades de pesquisa, atividades de formação, corpo discente, teses e dissertações, produção intelectual e inserção social. Atualmente, iniciam-se diferentes eixos de intervenção no campo social na sociedade capitalista contemporânea, que abordam no debate profissional, linhas de pesquisa na pós-graduação voltadas para eixos temáticos como: desemprego, trabalho infantil, gênero e etnia, drogas, habitação, violência, idosos, AIDS, violência doméstica etc.
Logo, surgem diversos trabalhos de pós-graduação nessas linhas, que serão dignos de uma investigação mais ampla e sistemática, a fim de se verificar a contemplação dos seus resultados. Para Carvalho e Silva (2005, p.32) “abordar a expansão da pós-graduação em Serviço Social na atualidade, nos atuais cenários e tendências das transformações societárias do mundo contemporâneo, nos coloca diante de uma extensa, nova e inquietante agenda de questões”.
Neste aparato de mudanças, a pós-graduação, vem passando por significativas alterações. Ainda segundo Carvalho e Silva (2005) a CAPES, agência que é responsável pelo sistema nacional de pós-graduação em todo o Brasil, considera que a pós-graduação é o componente mais bem-sucedido do sistema educacional brasileiro.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância decisiva da pesquisa, na formação profissional do Assistente Social reporta para a necessidade de repensar estrategicamente os modos de ensinar, como geradores de processos educativos interdisciplinares, que assegurem o envolvimento com a pesquisa, e para a pesquisa na graduação em Serviço Social. Ao consagrar a pesquisa e produção do conhecimento como elemento fundamental no teor acadêmico e profissional do Assistente Social, considera-se que sua ação teórica e prática desenvolvem-se a partir da conjuntura investigativa, pautados pelo processo interventivo da profissão.
Logo, faz-se necessário compreender que a prática investigativa na graduação e pós-graduação, através da pesquisa em Serviço Social, tem contribuído para avanços significativos no enfrentamento das expressões da questão social, em diferentes momentos históricos. Já na construção da proposta curricular definem os fundamentos teóricos e metodológicos da profissão, consolidados pelo projeto ético-político profissional. Nessa perspectiva, é preciso despertar ainda nos graduandos a certeza de que uma das bases para garantir a ação profissional qualitativa é a utilização da Pesquisa, isto é, o processo investigativo. Pois, na atividade de trabalho, no mundo da informatização, na alta tecnologia e na valorização da velocidade é um desafio justificar ao graduando que, para pesquisar, é necessário tempo para ler, observar, escrever, dialogar, errar, acertar, descobrindo-se que o ciclo da produção do conhecimento nunca se fecha.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABESS/CEDEPSS. São Paulo: Cortez, v.1, nº6, fevereiro 1998. 196p.
CARVALHO, Denise Bomtempo Birche de, SILVA; Maria Ozanira da Silva (orgs). Pós-graduação e produção de conhecimento no Brasil – São Paulo: Cortez, 2005.
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo, 12ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.
MINAYO, Maria Cecília de Souza (ORG.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 23. Ed. Petrópolis: Vozes, 1994. 80p.
SETUBAL, Aglair Alencar. Pesquisa no Serviço Social: Utopia e realidade, 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
[*] Bacharel em Serviço Social (UNIT-SE), aluna especial do Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), pós-graduada em Gestão de Recursos Humanos e em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Faculdade São Luis de França – SE).
[2] São expressões concretas da forma de ser de determinada sociedade, não podendo com isso, serem vistas de forma autônoma. Ver em: IAMAMOTO, Marilda Villela. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo, Cortez: 2006.
[3] Ver citação em: Ensaio/ Pesquisa e produção de conhecimento no campo do Serviço Social, Aldaíza Sposati, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Site: http://www.scielo.br/pdf/rk/v10nspe/a0710spe.pdf
Como Citar:
SOUZA, Elaine B. de. Pesquisa e Produção do Conhecimento no âmbito acadêmico do curso de Serviço Social. P@rtes (São Paulo). Junho de 2011