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João do Rio: um “pintor” expressionista

 

JOÃO DO RIO: UM “PINTOR” EXPRESSIONISTA

Rodrigo da Costa Araujo[i]

 

publicado em 02/06/2011

http://www.partes.com.br/cultura/livros/joaodorio.asp

Rodrigo da Costa Araujo é professor de Literatura da FAFIMA – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Macaé. Mestrando em Ciência da Arte pela UFF-Universidade Federal Fluminense.
::contato com o auto

Esteta e iconoclasta acima de tudo, João do Rio, pseudônimo literário de João Barreto, ou mesmo, João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, – cidade que escolheu para, também, nomeá-lo, por isso imortalizando-a -, em 05 de agosto de 1881 e faleceu na mesma cidade em 23 de junho de 1921, dentro de um táxi na atual Rua Bento Lisboa, no Catete. Além de escritor, era jornalista, tradutor e teatrólogo – um amante incondicional das artes.

João do Rio: cadeira 26, ocupante 2 (2009), de Lêdo Ivo e lançado recentemente em Série Essencial, da ABRL (Academia Brasileira de Letras) traz informações básicas, porém significativas sobre o autor da Alma Encantadora das Ruas. A série se propõe oferecer uma brevíssima apresentação dos ocupantes das 40 cadeiras da ABL ao longo da História, bem como sobre os patronos da instituição.

O livro, apesar de extremamente breve, resume, elegantemente, nas palavras do poeta, romancista e ensaísta Lêdo Ivo, a vida e trajetória do escritor dândi que, além de fazer da sua própria cidade seu nome, soube, como ninguém, imortalizar sua arte a partir da memória dela, se por memória entendemos a zona obscura em torno do passado e do futuro.  A breve apresentação do escritor pode ser descrita como um filme da vida de João do Rio em seis tomadas, capítulos ou rubricas intituladas: 1. “Rio civiliza-se”, 2. “Uma Questão de estilo”, 3. “Tiros na Avenida”, 4. “Noite equívoca”, 5. “O homem que viaja”, 6. “Passos na praça deserta”.

A vida/obra incluída nessas rubricas assume espécie de guia, retratos atravessados pelo frêmito do art nouveau, momentos que descrevem, elegantemente, fluxos, pistas – uma vida que se mistura com a obra, feita de textos. Aqui estão, numa síntese feita em recortes, num livro de apresentações, os elementos essenciais com que se ergueu, ao longo do tempo, a poética de João do Rio. Para Ledo Ivo, o cronista que imortalizou a cidade do Rio de Janeiro, tinha “uma prosa imagística, de uma vivacidade e modulação incomparáveis, desfilam a frivolidade, a banalidade e a hipocrisia de uma sociedade cosmética e desespiritualizada”, ou mais ainda “ele escrevia como se pintasse. Ou fotografasse. Mestre das entressombras, o impressionista João do Rio  possuía também uma palheta expressionista habilitada para a produção de paisagens e cenas claras e cruas” (p.12).

O livro não pretende “canonizar” o autor de As Religiões do Rio. Ele se canonizou à sua maneira misturando-se com uma audácia e uma transgressão incomuns a muitos escritores que exaltaram a cultura carioca. Soube fazer isso com uma maestria e originalidade indiscutíveis, já longe ou sempre aos olhos dos ideais estéticos e da influência finissecular de Oscar Wilde, assumindo um estilo inconfundível e veloz que poderíamos reconhecer no seu famoso livro Cinematógrafos, de 1909. Nele estão, como num caleidoscópio de singelos fragmentos, a cidade e as cenas cariocas que brilham nas mãos dos seus ambíguos narradores e personagens.

Se a cidade, aos olhos do poeta-dandy francês é a Paris do século XIX, para João do Rio, no século XX, essa leitura se multiplica, se fabrica e se condensa vertiginosamente, na modernidade, como lugar teórico e espaço privilegiado da experiência – objeto semiológico de paixão. Ao dirigir a sua atenção sobre essa efervescência da cidade carioca e dos signos, sobre o palimpsesto e sobre a linguagem eminentemente artística, a cidade-texto, nesta pequena apresentação, configura-se como lugar de potência e inscrição, como rasura e significante cuja ilegibilidade seduz e desafia o olhar do leitor/espectador.

Com toda a cautela de quem não quer imprimir quaisquer marcas definitivas à escrita andante e ainda enrijecer as móbiles que permitem ao escritor a vida, Lêdo Ivo soube vê o célebre escritor carioca como uma estrutura estelar repleta de desvãos que escondem as faces perdidas, e na qual os signos equivalentes estão soltos para inserir outros rostos, que tantos pseudônimos (Joe, Paulo José, José Coelho, Caran d’Ache, Claude, José Antonio José, Máscara Negra, Godofredo de Alencar, Barão de Belfort entre outros tantos disfarces) podem também consentir mentiras e verdades, num jogo de mostrar-se e ocultar-se, algo assim como uma cintilação ou mesmo um flâneur baudelairiano.

Esse leque de rubricas da trajetória literária do escritor proposto por Lêdo Ivo configura, como o título-paratexto desse artigo aponta, a vida e estilo de um dandy iconoclasta. Da literatura ao jornalismo, da leitura da cidade às ruas, do cinema à explosão de imagens na página/tela, à textura da cor, ao andar pelas esquinas e noites, à experimentação do insólito, enfim, não faltará ler a vida pela obra, pelos fragmentos à deriva e relações interartes ou pelas rebeldias na escritura de um esteta.

João do Rio crédito Reprodução

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

IVO, Lêdo. João do Rio: cadeira 26, ocupante 2. Rio de Janeiro. ABL. 2009.

1 Professor, Mestre em Ciência da Arte (UFF) e Doutorando em Literatura Comparada, também, pela UFF. E-mail: rodricoara@uol.com.br

Como citar este artigo:

ARAUJO, Rodrigo da Costa. João do Rio: um “pintor” expressionista. Revista Partes. Cultura. Junho de 2011. Disponível em:<>. Acesso em ___/__/__.

 

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