Nair Lúcia de Britto
publicado em 02/06/2011
No dia 30 de julho de 1932, às véspera da invasão nazista à Áustria, Albert Einstein (físico alemão) escreveu uma carta a Sigmund Freud (Pai da Psicanálise), fazendo as seguintes perguntas:
Existe alguma forma de livrar a Humanidade da ameaça de guerra?
Como os mecanismos de poder conseguem despertar nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de sacrificarem suas vidas?
É possível controlar a evolução da mente do homem de modo a torná-lo
à prova das psicoses do ódio e da destrutividade?
Tais perguntas eram fruto da preocupação do físico, diante da constante
ameaça de uma outra guerra. Não sei quais serão as armas da Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta Guerra Mundial será combatida com paus e pedras, declarou ele. E enfatiza sua opinião para o psicanalista que esse tema havia se tornado um assunto de vida ou morte para a civilização, mas todas as tentativas de solucioná-lo haviam se constituído num lamentável fracasso. Enfatiza também seu diagnóstico científico, dizendo: O homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição e esse estado de paixão pode ser elevado à potência de psicose coletiva. Presumia que somente um especialista na ciência dos instintos humanos, como era o caso de Freud, poderia resolver.
Apenas duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana, argumentava o físico que dizia: a fome de poder das classes dominantes não tinha limites. Considerava a guerra como uma forma de expandir interesses pessoais e motivada também pela intolerância religiosa ou perseguições a minorias raciais.
Surpreso, Freud responde à carta de Einstein em setembro de 1932:
Prezado professor Einstein, o que pode ser feito para proteger a Humanidade da maldição da guerra?
A princípio Freud havia entendido ser esse um assunto da competência dos estadistas, mas teve a intuição de que aquela pergunta não fora feita visando interesses da Ciência, mas sim da Filantropia. E que o físico esperava uma resposta com base na Psicanálise.
Freud argumentou que a agressividade e a crueldade existem em muitas pessoas, conforme havia constatado em muitos relatos de pacientes com transtorno de personalidade. Ainda, segundo o psicanalista, os seres humanos são incitados às guerras por vários motivos, entre os quais o desejo de agressão e destruição, aliado a outros impulsos de natureza emotiva e idealista. O desejo de aderir à guerra é efeito do instinto destrutivo.
A solução será contrapor-lhe o “eu” o antagonista mais poderoso: Eros, o instinto do Amor. E, neste ponto, Freud menciona o Novo Testamento:
Ama a teu próximo como a ti mesmo. Assim, os homens partilham seus interesses e produzem comunhão de sentimentos.
Allan Kardec (cujo verdadeiro nome era Denizard Rivail), professor e bacharel em Letras e Ciências (1804-1869) já publicara em 1857 o Livro dos Espíritos; no qual, por sua vez explicou o motivo das guerras (Lei da Destruição):
Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e satisfação das paixões. À medida que o homem progride, a guerra se torna menos frequente porque ele evita suas causas e, quando julga necessária, sabe adicionar-lhe humanidade.
Diz ainda que o homem não tem duas almas, uma boa e outra má; o que existe nele são os bons e os maus instintos. Ou seja, uma natureza animal e outra espiritual. Só a Educação (conjunto de hábitos adquiridos) poderá reformar os homens.
A guerra desaparecerá um dia da face da Terra, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a Lei de Deus; então todos serão irmãos.