Thaís Virgínea Borges Marchi1;
Helenise Sangoi Antunes**
publicado em 02/05/2011 www.partes.com.br/educacao/dicotomia.asp
O livro organizado e escrito por Ghedin; Almeida; Leite (2008, 1ª ed.) desenha novas discussões no âmbito da formação de professores dentro do cenário contemporâneo. O livro traz experiências significativas relatadas em 3 capítulos sobre a trajetória formativa de professores, e com isso consegue dar um panorama geral sobre a formação dos professores e a preocupação que os autores têm em eleger a prática como eixo central da discussão. A leitura do texto, do início ao fim, propõe um olhar dialético de superação entre a disputa entre teoria e prática na esperança de desconstruir essa dicotomia.
Os autores delineiam a discussão sobre prática docente dizendo que, nós professores, “queremos compreender o que somos a partir do modo como fazemos com que as coisas aconteçam no espaço educativo” (GHEDIN; ALMEIDA; LEITE 2008, p.13), somente assim conseguimos situar a qual teoria defendemos e qual é o tipo de prática que exercemos. No entanto, os autores demonstram que o trabalho docente está justamente nessa ponte que separa teoria e prática, por conseguinte o maior erro está nesse descaminho da ação profissional dos professores.
Durante o relato das experiências trazidas no livro todos os autores defendem arduamente a ideia de que o que faz o imbricamento entre teoria e prática é o processo de pesquisa que é desenvolvido pelo professor durante a sua formação inicial até a sua “aposentadoria”.
Para os autores, a pesquisa transforma as informações em conhecimento, pois o professor ou o aluno em formação tem, na pesquisa, a oportunidade de visualização e concretização do casamento entre teoria e prática.
No primeiro capítulo, A formação de professores nos cursos de licenciatura: caminhos e descaminhos da prática, os autores mencionam que os cursos de licenciatura vêm trabalhando as teorias desarticuladas da realidade vivenciada pelas escolas. Para amenizar esse problema sugere-se
(…) que os cursos de formação de professores se organizem de forma a possibilitar aos docentes, antes de tudo, superar o modelo de racionalidade técnica para lhes assegurar a base reflexiva na sua formação e atuação profissional. (GHEDIN, ALMEIDA, LEITE, 2008, p. 17)
Quanto à racionalidade técnica mencionada no parágrafo acima, podemos destacar que durante a leitura do livro encontramos um destaque bastante reforçado quanto à superação da racionalidade técnica, bem como o questionamento da eficiência da divisão da carga horária dos cursos em 400h de prática como componente curricular, e 400h de estágio supervisionado.
Por isso o capítulo 1 do livro acaba tomando forma e cor no sentido de questionamentos a respeito do papel do estágio na formação dos professores se não o de (des)alienar os alunos do conceito de segmentação entre teoria e prática. Não podendo deixar de mencionar que nessa primeira seção os autores trazem em resumo as Resoluções e Pareceres que instituem a normativa para a formação de professores tentando fazer relação com as propostas de estágios oferecidas pelas instituições de ensino.
No capítulo 2, O estágio na formação inicial de professores: caminhos e descaminhos da prática relata-se de forma dissertativa, apresentando alternativas, as atividades experienciadas num curso Normal Superior, cujo foco das discussões estavam pautadas no sentido de levar o estagiário a compreender que sua prática educativa é fonte, tanto da atividade reflexiva, quanto da prática investigativa.
O grupo de professores envolvidos nesse objetivo conceituou dois tipos de professor, o reflexivo e o pesquisador, pois acreditavam que isso romperia com a ideia de estágio
centrado na prática de ensino, onde o futuro professor aprenderia os processos de ensinar mais vinculados à prática e, muitas vezes, distantes das interpretações teóricas dos processos pedagógicos (GHEDIN, ALMEIDA, LEITE, 2008, p. 62).
Entre outras considerações que os autores trazem nesse capítulo, em suma, o livro finaliza-se com a ideia de que os estagiários conseguiram superar a visão fragmentada do saber e uma Ciência estruturada em moldes do positivismo
Por fim, o capítulo 3, A formação de professores no contexto das reformas educacionais: caminhos e descaminhos da profissionalidade docente pode-se entender como uma oportunidade para dar visibilidade ao como os professores reagem com a implementação de novidades na escola. Essa discussão é travada entre o conceito de professoralidade e de um panorama sobre as reformas educacionais que implicam na constituição do ser professor. Para contextualizar essa discussão os autores trazem o exemplo de uma realidade vivida por professores de uma escola básica, a qual teve que se adaptar ao ensino fundamental organizado em ciclos.
Resumidamente, o texto deixa no leitor a vontade de ler até o final, pois consegue aproximar a escrita do texto à realidade em que os professores vivem, tentando articular as experiências e os relatos das mesmas num tom de formação continuada para os professores leitores que buscarem esse livro.
Evidentemente o livro procura deixar clara a relação que se estabelece entre política e prática docente, e de como as políticas exercem papel limitador das ações pedagógicas inovadoras que poderiam fazer parte da constituição do ser professor.
REFERÊNCIA
GHEDIN, Evandro; ALMEIDA, Maria Isabel de; LEITE, Yoshie Ussami Ferrari (2008). Formação e professores: caminhos e descaminhos da prática. Brasília: Líber Livro Editora
1 Licenciada em Educação Especial pela Universidade Federal de Santa Maria; Acadêmica do Curso de Mestrado em Educação; Membro do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Formação Inicial, Continuada e Alfabetização (GEPFICA/CNPq). E-mail: this_sm@hotmail.com
Professora Pedagoga do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria; Líder do GEPFICA/ CNPq.