Giovana Grebuli; Josefa Matias Santana;Leandro Freitas Menezes[*]
publicado em 02/05/2011
No texto, “A dimensão ética na obra de Jean Piaget” Yves La Taille apresenta a teoria de Jean Piaget de como acontece nas crianças o desenvolvimento ético e moral. Uma teoria fundamentada na interação social que o sujeito tem com o meio. Segundo essa teoria piagentiana, a formação do pensamento infantil deve ser investigada, pois, é a partir dele, que se pode compreender os segredos da construção do conhecimento humano, atentando-se, também, para o processo de socialização da criança.
No aspecto e desenvolvimento social da criança, Piaget estabelece duas fases, nas quais as relações entre o indivíduo e as normas morais da sociedade acontecem de forma diferenciada, baseadas nos princípios de coerção e de cooperação, primeira e segunda fases, respectivamente. Na primeira fase, que varia dos 05 aos 10 anos, Piaget afirma que a criança observa tais normas como algo imutável e que dever ser obedecidas sem questionamento; enquanto que, na segunda fase, a criança se percebe como agente ativo na construção dessas normas sociais, podendo ser cooperador, com o auxílio de outros indivíduos, passando a obedecê-las mais por respeito às outras pessoas do que pela simples imposição dessas regras. Esses princípios determinam o tipo de comportamento e a relação que o indivíduo terá na sociedade e com as outras pessoas que nela vivem. Desse modo, observando as duas fases discutidas por Piaget, nota-se que o indivíduo passa de um período egocêntrico e ingênuo para um período mais autônomo em que se adquire mais racionalidade e poder de decisão.
Com relação à construção moral nas crianças, Piaget se opõe a teoria da coercividade em que o indivíduo, por meio de suas experiências, vai internalizando os conhecimentos e os saberes e, consequentemente, formando sua consciência ética e moral. Piaget compreende a relação de coerção como uma relação já construída e, portanto, a consciência do indivíduo está submetida completamente a ele. Embora Piaget, ignore a teoria da coerção ele admite que ela faça parte dos primeiro passos da formação moral da criança, e afirma que ela reforça a heteronomia moral e o egocentrismo correlativo, não permitindo o desenvolvimento autônomo da inteligência.
Já no princípio de cooperação teoria utilizada por Piaget para a construção do juízo moral, pelo fato de o indivíduo ser concebido como cooperador na construção de regras, há autonomia intelectual. Nela o indivíduo experimenta as relações sociais e aprende como se comportar diante de tais relações, nutrindo, por exemplo, o respeito pelo outro. Piaget admite ser de grande importância a teoria da cooperação para a construção das relações entre as crianças, já que o homem é um ser social e, portanto, deve estar inserido em uma cultura, desenvolvendo a sua inteligência a partir da adaptação ao meio em que vive. Assim sendo, a criança participa construtivamente no processo de adequação ao meio social no qual está inserida, pois passa por etapas de desenvolvimento que se associam às relações que ela tem com outras pessoas e, que estão de acordo com esse contato, conforme os conceitos morais que “surgem” dessa interação.
Piaget foi bastante criticado por ter deixado de lado os aspectos culturais e sociais no seu modelo teórico. Para os críticos de sua teoria, o construtivismo piagentiano prega que o desenvolvimento se processa das ações do sujeito sobre os objetos físicos e sua reflexão sobre elas, deixando de lado o contexto social, uma vez que para o construtivista essas ações geram o conhecimento. Porém, La Taille defende que Piaget sabia que a cultura e o meio social interferiam no desenvolvimento da pessoa, apenas não pesquisou e escreveu muito sobre isso. Piaget afirmou que junto aos fatores do desenvolvimento das estruturas mentais das crianças estão ainda dois fatores de influência social. Uma delas ele chamou de “Herança cultural” que consiste em tudo aquilo que foi acumulado por uma determinada sociedade durante uma evolução histórica. A criança internaliza e repete todos os conceitos que observa e aprende durante sua vida, sendo o adulto, um referencial importante nesse processo, pois é ele o grande mestre desses sujeitos. A outra maneira é o leque de oportunidades, que são as possibilidades do sujeito entrar em contato com o patrimônio cultural, o que implica também oportunidades financeiras e qualidade de vida. Assim, se a criança teve pouco acesso às riquezas e ao conhecimento, da mesma maneira a formação ética e moral do indivíduo estará comprometida.
Deste texto pode-se inferir que para uma sociedade efetivamente mais ética, com a moral mais evoluída, segundo os próprios conceitos de Piaget, é necessário mostrar às crianças, educá-las para a importância da cooperação no desenvolvimento de todos, tirando o foco da coerção que no máximo trará resultados positivos por períodos curtos e em circunstâncias muito específicas. Uma sociedade com a qual muitos sonham passa pela educação, passa pela conscientização e se fazer o certo com o pensamento no coletivo, aproveitando e compartilhando todos os conhecimentos que chegam até as novas gerações.
Livro Resenhado
LA TAULLE, Y. A dimensão ética na obra de Piaget. Série Ideias n. 20. São Paulo: FDE, 1994.p. 75-82. Clique aqui para ler o texto completo
[*] Leandro e et alli foram ambos participantes do Projeto Releitores na UFES que é ligado ao NUPETEC (Nucleo de pesquisa em texto e cognição) da UFRJ como pesquisadores. Ambos são Graduados em Língua Portuguesa e Literatura de Língua Portuguesa. Contato pelo email: leandrofm.icm@hotmail.com ou leandrofreitasmenezes@yahoo.com.br.