A IMPORTÂNCIA DO COORDENADOR PEDAGÓGICO NO
COMPLEXO ESCOLAR
BIANCA TRINDADE DA FONSECA[1]
A responsabilidade e o compromisso que corresponde ao Coordenador Pedagógico está presente na formação continuada em seu cotidiano escolar. Desta forma, deve ser analisado e incorporado ao processo de desenvolvimento pedagógico dos pedagogos.
Segundo Gentili (2000), o processo de formação dos profissionais que trabalham na área educacional deve abordar valores sociais a serem desenvolvidos como:
– Liberdade, autonomia, solidariedade e respeito.
Para Canivez(1991), a liberdade é uma disposição de espírito de cada indivíduo.
Conforme Piaget (1974), a autonomia, a relação voluntária de respeito às norma, leis e regras decorre em função do reconhecimento de sua realidade do mundo e não em decorrência da imposição ou controle externo.
Igualdade é a disposição de dispor os interesses particulares para interesses públicos, reconhecendo nos outros os direitos de si mesmo (Canivez,1991).O respeito se dá como a capacidade de valorizar a liberdade e a dignidade do ser humano que pensa e sente, tanto para outro como para si mesmo, e a solidariedade se disponibiliza ao levar em conta as aspirações de todos, e de estabelecer com eles relações de troca, a partir do reconhecimento de outro em sua essência.
O papel do coordenador deve ser definitivo como facilitador. Na escola considerada espaço de construção de cultura e de relações humanas estarão não só os valores acima, bem como atitudes, conceitos de justiça, compromisso, democracia e gestão de conflitos.
Desta forma, colocam-se aqui algumas atribuições do Coordenador Pedagógico:
1.Desenvolver um trabalho harmônico dentro da instituição educacional;
2.Conversar diretamente com os professores sobre o desempenho discente;
3. Acompanhar e avaliar o professor em relação ao que faz e como faz o seu próprio trabalho;
4. Assessorar o trabalho do professor (transmitindo sugestões de atividades);
5. Descentralizar as condições a respeito da ação docente;
6. Criar situações para a solução dos problemas que surjam no grupo de professores;
7. Procurar subsídios que facilitem a ação docente;
8. Discutir diferentes maneiras de trabalho, comunicando experiências;
9. Elogiar o que for positivo e esclarecer o que considera negativo;
10. Incentivar os professores a avançar em seus estudos;
11. Organizar as condições de trabalho do professor com o material de ensino.
O Coordenador Pedagógico deve estar atento às transformações de atitude escolar, tendo a responsabilidade de promover a reflexão e a vivência nas relações escolares, tornando-se em seu papel um agente transformador da prática pedagógica. Por isso precisa estar aberto para constantes transformações.
No decorrer da prática educacional, é importante que o Coordenador Pedagógico esteja atento aos seguintes aspectos:
- Integrar-se plenamente na unidade em que atua;
- Ler e analisar o material sobre a escola;
- Observar o funcionamento da escola e sua unidade;
- Fazer sugestões sobre o processo educativo que se desenvolve na escola;
- Participar de encontros com todos os membros da escola;
- Organizar as idéias levantadas e desenvolver o seu plano de trabalho;
- Apresentar seu plano e discutir com a equipe docente;
- Elaborar um cronograma de execução;
- Apresentar a versão final do seu plano a todos os componentes da escola;
- Operacionalizar sua atuação ao final do período previsto.
Dentro do âmbito escolar, o coordenador tem como dever acompanhar o Projeto Político Pedagógico e, desta maneira, formar educadores, partilhar suas ações. Também é importante que compreenda as reais relações dessa posição (Clementi, 2003).
Na área escola/família, esse profissional é requerido para estreitar esses laços e mantê-lo em favor da formação efetiva dos alunos e, à medida que cada situação exija, assuma seu papel social, diante desse momento tão indispensável.
Enfim, o papel do Coordenador Pedagógico deve favorecer deve favorecer a construção de um ambiente democrático e participativo, em que exista o incentivo, a produção do conhecimento por parte da comunidade escolar( alunos, professores e demais setores do sistema escolar).
Com as variadas transformações que ocorrem no mundo atual (de ordem econômica, política, social, ideológica), a escola, como instituição de ensino e de práticas educacionais, depara-se com inúmeros desafios, pondo em risco a sua ação frente às exigências que surgem. Desta maneira, os profissionais do Sistema Educacional precisam estar conscientes de que os alunos devem ter uma formação cada vez mais ampla, que promova o desenvolvimento das capacidades desses sujeitos.
Com tantas mudanças que se observa, é importante que o Coordenador Pedagógico visualize a importância de seu papel, da necessidade de sua formação continuada, para que tenha mais suporte e desempenhe com qualidade sua função.
Para Almeida (2003), para a formação do educador é importante prestar atenção no outro, em seus saberes, dificuldades, sabendo reconhecer essas necessidades e proporcionando subsídios adequados à atuação.
Desta forma, a relação entre o professor e o coordenador se estreita e ambos crescem no sentido prático e teórico, proporcionando a confiança, o respeito dentro da equipe.
É aqui que entra o trabalho do professor-coordenador e fundamentalmente num trabalho de formação continuada em serviço. Ao subsidiar e organizar a reflexão dos professores sobre as razões que justificam suas opções pedagógicas e sobre as dificuldades que encontram para desenvolver seu trabalho, o professor-coordenador estará favorecendo a tomada de consciência dos professores sobre suas ações e o conhecimento sobre o contexto escolar em que atuam.
Ao estimular o processo de tomada de decisão, visando alternativas para superar problemas e ao promover a constante retomada da atividade reflexiva, para readequar e aperfeiçoar as medidas implementadas, o professor-coordenador estará propiciando condições para desenvolvimento profissional dos participantes, tornando-os autores de suas próprias realizações nas atividades práticas.
Considerando em sua função o papel formador, o coordenador precisa programar as ações que possam nortear a formação do grupo para qualificação continuada da equipe, ajudando nas mudanças dentro da sala de aula e na amplitude escolar, tornando-se cada vez mais produtivo e atingindo os objetivos desejados pelo grupo pedagógico.
Segundo Ramalho (2003,pg.30):
“O CP deverá contar com obstáculos para realização de suas atividade.
deve prever que será atropelado pelas emergências e necessidades do
cotidiano escolar.Deve ter consciência de que suas funções ainda são
mal compreendidas e mal delineadas”.[…]
À medida que professores e coordenadores agem juntos, através da reflexão/ação, ocorrem momentos riquíssimos para a formação, agindo conjuntamente, observando, discutindo e planejando, vencendo dificuldades, expectativas e necessidades, o que requer momentos individuais e coletivos entre a equipe, atingindo os objetivos desejados.
No cotidiano profissional, uma Coordenadora Pedagógica revela uma grande capacidade de articular diferentes tipos de saberes para solucionar os desafios cotidianos. Como ela faz isso? Qual é a origem desses saberes?
Essa coordenadora relaciona-se com professores, alunos e pais, faz mediações de conflitos e problemas, planeja e organiza atividades, atende emergências e, além de tudo, mantém sua atenção na importância da construção do Projeto Político Pedagógico da escola e na necessidade de envolvimento dos professores nesse processo.
Fazer a sincronia de fatos, situações, acontecimentos, que ora se articulam, ora se superpõem ou se contrapõem, exige uma sabedoria pessoal adquirida, muito provavelmente, em diversas pontes: na família, na escola, nas relações interpessoais, na formação do profissional, na instituição, na experiência cotidiana.
A forma com que o coordenador se integra a estes saberes, quando e como os põe em ação é algo muito particular. Tem muito a ver com os sentidos e significados que ela(e) atribui aos problemas que enfrenta e com o tipo de questão que precisa resolver em seu dia a dia. Existe uma estreita relação entre a pessoa que faz aquilo que é feito, entre o saber e o trabalho.
As relações interpessoais passam pela prática do coordenador que precisa articular as instâncias da escola e família, sabendo ouvir, olhar e falar a todos que buscam a sua atenção.
Na parceria escola/família, esse profissional é importante para estreitar esses laços e mantê-los em favor da formação efetiva educacional, à medida que cada instâncias assuma seu papel social.
Destaca Alves (apud Reis,2008), que há homens que através de sua ação transformadora se transformam. É neste processo que os homens produzem conhecimentos, sejam os mais sofisticados, sejam aqueles que resolvam um problema cotidiano, sejam os que criam teorias explicativas.
Assim é o papel do Coordenador Pedagógico: ajudar na construção de um ambiente democrático e participativo, o qual incentive a produção do conhecimento por parte da comunidade escolar, promovendo mudanças atitudinais, procedimentais e conceituais nos indivíduos.
Com inúmeras responsabilidades desse profissional já descritas e analisadas aqui, o Coordenador Pedagógico enfrenta outros conflitos no espaço escolar, tais como: tarefas de ordem burocrática, disciplinar, organizacional. Desta forma, assumir este cargo é sinônimo de enfrentamentos e atendimentos diários a pais, funcionários, professores, além da responsabilidade de incentivo á promoção do projeto pedagógico, da necessidade de manter a própria formação, independente da instituição e recursos específicos.
Tardif (2000,p.11) argumenta que se pode falar em saber sem relacioná-lo com os condicionantes e com o contexto de trabalho, pois “o saber é sempre o saber de alguém que trabalha alguma coisa no intuito de realizar um objetivo qualquer”. Segundo o autor, no que se refere ao saber dos docentes, suas reflexões podem ser adaptadas dentro do contexto de trabalho do Coordenador Pedagógico, que também é um docente e desenvolve suas atividades junto com os professores, com o propósito bem claro de favorecer o processo de ensino e promover a aprendizagem no espaço escolar.
A perspectiva sobre os saberes docentes baseia-se em alguns fios condutores.
O primeiro relaciona-se ao saber dos professores com a pessoa do trabalhador e com seu trabalho. Isso significa que as relações da equipe com os saberes são mediatas pelo trabalho que lhes fornece princípios para enfrentar e resolver situações diárias.
O segundo fio condutor estabelece a pluralidade de saberes aos quais os profissionais recorrem no exercício de sua profissão. Tardif (2000) afirma que essa diversidade advém da origem social dos saberes: alguns provêm da história familiar e da cultura pessoal, outros do processo de escolarização, outros dos recursos de formação profissional e outros, ainda, da instituição educacional e das próprias experiências de sua profissão.
Os saberes da experiência são saberes práticos do decorrer do dia a dia, representações a partir das quais os professores interpretam, compreendem e orientam sua profissão e sua prática diária.
O trabalho educacional é um trabalho essencialmente interativo. Para Tardif (2000) é um trabalho que envolve e engloba inúmeros saberes humanos a respeito das relações humanas. Assim, o autor procura compreender as características da interação humana.
Enfim, o último fio condutor da proposta de Tardif (2000) relaciona a questão dos saberes com o repensar da formação de professores, defendendo a ideia dos saberes no seu dia a dia, os saberes construídos na experiência, permitindo renovar nossas concepções a respeito da formação docente, mas também de suas identidades, contribuições e papéis profissionais.
REFERÊNCIAS
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[1] BIANCA TRINDADE DA FONSECA possui graduação em História Licenciatura Plena pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Santiago (2009). Graduação no Programa de Pós-graduação e Especialização em Coordenação Pedagógica: Supervisão e Gestão Educacionais da Universidade Luterana do Brasil – Santiago (2011).