Em termos de gestão, há um jargão que afirma: “Quando tudo é urgente, nada é urgente!”.
Mas o que é uma situação de urgência? Geralmente é aquilo que não foi priorizado no tempo devido, por falta de planejamento ou desconhecimento técnico, aí incluídos: assessoramento inadequado ou decisões “políticas”, tomadas por critérios nem sempre racionais. Também pode ser simples decorrência da falta de dinheiro. O caso do Brasil é um pouco de tudo isso.
Mas, o que normalmente fazemos quando falta dinheiro? Teoricamente, elegemos prioridades em áreas que, uma vez solucionadas, favorecerão a solução de outras, não menos importantes, mas não tão dramáticas.
A Coréia do Sul, nos anos de 1970, partindo dessa lógica, adotou medidas econômicas e na área de educação que a transformaram num “tigre asiático”.
Sabem em quem eles se basearam para adotar tais procedimentos? No Brasil de então!
E nós, os “pais da matéria”? Bem, não dá para comparar a Coréia do Sul com o Brasil, nem territorial, nem politicamente. Nossas dificuldades são significativamente maiores e até a falta de tensões externas, indutoras de competitividade, favoreciam certa lentidão na tomada de iniciativas e inércia perante os fatos.
Foi assim que perdemos duas décadas com planos econômicos tão emergenciais quanto inconsequentes; reservas de mercado que levaram à obsolescência e perda de competitividade da indústria nacional e a ampliação de problemas sociais. Isso até que Collor resolveu liberar as importações e o Plano Real injetou adrenalina, aplicou desfibrilador e ressuscitou a economia brasileira.
Mas, o que dizer dos apagões energéticos? Da deterioração e deficiências dos meios de transporte? Do caos nos aeroportos e nos acessos aos portos? Da falta de profissionais especializados, em qualidade e quantidade, em várias áreas vitais para o desenvolvimento científico e tecnológico nacional?
O Brasil passou bem – e com méritos – pela recente crise econômica mundial. Atraiu investidores internacionais e alcançou taxas de crescimento do PIB interessantes. Há menos pobres no Brasil e o SUS, com todos os problemas que um sistema desse porte tende a apresentar, até que funciona razoavelmente bem, em parte porque a classe média o desafoga, buscando assistência médica particular.
Mas as urgências continuam a existir, e não são poucas. Para resolvê-las, a cobrança que se faz dos governos, desde sempre, é aplicar bem os recursos públicos. Esse foco é nas despesas!
E quanto à receita?
Vai muito bem, obrigado! Com sucessivos recordes de arrecadação e fiscalização rigorosa contra a sonegação, além de medidas que pretendem incrementar a economia formal.
A receita aumenta e, como diz um ditado: “Dinheiro chama dinheiro!”. Mas, como isso funciona ou, melhor, deveria funcionar?
Bem, qualquer empresa que queira crescer precisa investir basicamente em duas coisas: qualificação profissional e infraestrutura. Para isso, ela deve estabelecer não apenas horizontes de crescimento, mas focos mais precisos, urgências que, uma vez equacionadas, garantam condições para outros saltos de qualidade.
Quais seriam, então, as urgências principais, virtuais emergências, do Brasil?
As mesmas: qualificação profissional (e humana) e infraestrutura! E não há a menor dúvida de que por meio delas nosso país conseguirá superar todas as suas demais demandas e necessidades, urgentes ou não.
Para tanto, é preciso investir fortemente na educação básica e continuada, melhorando os meios de ensino e valorizando a formação e prática docente. Também é preciso intensificar investimentos em geração e distribuição de energia; ampliação, diversificação e racionalização dos meios de transporte, incluindo portos e aeroportos. E isso não apenas em função da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
O Brasil tem imenso potencial de desenvolvimento em todas as áreas, mas precisa urgentemente solucionar gargalos logísticos, que prejudicam o crescimento e o escoamento da produção agropecuária e industrial.
Isso é uma questão de Estado! E por assim ser, exige a superação de interesses e vaidades políticas, em nome não apenas de um bem maior: o Brasil, mas da conclusão pragmática de que a solução desses problemas implicará em crescimento econômico, com incremento da arrecadação de tributos e da qualidade de vida, sem descuidar dos aspectos ambientais.
Educação e infraestrutura: essas são as prioridades, as urgências de curto prazo do Brasil! O que não implica descuidar de outras, não menos importantes. É preciso ter em mente, no entanto, que priorizar investimentos internos e externos nessas duas áreas garantirá condições ideais para o aprimoramento e desenvolvimento sistêmicos.
Repito: é uma questão de Estado! E nunca é demais lembrar que o Estado somos todos nós.