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Impressão digital não causou boa impressão

Conforme pesquisas científicas baseadas em cálculos matemáticos (ou talvez tenham sido cálculos matemáticos baseados em pesquisas cientificas), a probabilidade de duas pessoas terem a mesma impressão digital é de aproximadamente uma em dois bilhões, ou seja, em um mundo globalizado com quase sete bilhões de indivíduos, a chance de você ter a mesma digital de outra pessoa está cada vez maior (apesar de ainda ser infimamente pequena).
Mesmo com este dado dando o que pensar a nós, seres pensantes, a biometria aliada à informatização neste nosso planetinha cada vez mais parametrizado e encapsulado por rígidas regras seladas com a mais pura “BURROcracia” que as criaturas humanas podem criar, poderão vir a trazer problemas no futuro para aqueles “felizardos” que por ventura tiverem suas digitais idênticas as de outras pessoas, principalmente se o sistema biométrico de digitais assumir o posto de identificador máximo dos seres de nosso presente futuro.
Imagine fulano começando em um novo serviço todo contente, logo após a entrevista de emprego. Ele chega até a sala de recursos humanos da empresa e se apresenta para a atendente do setor de RH. Lá o infeliz felizardo acaba tendo uma estranha surpresa. Algo que aconteceria mais ou menos assim:
         Olá, bom dia, meu nome é Pedro, passei na entrevista de emprego e irei começar esta semana na empresa.
         Bom dia senhor Pedro, para efetivarmos seu cadastramento basta o senhor colocar sua digital neste aparelho biométrico para confirmar seus dados, ok?
         Claro.
Ele insere sua digital no aparelho e em poucos instantes as informações começam a escorrer pela tela do computador. O conteúdo que aparece vai deixando a sobrancelha direita da atendente levemente sobressaltada (e quem conhece algum funcionário de recursos humanos, sabe que isso não é um bom sinal). A atendente olha nos olhos do novo empregado, já recuperada de seu rompante de assombro externado pelo singelo movimento de sua sobrancelha direita, e diz:
– Bem, infelizmente houve um pequeno problema, de acordo com a sua analise biométrica o sistema está informando que o senhor na realidade se chama Paola, é de origem asiática e, apesar de solteira, está grávida de quatro meses.
         Isso é impossível, deve ser algum erro do sistema.
         Infelizmente todo o processo de admissão funcional é baseado em nosso sistema global de informações que é integrado ao do governo e aferido por ele, sendo considerado à prova de falhas. De acordo com a sistemática da empresa se há algo errado aqui, provavelmente é a senhora, e não o sistema.
         Isso quer dizer que não fui admitido?
         Na realidade a senhora sofreu um remanejamento interno devido aos novos fatos apresentados pelo sistema, não trabalhará mais na área de engenharia, mas devido a nossa cota destinada a imigrantes ilegais, irá ser realocada para trabalhar no setor de limpeza da fábrica.
         Por favor, pare de me chamar de “senhora”, eu sou homem…
         tudo bem, nós podemos resolver facilmente este “detalhe”, já que a empresa dispõe de um ótimo plano médico que inclui eventuais mudanças de sexo. A propósito, seu pedido para jogar no time de futebol foi negado, por não aceitarem jogadores de outro sexo, já que o time é masculino, mas o sistema acabou de cadastrar você nas reuniões semanais do atelier de crochê.
         Mas, isso está errado, eu sou homem, entendeu? HOMEM!
         Se a senhora continuar insistindo em afirmar que seu cadastro no sistema está errado, poderá responder por falsidade ideológica, com sérios problemas jurídicos e penais contra sua pessoa. Nossa cota para imigrantes ilegais que queiram se naturalizar, também conta com um cadastro para auxiliar nos relacionamentos de funcionários de outras subordinadas, e o seu perfil já recebeu algumas intenções de namoro, inclusive com propostas de casamento do um empregado do setor três “C” da ala norte da fábrica 15.
         Mas aqui no meu currículo tem uma foto minha demonstrando que sou Homem.
         Sim, mas este foi um dos fatores que parece ter atraído ainda mais o seu pretendente, já marcamos um encontro entre vocês para o próximo sábado. A propósito, o codinome utilizado no perfil dele foi “Paulão tripé”, e ele se autodenomina como “armário do amor”.
         Uiiiiii…
Depois de alguns meses, Pedro finalmente consegue descobrir que havia uma mulher na Ásia chamada de Paola com a mesma impressão digital que a dele, provando assim que ele era ele mesmo. Para não perder o emprego e não ser deportado, ele se aproveitou de uma brecha do sistema e casou-se consigo mesmo, garantindo assim o seu futuro na empresa.
Hoje em dia o nosso personagem Pedro vive feliz e bem casado, morando sozinho e fazendo lindos casaquinhos de crochê, mas diz que não pretende ter filhos. Paulão se tornou seu melhor amigo, garantindo assim uma amizade que se tornaria de anos entre eles. FIM.

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