Não estou falando de cidades do Sul do Brasil, onde os flocos de gelo eventualmente dão o ar de sua graça. Falo da “caliente” Santos, que continua linda e agora próspera, com: projetos de expansão portuária, exploração do pré-sal e melhoria da infraestrutura empresarial e turística, de lazer e cultura, a exemplo do que também acontece em toda Baixada Santista, Costa da Mata Atlântica, sem descuidar do meio ambiente.
Nevar em Santos?
Bem, é verdade que este ano tem sido bem mais ameno que os anteriores, com temperaturas e dias bastante agradáveis. De gelo, por aqui, só raríssimas chuvas de granizo.
Será que isso é efeito das alterações climáticas? Pode ser, mas daí a nevar por aqui ainda levaria um tempo razoável, que a gente prefere continuar vendo só em filmes de ficção científica.
Mas neve faz parte do imaginário dos povos tropicais, ainda mais em tempos natalinos. A gente pode adorar praia, mas sonha em, ao menos uma vez na vida tocar esses flocos mágicos, fazer um boneco de neve ou uma guerrinha de bolas. Confesso que, a primeira vez que vi uma nevada pareci um menino diante de um brinquedo novo, bonito e inesperado, embora soubesse que ela estaria lá, nos Alpes de um distante janeiro. Mesmo assim, quando minha mulher anunciou que um “shopping” da cidade “faria nevar” no sábado, e que não perderia isso por nada, apaixonada pelo Natal, meu lado cético, cartesiano, de engenheiro logo conclui, pragmaticamente, que a tal “neve” seria um jato d’água com detergente biodegradável, politicamente correto, e que haveria alguns riscos envolvidos, como: escorregadelas, ardor nos olhos e prejuízos irreparáveis aos penteados volumosos, a custa de litros de laquê, de algumas senhorinhas.
No horário quase preciso, lá estávamos nós, mulher filho e eu, diante do “shopping”, com todo aparato preparado: isolamento viário; policiamento, para evitar ação de “amigos do alheio”; Papai Noel; aparelhagem de som, entoando músicas de Natal, etc.
Olhei para a fachada do imponente edifício e, para minha satisfação científica, constatei vários dispositivos que, ratificando minha previsão, estavam lá, prontos para produzir suas micro-bolhas de sabão. Nada de surpreendente, a não ser o rosto iluminado de minha mulher – que sempre se renova – e brilho adolescente de meu filho, que nunca deixará de ser um menino aos meus olhos.
Quando o espetáculo mais do que anunciado começou, no entanto, o ceticismo científico abriu alas e caminho para o lado pueril, poético:
O céu estava limpo e não havia vento significativo, pelo quê a “neve” caía com um leve bailado. As pessoas aplaudiam, exclamavam, tiravam fotos. As crianças corriam para apanhar os “flocos” no ar. Pessoas se abraçam. Desconhecidos se falavam como não fosse assim. Os carros reduziam velocidade, os vidros eram abertos, todos com largos e surpresos sorrisos.
De repente, calçada, rua e cabelos estavam cobertos de neve. As senhorinhas dos volumosos penteados estavam lá, mas pouco se importaram com o “estrago” e ainda aproveitaram para ensaiar coreografias.
Até eu, em meio aqueles minutos de magia, tomei minha musa nos braços e dancei ao som de antigas canções.
Inegavelmente, foi uma ótima iniciativa de “marketing” do “shopping”! Mas, prefiro ser um pouco mais romântico e acreditar que é preciso sempre fugir da rotina, por mais previsível que for o evento, para nunca esquecermos que a vida é muito mais do que trabalho, regras, obrigações e compromissos.
Nevou em minha cidade, sim! E o calor humano aqueceu todos os corações!
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor
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