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Educação de surdos: aspectos relevantes sobre língua e linguagem

Educação de surdos: aspectos relevantes sobre língua e linguagem

Publicado originalmente como www.partes.com.br/educacao/educacaodesurdos.asp

Renata Gomes Camargo*

 

Renata Gomes Camargo é acadêmica dos Cursos de Fonoaudiologia e Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: re_kmargo@hotmail.com

Resumo: Este trabalho consiste em uma análise de aspectos relevantes relativos à uma apreciação da língua e linguagem, com base em um período de observação participante realizado em uma escola que trabalha com Educação de Surdos na cidade de Santa Maria/RS. Utilizando-se de exemplificações de vivencias significativas experenciadas no contexto da sala de aula, o texto traz uma discussão reflexiva, sobre cultura e identidade surda estabelecendo ligações com a importância da língua de sinais na educação de surdos no processo de ensino- aprendizagem dos sujeitos surdos, trazendo colocações e estudos de diversos autores para conferir o aprofundamento pertinente á discussão.

 Palavras-chave: Educação de Surdos, Observação, Língua de sinais, Linguagem.

Abstract: This paper presents an analysis of important aspects of an assessment of language and language based on a period of participant observation carried out in a school that works with Deaf Education in Santa Maria city. Using the exemplifications of significant life experiences experienced in the context of the classroom, the text provides a reflective discussion on culture and deaf identity by establishing links with the importance of sign language in deaf education in the teaching and learning of deaf subjects bringing placements and studies of several authors to check the depth relevant to the discussion.

Key-Words: Deaf education, Observation, Sign language, Language.

 

 

 

Introdução

Quando se experencia situações em contextos educacionais onde que a diferença está muito bem demarcada e em um ambiente propício para a manifestação e uso desta, a realidade toma outras dimensões, aonde muito mais que o conhecimento sobre determinada temática, surge a necessidade de ter maior sensibilidade para conseguir ter uma participação e vivência significativas neste espaço, como é o caso da educação de surdos.

Neste sentido, o presente trabalho parte das percepções relativas á língua e linguagem pautadas em observações realizadas em uma escola de que trabalha com educação de surdos na cidade de Santa Maria/RS, com duração de 1 mês, na turma 3º ano do 1º ciclo, da qual fazem parte 3 alunos surdos com idade de 8 anos, onde percebeu-se claramente a presença das colocações feitas nos parágrafos anteriores.

Tendo ciência da riqueza de informações e experiências apreendidas neste curto espaço de tempo, vê-se a significância compartilhar estas vivências, realizando algumas reflexões e análises pertinentes, como a importância da língua de sinais no processo de ensino aprendizagem através da valorização da cultura surda.

A reflexão que se propõe para este artigo parte da abordagem qualitativa da pesquisa, pois segundo Bogdan & Biklen (1994) os dados coletados não podem ser quantificados, mas sim analisados pelo seu conteúdo, como método propriamente dito, se utilizou a observação participante, definida por Gil (2006, p. 113) como “A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação determinada”.

Discussão e análise

Colocar-se-á no presente artigo informações á respeito da observação realizada na escola de surdos já nomeada, que ilustram a discussão que se vai realizar, voltada para a importância da linguagem na educação de surdos, que é demarcada por uma diferença cultural.

Sendo assim, a contextualização inicial parte do fato de que apesar de os alunos observados, estarem iniciando seu processo de inserção na comunidade surda, já que são filhos de pais ouvintes e só entraram em contato com esta cultura ao ingressar no ensino formal na escola de surdos, já se evidencia o uso de elementos culturais e formas de perceber o mundo permeados pelas características desta diferença cultural.

Neste sentido, Lopes (2008) salienta que a cultura surda constitui-se na percepção do surdo como um sujeito que utiliza-se de uma língua diferente, a língua de sinais, e uma experiência de vida, construção de sentidos e visão de mundo marcados pela valorização de aspectos visuais, e partindo dela existe a comunidade surda, onde forma-se um grupo que valoriza e vivencia sua cultura, trocando informações, que, na interação entre os membros, desencadeiam contribuições no seu fortalecimento e identificação.

A importância da presença do instrutor surdo na educação destes sujeitos é um dos pontos mais relevantes que se pode conferir durante a observação, pois a troca de informações é imediata e com a qualidade de entendimento que só é proporcionada pela comunicação na língua materna, o que gera uma ampliação das aprendizagens, bem como pelas associações que fazem com a realidade dos alunos através da língua de sinais que é a língua de instrução, proporcionando uma linguagem compartilhada e rica, que gera a significação da aprendizagem.

Para exemplificar a situação supra colocada, traz-se as atividades de duas aulas, uma onde se explicou a importância da observação do semáforo e o que cada cor representa e a resolução de problemas matemáticos utilizando a contagem com tampinhas, questões relativas ao cotidiano dos alunos que pode ser entendido por eles na sua língua materna, logo, com melhor compreensão demonstrada através da interação estabelecida.

Corroborando com esta afirmação, se traz ainda a questão da construção da identidade surda pelas crianças, ainda mais importantes em casos como os dos alunos observados, em que os pais ouvintes não se interessam pela aprendizagem da língua de sinais, dificultando o entendimento da criança como sendo uma pessoa surda e suas possibilidades relacionadas à sua diferença.

Skliar (1992, p.132) salienta que as pessoas surdas compartilham uma mesma identidade pelo fato de serem usuárias de uma mesma língua, sendo para muitas delas a única forma de realizarem suas atividades discursivas, que ajudam-nas a elaborarem suas concepções, ideias e formulação da subjetividade.

Na interlocução dos alunos com as estagiárias surdas a troca e vivencias são tão fortes, que mesmo em tempos de descontração, como o intervalo, eles as buscam para interagir e procuram agir imitando-as que se configuram como um modelo à ser seguido, estando a construção da identidade relacionada á este fato.

Ainda, se ressalta que é a língua através da linguagem que identifica as pessoas, pois é através da comunicação que expressam seus pensamentos, trocam experiências e aprendem, Lopes (2008, p.20) salienta esta afirmação trazendo que, a realidade e a constituição das pessoas enquanto sujeitos subjetivos e ao mesmo tempo sociais, só interessa e concretiza-se quando está linguisticamente conectada aos sujeitos, ou seja, quando estes fatores são internalizados pela linguagem, neste se vê um excelente desenvolvimento, já que comunicam-se intensamente e fluentemente com as demais pessoas da comunidade escolar, fazendo uso dos elementos formais da língua de sinais.

Papalia (2006, p.213) traz que um sujeito que tem a capacidade de fazer uso da linguagem, como sistema de comunicação que tem por base palavras e gramática, demonstra um elemento essencial para que ocorra o desenvolvimento cognitivo, já que as crianças conseguem fazer representações, reflexões, comunicar suas necessidades de todas as ordens e começam a controlar suas vidas, que são ações mais elaboradas e difíceis em comparação à atos essencialmente motores.

A intensidade de interações e relações estabelecidas pelo uso da Língua Brasileira de Sinais-LIBRAS-, enriquecem ainda mais seu processo de ensino-aprendizagem, estando os alunos o tempo todo solicitando as professoras, buscando opiniões e informações, por exemplo, saber o porque alguém estava os observando ou a finalidade de certa atividade.

Isto contribui também para a percepção de como devem comportar-se em sala de aula, pelo entendimento que tem com as educadoras, respeitam-nas, sempre pedindo permissão para fazer o que querem, estando sempre atentos às explicações, interessados e dedicados às atividades.

Os trabalhos em grupo são muito apreciados por eles, pois podem conversar à vontade, em um dia de observação em especial se percebeu o quanto isso é benéfico para sua aprendizagem, pois um colega que contava a historia observando as figuras para os demais foi ajudado pelo outro que mostrou a ilustração de uma minhoca pequena quase que escondida na pagina, fazendo com que o outro precisasse reestruturar sua historia.

Conclusão

Considera-se importante a valorização da cultura e identidades surdas na sua educação, por exemplo, pelo entendimento da importância da presença de um instrutor surdo, bem como o estabelecimento da Língua Brasileira de Sinais como língua de instrução e comunicação primordial, por ser a língua materna dos surdos, o que é realizado na escola de surdos onde realizou-se a observação.

Isto coloca a importância da linguagem, onde o educador precisa buscar entendê-los para qualificar a comunicação, proporcionados pela amplitude da linguagem, especialmente através da Língua de Sinais, mas não limitando-se à ela, e sim buscando todos ações comunicativas que os alunos apresentam, por exemplo, a expressão, direcionando as atividades e que cada aluno nos comunica, para que estas aprendizagens sejam realmente significativas.

Infelizmente, para a maioria das pessoas surdas ainda não é dada a chance de estudar em uma instituição que considere estes fatores, que auxiliam, ou melhor, constituem uma educação de qualidade, preocupada em propiciar tudo aquilo que necessário para isso, pois se sabe da importância da configuração do meio social para a efetivação das aprendizagens.

Referências bibliográficas

 

BORGDAN, R. & BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação:uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto, 1994.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas em pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2006.

 

HESSEL, C.; ROSA, F.,  KARNOPP, L. B. Cinderela Surda. Canoas: ULBRA, 2003.

 

LOPES, M. C. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

PAPALIA, D. E. (col.). Desenvolvimento humano. 8.ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

ROSA, F; KARNOPP, L. B. Patinho Surdo. Ilustrações Maristela Alano. Canoas: ULBRA, 2005.

SKLIAR, Carlos (org.). Atualidade da educação bilíngüe para surdos. Porto Alegre: Mediação, 1999, v.2.

* Acadêmica dos Cursos de Fonoaudiologia e Educação Especial da Universidade Federal de Santa Maria. E-mail: re_kmargo@hotmail.com

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