José Reinaldo F. Martins Filho
publicado em 03/09/2010 como www.partes.com.br/reflexao/trabalhoeglobalizacao.asp
A relação entre trabalho e globalização ocupa, na sociedade atual, importante posição dentre os temas conflituosos a serem discutidos. É um verdadeiro duelo de Gigantes, o que pode gerar inúmeras implicações. Percebe-se claramente que as consequências oriundas de tal embate não são as mais otimistas. Mesmo trazendo consigo vários benefícios, em especial no campo econômico, a globalização instaura problemas catastróficos quando posta diante da dinâmica do trabalho. Vários são os efeitos negativos dessa relação desarmônica, contudo, dentre eles, faz-se salutar destacar três pontos que se revelam fundamentais para a presente discussão. Em primeiro lugar, o desemprego que assola grande parte da população mundial; segundo, o movimento migratório; por fim, em terceiro lugar, o desenvolvimento de mecanismos de exclusão social, cada vez mais acirrados. A sociedade clama por respostas.
No campo do trabalho, graças ao processo de globalização, as taxas de desemprego crescem espantosamente. Até mesmo as cidades consideradas de primeiro mundo apontam índices de desempregados que giram sempre em torno de altos números percentuais. A situação é crítica. Não bastando o aumento descontrolado do número de desempregados, surge ainda uma nova categoria, denominada inempregáveis. Pessoas que por não corresponderem aos padrões e estereótipos do mercado – idade, peso, formação – e uma vez que se encontrem desempregados, não conseguem, com facilidade, encontrar outra forma de emprego, ficando sujeitos a viver à margem da sociedade. Os meios de trabalho são cada vez mais escassos. A globalização assume o lugar de uma terceira revolução industrial, na qual os antigos modelos de produção sedem lugar às novas tendências. O empregado é substituído, na maioria dos casos, por máquinas que tornam o trabalho mais barato e, por decorrência disso, mais lucroso para o empresário. O homem se torna um objeto de escambo.
Devido à falta de trabalho é tecido um novo mapa mundial. Com o exército dos desempregados aumentando de maneira incalculável, muitos se sentem forçados a sair de sua terra de origem e partir rumo a novos horizontes, à procura de melhores oportunidades de sobrevivência. O movimento migratório de centenas de milhares de pessoas acaba gerando um desequilíbrio na atual situação da sociedade. Pelo fato de não suportarem tamanho número de imigrantes, muitos países começam a tomar medidas drásticas, nas quais é prevista a exportação de todo e qualquer estrangeiro que se encontre em seu território com fins de trabalho. Daí surge o seguinte questionamento: o que será feito dessas pessoas que não conseguiram encontrar mecanismos de sobrevivência digna em seu próprio país e agora são enxotadas do lugar em que habitam? A necessidade não espera.
A pior marca deixada pelos problemas acarretados do contato entre trabalho e globalização é a exclusão. Tal exclusão se aplica das mais variadas maneiras. Pelo grande contingente de desempregados as empresas, tendo em vista sua possibilidade de escolha, empregam métodos, na seleção de seus candidatos, que possuem, mesmo que de maneira oculta, características excludentes e, até mesmo, racistas. O estereótipo do candidato é levado em consideração, evidenciando a preferência e as exigências do mercado. Além disso, cresce assustadoramente a instituição de subclasses, nas quais os indivíduos abdicam sua posição de cidadãos, com direitos e deveres, passando a constituir um grupo além das margens da dignidade social. O desprezo do homem pelo homem cresce desenfreadamente.
A atual situação clama por mudanças. Não se pode negar que da maneira em que se encontra a sociedade não pode continuar. Entretanto, infelizmente, o que até o presente momento tem vigorado no mundo é a propagação do capitalismo, do consumismo, do hedonismo, todas doutrinas que não proporcionam um olhar para o próprio redor. As palavras de ordem são: produtividade, competitividade, e lucratividade. Toda a sociedade deve se preparar para essa mudança do paradigma produtivo, no qual o progresso tecnológico é tido como meta a ser alcançada, custe o que custar. Caso cada indivíduo não arregace as mangas e se ponha a lutar contra a edificação deste império catastrófico, fazendo aquilo que estiver ao seu alcance, desde as pequenas atitudes até os mais suntuosos protestos, o amanhã do planeta está condenado à perdição e à destruição. Essa adaptação de paradigmas está sendo realizada com um custo social muito elevado e consequências imprevisíveis para as gerações vindouras. O futuro da sociedade está em nossas mãos.
MARTINS FILHO, J.R.F. Duelo de gigantes: o confronto entre trabalho e globalização. Revista virtual Partes, Setembro de 2010.