Larissa Daiane Pujol Corsino dos Santos1
publicado em 03/08/2010
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De acordo com Ian Watt, com o crescimento do capitalismo no século XIX, aumentaram-se as buscas pela liberdade e individualismo pessoal. Isso levou a sociedade a valorizar cada aspecto do indivíduo e a mostrar a variedade de caráter entre as pessoas, as quais interessariam às outras pessoas, logo, aos leitores. O avanço do individualismo focalizou na vida cotidiana algo interessante para se enquadrar na literatura, e o romance, nesse sentido, torna-se a peça-chave fiel à experiência comum, criando um público interessado no processo psíquico humano e no desenvolvimento econômico para a formação da sociedade moderna.
A autonomia do indivíduo, segundo Watt, acarreta na ausência de laços sociais convencionais. O mundo dos interesses e da ascensão pessoal levou o homem a se empenhar para manter o estilo de vida individualista. No romance, a autossuficiência oferece ao personagem a possibilidade de enfrentar seus problemas com preocupação espiritual. A introspecção é um modo para que o indivíduo, através da solidão, realize seu autoexame e analise suas atitudes passadas e atuais, proporcionando a evolução da sua personalidade.
A transcrição exata dos processos psicológicos e a descrição da consciência humana estimulam uma produção literária adequada às abordagens dos problemas pessoais com maior rigor. O leitor de um romance percebe sua mimese, ou seja, segundo Eric Auerbach, o relato completo da experiência individual, suas divisões e seus conflitos, em contraste com a experiência comum.
De acordo com Octávio Paz, o romance tem de ser poesia e prosa ao mesmo tempo. A primeira transforma-o e poema e mostra a prodigiosa realidade do mundo e suas possibilidades. Ela transmite a visão profética daquilo que é documentado, analisado e raciocinado pela prosa. Através da poesia, o romance assume a fantasia e a satisfação do leitor ao registrar sentimentos e uma vida imaginária que se assemelha a verdade literal – o que, segundo Watt, não passa de uma gratificação irreal dos desejos do leitor. No entanto, conforme Roland Barthes, o que é irreal na teoria do texto realista, é um código de representação das ações humanas através da linguagem – É o que Searle identifica como “asserção fingida”: um caráter de pastiche da língua literária que imita a língua real, causando a ilusão entre o mundo real “possível” e o mundo real “concreto”. Dentro da ficção, conforme Antoine Compagnon, o leitor encarna o “possível”, e enquanto durar, considera-o verdadeiro, aplicando o que lê à sua situação.
Portanto, de acordo com Watt, ao que concerne à missão do escritor de tornar visível na cena humana o funcionamento da ordem universal, a obra é um instrumento ótico que o leitor permite discernir aquilo que sem a mesma, talvez, não visse em si próprio. A leitura, segundo Compagnon, oferece ao indivíduo autoconhecimento e auto-compreensão para que seus valores sejam aperfeiçoados com as experiências e expectativas proporcionadas pelo enredo.
Referências Bibliográficas:
AUERBACH, Eric. Mimèsis. La Représentation de la Réalité dans la Littérature Occidentale. Trad. fr. Paris: Gallimard, 1968.
BARTHES, Roland. Critique et Vérité. Paris: Éd. Du Senil, 1966.
COMPAGNON, Antoine. O Demônio da Teoria. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2003.
PAZ, Octávio. Os Filhos do Barro. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984.
SEARLE, John R. Les Actes de Langage. Trad. fr. Paris: Hermann, 1972.
WATT, Ian. A Ascensão do Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
1 Poeta. Especialista em Literatura Brasileira. E-mail: pujol.larissa@gmail.com
Como citar este artigo:
SANTOS, Larissa Daiane Pujol C. dos. O ajuste capitalista e individualista na literatura: uma visão sobre a produção romanesca. P@rtes (São Paulo). V.00 p.eletrônica. Agosto de 2010. Disponível em <>. Acesso em _/_/_.