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Nikolai e os questionamentos à gestão da educação

Nikolai1  e os questionamentos à gestão da educação

Maria Joceli dos Santos Figueiredo; Rodrigo Neres de Morais2

publicado em 02/08/2010 como www.partes.com.br/educacao/nicolai.asp

 

“Querer saber – o que parece tão difícil – se não é errado, entre tantos seres vivos que praticam a violência, ser o único ou um dos poucos não violentos, não é diferente de querer saber se seria possível ser sóbrio entre tantos embriagados, e se não seria melhor que todos começassem logo a beber.”

(Leon Tolstoi)



Professores graduados em História e Pós-graduandos em Planejamento e Gestão da Educação pela Universidade Regional Integrada – URI – Campus de Santiago. E-mail: rodrigoneres1@gmail.com

Olá! Prazer, meu nome é Nikolai. Sou um menino muito curioso, gosto de questionar, para tentar entender um pouquinho mais as coisas que as vezes me parecem embasadas. Talvez pelo próprio vapor da dúvida, assim como o espelho do banheiro após um bom banho quente.

Na minha vida não almejo muita coisa, tenho um simples desejo, que é constante e latente em meu coração: quero ser uma boa pessoa. Mesmo, nem sempre, sabendo a melhor maneira de fazer isso.

Para traçar um caminho a seguir, rumo ao encontro de minha felicidade, conquistando meus objetivos é que, depois de muito pensar, planejei três perguntas com o intuito de que as suas respostas me auxiliassem nessa tarefa. Já questionei muita gente e muitas coisas também. Comecei com os meus amigos mais próximos e fui estendendo para outras pessoas, suas maneiras de pensar e agir, ideologias, instituições, fatos sócio-históricos, normas e conveniências. Como pode perceber, incomodei e mexi com as estruturas de muitos seres.

Recentemente meu olhar recaiu sobre algo que vem ganhando evidência na literatura educacional e que segundo a escritora Heloísa Lück (2006, p.33), foi a partir da década de 1990 que esse tema se intensificou e “vem-se constituindo em um conceito comum no discurso de orientação das ações de sistemas de ensino e de escolas.” Você tem idéia do que seja? Se prestou atenção ao título, com certeza já matou a charada.

Primeiro, com base em meus estudos e da ajuda especializada de amigos como MORIN, KUHN, e a já citada LÜCK , entendi que o conceito de Gestão busca um novo entendimento que extrapola a simples noção de ordenamento de uma instituição, fazendo com que haja conexões entre as partes e setores que formam o todo, sendo as mesmas vistas e entendidas como importantes para o sucesso dos processos.

Professores graduados em História e Pós-graduandos em Planejamento e Gestão da Educação pela Universidade Regional Integrada – URI – Campus de Santiago. E-mail: rodrigoneres1@gmail.com

Descobri que durante um bom tempo esse ordenamento estava relacionado à Teoria da Administração e que esta buscava a excelência da produção e serviços prestados. Com as mudanças provocadas pela Musa Clio e procurando levar-se em conta questões relacionadas a ordem sociocultural, o termo Gestão, voltado a educação, foi obrigado a sofrer algumas mudanças conceituais. Lembrando que agora “a concepção de gestão supera a de administração e não a substitui” (LÜCK, 2006, p.39), pois o que é levado em conta são justamente, as limitações que o termo no viés administrativo possui e para que se tenha uma construção de gestão educacional, faz-se necessário superar tais barreiras.

Certo! Penso que estou progredindo no entendimento de uma nova Gestão que abarque para si todas as necessidades que o pensar educativo tem. Por que pensar na dinâmica do sistema de ensino como um organismo vivo, visto de forma holística (como um todo), levando em consideração as especificidades de cada realidade social, caminhando junto à legislação, diretrizes e políticas públicas educacionais e buscando vivenciar, tornando reais os princípios de cidadania, autonomia, cooperação e participação democrática, é conhecer as raízes da Gestão da Educação.

Sendo que é a partir dessa concepção educativa que eu lancei meus questionamentos à Gestão. Lembra que possuo três perguntas? Agora revelarei para você a primeira delas: Qual é o melhor momento para fazer as coisas? Procure responder. Primeiro leve em consideração sua própria vida e depois tente transferir seu pensamento para o nosso objeto de estudo em questão.

Nesse momento contarei com a ajuda de três distintos Gestores que me ajudarão a encontrar as respostas que necessito. O primeiro é o Gestor Ícaro, que ao ser questionado respondeu: – É preciso planejar com antecedência, para saber o melhor momento de fazer as coisas. O segundo é o Gestor Baco e para ele: – Só saberemos quando fazer as coisas se observarmos e prestarmos muita atenção ao nosso redor. Já o terceiro, o Gestor Ares colocou que: – Não podemos prestar atenção em tudo sozinhos. Precisamos de companheiros para nos ajudar a resolver quando fazer as coisas.

As respostas para a primeira pergunta ainda não me foram satisfatórias, parece eu está faltando algo, mas não sei o que. Vamos então para a segunda pergunta: Quem é mais importante? Pense um pouco, quem sabe você consegue me ajudar.

Para o Gestor Ícaro é mais importante quem sabe voar, quem está mais próximo do céu, nas alturas. Quem sabe curar os doentes foi a resposta do Gestor Baco e para o Gestor Ares é mais importante quem faz as leis. Pelo o que pude entender seriam mais importantes: primeiro as pessoas que estivessem em altos cargos, depois os médicos ou os com a capacidade de pacificar conflitos e depois quem elabora as leis? Ai ai… Não estou conseguindo chegar a uma conclusão.

Tá! Qual é a coisa certa a ser feita? Essa é a minha terceira e última pergunta e garanto que você já tem uma resposta, vamos diga! Para o Gestor Ícaro é voar, para o Gestor Baco é divertir-se o tempo todo e o Gestor Ares defende a ideia, que é brigar. E Você concorda com algum? Discorda? Porquê? Me ajude, por favor! Estou perdido.

Eureca! Vou pedir ajuda a um quarto gestor e até já sei quem. A escola Colméia tem chamado muita atenção pelo seu modelo de gestão, é lá que vou encontrar minhas respostas.

– Olá Gestora Sofia! Vim pedir sua ajuda, tenho três perguntas e gostaria que ambas fossem respondidas a luz do entendimento do que é Gestão Educacional e… O que a senhora está fazendo?

– Estou ajudando na decoração da escola para a Copa.

– Posso lhe ajudar? Eu consigo alcançar os suportes para prender as bandeirinhas.

– Claro que pode!

– Puxa! Como ficou bonita a sua escola.

– É, a nossa escola, ficou mesmo muito bonita graças ao trabalho de nossos alunos, professores, funcionários e colaboradores, assim como você.

– Que legal! Mas… O que está acontecendo naquela sala?

– Há, estamos realizando mais uma etapa do nosso projeto de Educação Fiscal.

– Sério! A senhora sabe que eu realizei um trabalho uma vez, sobre toda a história do nosso sistema monetário. Aprendi muito.

– Não quer apresentá-lo para nós?

– Apresentar? Eu? Acho que não. Foi só um trabalho de escola e apresentei uma única vez para a minha turma e nunca mais.

– Então, quem sabe, conte-nos a sua experiência. Como foi realizar esse tipo de trabalho. Venha! Vou lhe apresentar ao grupo.

– O sinal tocou e eu nem percebi que o tempo passou. Muito obrigado Gestora Sofia eu nem imaginava que poderia ser útil para um trabalho como esse. Me envolvi tanto que até esqueci…

– Esqueceu do quê?

– De lhe cobrar as respostas para as minhas três perguntas.

– Ora, creio que você já encontrou a resposta para elas.

– Como assim?

– Vou explicar: Quando você chegou, percebeu que eu estava com dificuldade e me ajudou. Se não tivesse feito isso, não teria conhecido alguns dos projetos que realizamos aqui na escola. Então o melhor momento foi aquele que você me ajudou. Naquele momento a pessoa mais importante fui eu, e a coisa mais certa foi me ajudar. Depois quando você participou do projeto de Educação Fiscal, o momento mais importante foi quando relatou suas experiências. Quem era mais importante era os alunos e professores que lhe ouviram. E a coisa mais certa a fazer foi ajudá-los com a sua participação.

– Lembre-se de que há um só momento mais importante, e esse momento é agora. Quem é mais importante é quem está com você, indistintamente. E a coisa certa a ser feita é procurar melhorar a realidade de quem está com você, mesmo com pequenas ações, como começando preocupar-se em questionar o que é Gestão e a sua aplicabilidade, funcionalidade e entendimento na educação, como você fez.

– Nossa! Gestora Sofia, eu não tinha me dado conta disso. Pois, a lógica da gestão é procurar horizontalizar as relações, seguindo princípios democráticos com o reconhecimento da importância que a participação consciente de todos os integrantes da comunidade escolar tem para o processo de melhoria da Educação, e este visto como um todo. Unindo-se a outras ideias, como nos fala LÜCK (2006, p.49), “idéias globalizantes e dinâmicas em educação, como, por exemplo, o destaque à sua dimensão política e social, ação para transformação, práxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa, organização do ensino …”

Pelo jeito, hoje, acabei aprendendo mais um pouquinho sobre a Gestão da Educação e acredito que isso foi possível, devido o que propõem KOSIK (1976, p.18), “o homem, para conhecer as coisas em si, deve primeiro transformá-las em coisas para si”. E por hoje é só. Até a próxima, tchau!

REFERÊNCIAS

LÜCK, Heloísa. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. Petrópolis: Vozes, 2006.

MUTH, Jon J. As Três Perguntas: baseado numa história de Leon Tolstoi. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

1 Personagem do Livro: MUTH, Jon J. As Três Perguntas: baseado numa história de Leon Tolstoi. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

2 Professores licenciados em História e Pós Graduandos em Planejamento e Gestão da Educação pela URI – Campus de Santiago. E-mail: rodrigoneres1@gmail.com

 

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