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Autoestima e saúde na prática docente, emergindo como desafios para professores do ensino fundamental

Ilma Aparecida Gonçalves1

publicado em 02/08/2010 como <www.partes.com.br/educacao/autoestimaesaude.asp>

Resumo

Tendo como objetivo contribuir com as reflexões referentes aos fatores que interferem na prática docente, emergindo como desafios para o profissional da educação. Este trabalho busca investigar os conflitos, condições de trabalho e o bem estar dos professores, bem como verificar seus suas angústias e, principalmente, sua autoestima no cotidiano escolar. Com o interesse de conhecer e mostrar a realidade docente, o presente estudo verifica se as condições de trabalho e saúde relacionam-se com a construção da práxis docente. Para tal é utilizada uma pesquisa descritiva, o método fenomenológico, uma análise documental, pesquisa bibliográfica e questionários. Os resultados demonstraram que há uma precariedade nas condições de trabalho docente e também um acarretamento de manifestações e sintomas de adoecimento físico e psicológico nos professores.

Palavras chaves: Professores, Condições de trabalho, Identidade, Adoecimento, Autoestima.

Abstract

The objective of this woks contribute with the reflections about the factores that interfere in teaching practical as chalenges to the education professional. This work searches to investigate the conflicts, the work conditions and the teachers wellbeing, as well as to check his anguish and mainly his selfesteem in your school routine. With the interest to know and to show the teaching reality, this study checks if the work conditions and health is related with the building of the praxis. As such is used a analysed research. The phenomenal method, a documentary analyses, bibliography research and questionnaires. The results demonstrate that there’s a precarious conditions of work that cause manifestations and illness symptoms physical and psychologic in the teachers.

Key words: teachers, work conditions, identy, illness selfesteem

Introdução

O trabalho de docência tem sido cada vez mais alvo de estudos e pesquisas, devido ao alto índice de baixa autoestima, estresse e adoecimento que os professores têm enfrentado em suas jornadas de trabalho, principalmente aqueles que vivenciam em sua profissão um processo ainda maior de desvalorização.

É comum ouvir em sala de professores e/ou em encontros de coordenação pedagógica reclamações relacionadas ao cansaço, desânimo e falta de motivação para enfrentar o cotidiano escolar, principalmente, em desenvolver a atividade em sala de aula.

Muito se fala das dificuldades de aprendizagem e falta de motivação dos alunos, do desinteresse e descaso das famílias pelos filhos. E os professores como são vistos no processo pedagógico? Como o professor está diante de tantos conflitos? Quais são as condições de trabalho, bem como, apoio ético e moral que eles têm recebido para ministrar um ensino de qualidade? E para o professor que as circunstâncias lhe obrigam a enfrentar uma jornada de quarenta ou até mesmo de sessenta horas semanais na escola, como deve ser o ambiente escolar? Qual o nível de satisfação e bem estar do professor no ambiente escolar? E por fim, como está a sua saúde?

O trabalho docente está intrinsecamente ligado às relações humanas, principalmente, na dimensão afetiva e elas desempenham um papel respeitável na satisfação profissional dos docentes, consequentemente em sua autoestima. É necessário preocupar-se com o bem estar emocional e as condições que determinem um equilíbrio nas relações humanas nas instituições educacionais para que haja uma boa prática educativa.

Logo essa pesquisa justifica-se pela preocupação de investigar os conflitos, condições de trabalho e o bem-estar dos professores em sua práxis, bem como verificar os seus suas angústias e sua autoestima dentro do cotidiano escolar. Considerando que educadores que sonham com uma educação de qualidade no universo escolar, essencialmente, precisam conhecer e reconhecer o bem estar profissional como coeficiente para o saber – fazer pedagógico.

Por isso a presente pesquisa tem como objetivo identificar os fatores sócio-pedagógicos que interferem na prática docente dos professores do Ensino Fundamental das escolas públicas, assim como as condições de trabalho e de saúde, oportunizando a reflexão sobre o panorama atual destes professores e sua realidade, quiçá contribuir para o bom desencadeamento ou melhoramento do processo educativo.

Os objetivos que nortearam esta pesquisa estavam calcados na hipótese de haver uma relação entre a organização do trabalho e o processo de autoestima e adoecimento dos professores, pois à natureza da rotina profissional dos docentes pode-se transformar em um processo exaustivo e estressante.

Para reunir as informações e os dados relacionados à temática em estudo foi aplicado um questionário objetivo a todos os professores atuantes nas séries iniciais do Ensino Fundamental, de uma escola de Santa Maria-DF, sobre a visão do professor em três dimensões: sobre si, sobre as suas condições de trabalho e os sentimentos que o envolvem no dia a dia. O questionário não identificou o professor, nem a instituição para a qual ele trabalha. Os dados coletados foram submetidos a uma análise quali quantitativa.

A pesquisa de caráter descritivo seguindo as definições de Gil, (2002 p. 42) que destaca, “as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial à descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então estabelecimento de relações entre variáveis”. Traz uma abordagem teórica apresentando o processo educacional, a prática docente assim como as dificuldades enfrentadas pelo profissional no ambiente físico e emocional.

Desenvolvimento

Há séculos, o ensino ocupa um destacado lugar no âmbito dos valores sociais. Na antiguidade Sócrates, início do século VI, antes de Cristo, já debatia sobre o papel dos mestres e o valor do ensino dado pelos sofistas, colocando que o real conhecimento era algo que não poderia ter valor, ou seja, impagável.

Na modernidade estudos referentes à educação reafirmam a dimensão do processo educativo como Codo (2006), que coloca que a educação é onipresente, onisciente e incomensurável, pois não tem um ambiente, ocupa todos os lugares, não tem princípio nem fim, acompanha todos os períodos da vida, pois é obra de todos em uma relação de dar e receber, onde o professor acompanha o processo de construção, e também constrói e incorpora conhecimentos novos. E estes conceitos são dados dentro do contexto que o próprio Freud (1996) afirmou que educação é uma tarefa impossível.

Diante das impossibilidades e principalmente da responsabilidade de conduzir o processo educacional a luta pela valorização do ensino e a adoção de valores éticos dentro da educação são batalhas travadas antes de Cristo (por volta do século V e VI), percorrendo a colonização, onde foi imposto um método e uma maneira de dogmatizar os sujeitos a favor de uma minoria dominante e chegando a modernidade com grandes desafios a serem vencidos.

A história da educação demonstra que um professor estabelece relação em todos os campos educativos desde sua relação conceitual de conhecimentos a relação, essencialmente, humana com o aluno, que mostra que um professor desmotivado, consequentemente desmotivará seu aluno, portanto a formação do professor implica na sua função e intervém de forma decisiva no exercício da docência.

Diante de tantas exigências como ser uma pessoa altamente competente, estar disposto à atualização contínua entre outras, há necessidade de identificar, desvendar e revelar a identidade docente que deriva da certeza de que ela é uma forma de compreender e atribuir relevância do ser professor dentro do contexto histórico educacional.

Os papeis escolares estão definidos ideologicamente, segundo prerrogativas sociais, econômicas e políticas consequentemente atreladas a classe dominante, (CUNHA,1989; LUCKESI,1994; FREIRE,1996), onde o professor possui um papel primordial, porém não é reconhecido como tal, reforçando a importância de conhecê-lo melhor.

Segundo a crítica de Bourdieu e Passeron (1975) a escola é a principal instituição responsável pela reprodução e legitimação do capital cultural dominante, pois é ela que estabelece normas de conhecimento, comportamento e linguagem. Fato esse que condiciona a profissionalização docente ao crivo do desenrolar social dentro do tempo e espaço.

Nessa concepção é necessário que o professor reconheça a sua importância, assuma suas responsabilidades educacionais com compromisso e principalmente com coerência, com uma visão formativa atual e consciente do papel social e pedagógico como agente transformador de sua prática. (FREITAS, 1998), para que esse processo se realize é importante o domínio das competências.

Competências são definidas por Marchesi (2008, p. 26) como “habilidades necessárias para se desempenhar uma determinada tarefa em um contexto laboral determinado”. A medida que o professor adquiri habilidade para desenvolver suas competências conquista a sua identidade profissional.

Fazendo um viés dessa ideia Gadotti (2003) reforça “o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, sobretudo, um organizador da aprendizagem”, sendo um profissional imprescindível para a sociedade atualmente.

Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Os educadores, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber – não o dado, a informação, o puro conhecimento – porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são imprescindíveis. (GADOTTI, 2003, p.17).

Com essa identidade emancipadora cabe rever o perfil profissional do professorado, pois profissionalmente para preencher todos os requisitos levantados é necessário exteriorizar alguns aspectos, como a motivação de fazer um bom trabalho, de gostar de ser professor como coloca Paulo Freire (1996) em Pedagogia da Autonomia.

Assim, como aloca com certa propriedade Marchesi (2008), os professores precisam adquirir, atualizar e consolidar ao longo da sua vida profissional disposições básicas no que tange o equilíbrio afetivo e à responsabilidade moral. Disposições estas que nas últimas décadas percebe-se estão se perdendo pois há uma despersonalização da escola e consequentemente do professor exigindo uma mudança nas estratégias profissionais do docente.

Para Demo (1996), o perfil do professor para o atual contexto de contemporaneidade deve ser: autônomo, renovador, criativo, crítico e transformador. Um profissional docente capaz de orquestrar o processo pedagógico e buscar caminhos para o futuro.

Nessa linha Basso (1998) afirma que o significado do fazer docente é mediar à aprendizagem, pois o professor trabalha com aspectos emocionais, cognitivos e sociais do aluno instrumentalizados culturalmente pela vivência e relação de significado do aprendiz. Assim o trabalho do professor precisa ter significado social e sentido pessoal, para não descaracterizar sua ação educativa.

Os professores bem sucedidos são aqueles que conseguem integrar significado e sentido […] com uma formação adequada que inclui a compreensão do significado de seu trabalho e que, encontrando melhores condições objetivas ou lutando muito por elas, e, em alguns casos, contando com o apoio institucional, concretizam uma prática pedagógica mais eficiente e menos alienante. (BASSO, p. 6)

Conforme argumenta o autor na escola pública, desde a década de 1980, processos de descentralização e centralização permeiam as políticas. Esses processos formatam os eixos de ação para a mercantilização da educação, com medidas para homogeneização das ações com a finalidade de ajustarem-se as características típicas do neoliberalismo e o professor sendo um dos principais atores desse ambiente sofre todas as medidas desse sistema.

Tais afirmações vêm de encontro com as idéias de Bruno (2005), o qual percebe que as mudanças na escola pública e, consequentemente, no professor são tangidas pela adequação às tendências gerais do capitalismo contemporâneo à organização do trabalho pedagógico com ênfase no trabalho do professor.

Os estudos desses autores coadunam-se com as conclusões do Relatório da UNESCO, Delors et al (1998) que trata também sobre a Educação que se almeja para o século XXI, dentro de um contexto de mudanças sociopolíticas mundiais e se admite objetivamente que são muitas as atribuições determinadas aos professores:

Compreende-se que atualmente os educadores estão passando por uma crise de identidade. De maneira mais ou menos direta, o conjunto de fatores que ingressam na configuração dessa crise aponta a um questionamento do saber e saber-fazer dos educadores, da sua competência para lidar com as exigências crescentes do mundo contemporâneo em matéria educativa e com uma realidade social cada vez mais deteriorada que impõe impasses constantes à atividade dos profissionais. Por isso busca-se estabelecer relações entre essa crise de identidade que abala a “crença de si” e o “sentido de si” destes profissionais e a sua saúde no trabalho. (CODO, 2006 e ESTEVES, 1999).

Pois com “a acelerada mudança do contexto social acumulou as contradições do sistema de ensino. O professor, como figura humana desse sistema, se queixa de mal-estar, cansaço, desconcerto”. (ESTEVES, 1999, p. 32), cabendo investigar os elementos que provocam essas patologias.

Alguns estudos buscam identificar esses fatores Marchesi (2008) aponta a falta de apoio social, as características do contexto escolar, o deficiente funcionamento das escolas, a organização e o funcionamento das escolas e a falta de envolvimento nas tarefas coletivas como algumas características para situação de adoecimento dos professores. Enfatizando ainda que a liderança do diretor possue uma grande dimensão na situação de bem-estar ou mal-estar do profissional considerando que a capacidade da gestão em “evitar conflitos e negociar soluções e para criar uma cultura que facilite trabalho docente é um elemento fundamental nessa atividade profissional” (MARCHESI, 2008, p.55)

Segundo Esteves (1999), o adoecimento docente, relaciona-se ao seu ambiente profissional e suas deficiências nas condições de trabalho, esgotamento físico e insuficiência de recursos materiais favorecidos ainda pela acelerada transformação política e econômica que os obrigam a encararem o aumento das responsabilidades e as transformações sociais sem uma formação continuada adequada.

Em consonância com esses autores Mendes (2008. p. 7), indica em sua pesquisa estudos que demonstram que as doenças mais comuns dos professores são as do aparelho respiratório como laringite crônica, os nódulos das cordas vocais, a rinite alérgica e a sinusite; as doenças decorrentes das lesões por esforços repetitivos que dizem respeito aos distúrbios ósseos dos membros superiores, como síndrome do túnel do carpo, síndrome do manguito rotatório, sinovite, tenossinovite, epicondilite, síndrome cervicobranquial, bursite e tendinite e também os riscos presentes no ambiente de trabalho dos professores que estão associados à existência das doenças ocupacionais. Os mais comuns são os movimentos repetitivos, o uso em excesso da voz e a postura inadequada.

Destaca ainda que “além dos sofrimentos físicos, os professores enfrentam no seu cotidiano, também os sofrimentos psíquicos que advêm, sobretudo, de uma característica central da profissão que é o envolvimento afetivo”. (MENDES, 2008, p. 7)

Coadunam-se com esses autores Vasques-Menezes e Gazzotti (2006, p. 377), que coloca que o professor possui “dificuldades e obstáculos estruturais e afetivos”, muitas frustrações dentro do seu cotidiano e falta de reconhecimento profissional o que desencadeia sofrimento e questionamentos a cerca da valorização do seu trabalho.

A pesquisa realizada por Codo (2006) no Brasil com professores do sistema público de ensino abrangendo 1.440 escolas e 30 mil professores, revela que 26% dos sujeitos estudados demonstravam ter exaustão emocional, motivada pelo cansaço, pela desvalorização profissional e baixa autoestima.

Neste contexto Mendes (2008) cita estudos que argumentam que essa síndrome tem se intensificado nos professores, nota-se a perda do entusiasmo, a qualidade do trabalho diminui e o aumento da frustração, a ponto de o professor chegar ao desespero e sentir-se depressivo e com vontade de abandonar o trabalho.

Cita também estudos de Sobrinho (2002), que coloca alguns fatores que contribuem para o estresse ocupacional do professor.

[…] conteúdos curriculares (no processo de formação profissional), os quais são separados da demanda; a ausência de capacitação para lidar com questões concernentes ao próprio trabalho; a exigência de manter a disciplina entre os alunos; a sobrecarga de trabalho extraclasse; o clima organizacional do ambiente escolar; as condições impróprias para o exercício do magistério; e ainda, o volume de carga cognitiva habitualmente identificando nas atividades típicas do posto de trabalho docente.[…] (SOBRINHO, 2002 apud MENDES, 2008, p.9)

O estudo desses autores vem ao encontro com as conclusões da pesquisa de Mendes (2008, p. 56), com uma amostra de 1462 professores da rede pública do Distrito Federal, no ano de 2008, onde se constataram que os professores têm doenças ocupacionais relacionadas com os “danos físicos”, dizem respeito às dores no corpo e distúrbios biológicos. Sendo “as dores corpo e nas pernas, as alterações no sono, os distúrbios respiratórios e na visão foram as mais citadas”,“danos psicológicos” são definidos como sentimentos negativos em relação a si mesmo e a vida em geral. E “danos sociais” que são definidos como isolamento e dificuldades nas relações familiares e sociais, tendo como sintomas dessas doenças a vontade de ficar sozinha, impaciência com o colega, conflito nas relações familiares, incapacidade de se colocar no lugar do outro, dificuldades na relação fora do trabalho.

Ressaltando que os danos sociais foram considerados críticos por 37% dos entrevistados sendo sua aparição e repetição um forte indicador de adoecimento recomendando-se a intervenção imediata visando a eliminá-los e/ou atenuá-las.

A presente pesquisa apresenta o seguinte perfil 95% dos entrevistados são do sexo feminino, onde 65% possui idade entre 31 a 50 anos, e como estatística de 95% em jornada de 40 horas semanais de trabalho com um salário superior a R$3.000,00 sendo que 70% da categoria possui escolaridade superior e especialização.

Nota-se uma série de limitações que agem diretamente sobre a prática diária, limitando efetivamente a ação docente e contribuindo para o aumento do incômodo e sofrimento do professor a médio ou longo prazo.

Onde foram apontados os principais fatores que causam incômodos e/ou sofrimento no trabalho, 75% dos professores entrevistados alegaram que é a falta de material didático/pedagógico e materiais e equipamentos inadequados, evidenciando a necessidade de uma intervenção imediata no provimento e adequação dos instrumentos didático/pedagógico.

Neste contexto Esteves (1999) acrescenta:

[…] a falta de recursos generalizada aparece como um dos fatores referidos em diversos trabalhos de investigação. […] professores que enfrentam com ilusão uma renovação pedagógica de sua atuação nas aulas encontram-se frequentemente, limitados pela falta de material didático necessário e pela carência de recursos para adquiri-los. […] Quando esta situação se prolonga a médio e longo prazo, costuma-se produzir uma reação de inibição no professor, que acaba aceitando a velha rotina escolar, depois de perder a ilusão de uma mudança em sua prática docente que, além de utilização de novos recursos dos quais ele não dispõe. (Esteves, 1999, p. 48)

Portanto, há necessidade de maior investimento público nas escolas para que haja uma efetividade no processo educativo, pois se percebe muitos arranjos e improvisos principalmente por parte do professor que diante das exigências da sociedade e o Estado para que eles promovam uma renovação metodológica, sem dotá-los dos recursos necessários.

Os professores entrevistados (70%) apontaram também que as dificuldades de aprendizagem dos alunos é um fator de sofrimento no trabalho.

A cerca desse problema Marchesi (2008) pontua sobre este tema enfatizando a dimensão do trabalho docente que precisa organizar o extenso programa de ensino criando situações de aprendizagens bem estruturadas para despertar o desejo do saber discente e envolvê-lo na atividade de aprender. Esse envolvimento precisa instigar o aluno, para que ele encontre sentido nas suas aprendizagens e que lhes permitam comprovar, pela própria experiência, que o conhecimento avança quando é visto com esforço e dedicação.

Assim o autor coloca que para alcançar o objetivo da efetiva aprendizagem o professor precisa ser um profissional interessado pelo aluno e pelo conhecimento. Estar disposto a fazer o melhor, reconhecer a realidade e agir sobre ela. E principalmente ter capacidade e vontade de inovar o que exige uma busca efetiva da formação continuada.

Fazendo um viés Freire (1996) com Marchesi (2008) coloca:

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996, p.32 )

A quarta situação de incomodo e/ou sofrimento é a violência na escola (55%). A cerca desse problema Batista e El-moor (2006, p. 158) colocam os efeitos da violência para educação e os educadores. Nesse contexto eles enfatizam que o processo educativo ocorre de maneira cíclica, planejada e que diante de atos de vandalismos, brigas mais violentas, destruição proposital, há uma ruptura na dinâmica do trabalho, pois é preciso interromper a aula, levar o aluno para diretoria, prover acareação de fatos para encontrar o responsável ou aplicar as punições do culpado.

Nesse cenário não há como ensinar acabou o clima de aprendizagem. “A ocorrência da violência como parte integrante do cotidiano da escola é literalmente incompatível com o trabalho de educar”. (BATISTA e EL-MOOR, 2006, p.159)

Evidenciam também a importância do sentimento de confiança e liberdade no processo ensino-aprendizagem o que é quase impossível em um ambiente que com suas grades, guardas no portão, coordenadores disciplinares pelos corredores, polícia para conter os abusos juvenis, dar “baculejo”.

Destaca-se também no gráfico o nível elevado de barulho como fator que causa incômodo e/ou sofrimento a 45% dos docentes, índice considerado elevado.

A ausência de espaço adequado para descanso ou repouso apontado por 35% dos respondentes é outro ponto que contribui para precariedade das condições de trabalho do professor que normalmente permanece 8 horas diárias na escola.

Dos professores (30%) apontaram ainda o excesso de responsabilidade e exigência; pressão dos pais (15%); pressão da secretaria/direção (10%); impaciências com as pessoas em geral (5%) e jornada de trabalho excessiva (5%).

Nesse sentido é importante salientar que as situações que causam incômodos e/ou sofrimentos no trabalho, dizem respeito a um conjunto de recursos com os quais o professor pode contar, e que impõem maior ou menor qualidade na sua estadia diária na escola, embora não ingressem diretamente como meios no processo de ensino-aprendizagem. São recursos integrados na geografia e organização de trabalho que dignificam o ambiente, valorizando o trabalhador.

Referente às manifestações ou sintomas apresentados após uma semana de trabalho um total de 80% dos respondentes assinalaram cansaço mental; 55% ansiedade/angústia/fadiga; 40% nervosismo; 25% irritação com tudo; 20% mal humor; 15% vontade de desistir de tudo; 5% dúvida sobre a capacidade de fazer as tarefas e 5% tristeza

Os sintomas tratados no gráfico correspondem segundo Mendes (2008, p. 68) “aos danos psicológicos e são definidos como sentimentos negativos em relação a si mesmo e a vida em geral”.

Considerações finais

Com relação ao foco de estudo delimitado que se explicitou como os fatores que interferem na prática docente, emergindo como desafios para o profissional da educação, averiguando que a dimensão da práxis docente perpassa pela construção da identidade firmada nos eixos de envolvimento, reconhecimento da sua autoestima e valorização profissional.

A pesquisa elucidou que há um sentimento de desvalorização dos professores perante o Estado, mas mesmo assim eles se agarram na cooperação coletiva e na crença que seu trabalho possui um mérito social.

Todavia constatou-se nas diversas obras trabalhadas que tarefa docente carrega uma grande dimensão desde o cuidar da aprendizagem eficaz a ser responsável pela formação social do ser, apontando para necessidade de se revelar a dimensão histórica da profissionalização do professor, conhecendo sua trajetória e alicerçando a composição da sua identidade.

Nesse caminho erigiu-se uma hipótese em que há uma crise de identidade docente e esta se vincula às condições de trabalho e saúde dentro do seu cotidiano.

Os dados obtidos sobre o perfil das condições de trabalho e saúde dos professores da rede pública de educação do Distrito Federal permitiram constatar que existe uma precariedade nas mesmas exigindo um maior desdobramento profissional.

Quanto às questões de saúde foram percebidos manifestações e sintomas de adoecimento principalmente físico e psicológico. Evidenciados principalmente pelas dores no corpo e o cansaço mental.

As relações socioprofissionais dos professores entrevistados são satisfatórias com os colegas. Havendo, portanto, um ambiente que favorece a cooperação entre os pares.

As condições de trabalho são percebidas como sendo não totalmente críticas. Pois há satisfação quanto ao apoio institucional. Entretanto, de maneira geral há evidencias de falta de material didático/pedagógico e matérias e equipamentos adequados.

As exigências profissionais da atividade docente acarretaram, principalmente, cansaço mental e ansiedade/angústias/ fadigas. Evidenciando-se também as dores nas pernas e na garganta relacionadas ao trabalho. Os professores estão mais expostos aos riscos de adoecimento físicos e psicológicos como evidencia os gráficos que tratam dos sintomas e manifestações de incômodos e sofrimento no trabalho, resultado compatível com as conclusões de Mendes (2008).

Quanto ao sofrimento advém em grande parte da precariedade das condições de trabalho e da falta de reconhecimento do Estado, já que as pesquisas demonstraram que o professor se sente realizado na instituição, participando de suas atividades e reconhece ainda a importância do seu trabalho, sentindo-se seguro e manifestando o desejo de permanecer na instituição e também na profissão.

Conclui-se, portanto que entre os professores entrevistados há um sentimento de reconhecimento pessoal por parte da instituição, porém em contraposição percebe-se um descuido do Estado com esse profissional que acarreta a sua jornada más condições de trabalho e baixa autoestima em relação ao seu prestígio social.

Com o presente estudo deduz-se que há necessidade de uma conquista social do reconhecimento do professor desde a busca financeira a conquista de melhores condições de trabalho e respeito pelos seus percalços.

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1Graduada em CIÊNCIAS e MATEMÁTICA pela Faculdade Filosofia, Ciências e Letras de Patrocínio (1996) e em PEDAGOGIA pela Universidade Estadual de Goiás – Luziânia. Especialista em Educação, Democracia e Gestão pela Universidade do Tocantins. Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar pela Universidade de Brasília (em curso). Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal.

Como ser citado:
GONÇALVES, Ima Aparecida Autoestima e saúde na prática docente, emergindo como desafios para professores do ensino fundamental.  P@rtes.V.00 p.eletrônica. Agosto 2010. Disponível em <>. Acesso em _/_/_.

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