(Autor: Antonio Brás Constante)
Resolveram paralisar por uma hora o serviço. Ao meio-dia. “Não tinha horário melhor”, disseram. A aprovação foi de todo corpo funcional. Com esta decisão conseguiram unir o útil ao agradável, pois foram convocados para se reunir dentro do restaurante. Era uma adesão em massa e querendo massa (com muito molho e queijo ralado por cima).
Cada um que chegava ao local marcado já ia ansioso colhendo as informações mais importantes, tais como: qual era o cardápio do dia, se a mesa que ficava próxima ao bufê ainda estava desocupada e, é claro, se alguém tinha notícias do andamento das negociações.
Alguns aproveitavam a multidão de ouvintes silenciosos (só se ouviam os sons das mastigadas vorazes ecoando pelo ambiente), para falar das propostas que seriam apresentadas. Falavam literalmente de boca cheia.
As informações e travessas de comida transitavam pelas mesas, e todos esperavam ansiosos por boas novas e principalmente pela sobremesa.
Apesar da indignação geral, um sorriso se destacava em meio à multidão, era o Josias (nome fictício: poderia ser Flávio, Décio, etc.), dono do restaurante, que nunca tinha visto tantos clientes juntos.
Quem teve a idéia de se reunirem naquele lugar foi um gênio (muitos acharam que foi o Josias), pois juntou a fome com a vontade de comer, no sentido real e figurado.
As discussões eram cheias de controvérsias. Uns achavam que ir ser sopa, outros diziam que não. Ninguém sabia ao certo se estavam falando da comida ou do acordo, mas concordavam que para avançar nas negociações e nas refeições teriam de ir “comendo pelas beiradas”.
Se por um lado não faltava assunto, por outro faltavam pratos e talheres. Eram pessoas honradas buscando seus direitos. Tinham, sobretudo, fome e sede de justiça, de um bom suco gelado e de uma deliciosa carne de panela, acompanhada com arroz branco, feijão e salada de tomate.
Todos esperavam que aquela demonstração de força conseguisse deixar a diretoria tremendo nas bases. Mas, sendo a hora do almoço, provavelmente a administração se manteria de pulso firme, pois com a mão tremendo não conseguiriam colocar nada na boca. Se bem que talvez o momento exigisse um regime severo. Afinal, quem come não fala e quem cala consente. (Nota do Autor: tenho de parar de escrever antes das refeições, senão o assunto sempre vai seguir os desejos de meu estômago).
SOBRE O AUTOR: Antonio Brás Constante se define como um eterno aprendiz de escritor, amigo e amante da musa inspiração. Lançou recentemente o livro: “Hoje é seu aniversário – PREPARE-SE”, disponível pela editora AGE (www.editoraage.com.br).