(Autor: Antonio Brás Constante)
O mundo gira e a bola rola. O tempo passa e passam os lances no gramado. É o futebol que invade nossas vidas sem levar cartão furado.
Não existe impedimento, apenas o sofrimento de toda nação, que torce por seus heróis lendários nestes eventos bilionários.
Lá o juiz é ladrão, rouba da seleção. Aqui o ladrão é juiz, roubando o sustento de mais um infeliz.
Pobre jogador foi agredido. Pobre cidadão foi demitido, mas neste lance ninguém prestou atenção, estavam todos vidrados na televisão.
Que tremenda jogada por milhares comentada, passou por três e marcou. Que horrenda emenda apresentada, ninguém notou, foi aprovada e outro direito conquistado dançou no Senado. Outro imposto chegou. Outra mordomia se incorporou ao salário de quem lhe apresentou, de quem sordidamente a julgou.
Amontoam-se os afortunados no estádio, se amontoam os desvalidos nas favelas. Olhares na mesma direção, milhares de indivíduos cegos para sua miserável situação, o importante agora é torcer pela seleção.
Gritos ecoam de todas as direções, gol marcado, vitória da seleção. Gritos se calam, marcados em giz e sangue no chão, vítimas da opressão. Mas neste lance arbitrário não tinha árbitro para dar cartão vermelho aos culpados.
Acabou a copa, o Brasil é campeão (ou não). Mais um sonho realizado, ou talvez despedaçado. Entoem felizes todos os cidadãos suas cantigas de louvor à seleção, ou quem sabe, suas lamúrias de decepção. Enfim acordem, pois sua sina continua. Voltem e marchem a marcha dos desesperados. Voltem e votem em lobos disfarçados. Cantem em gemidos o hino dos desgraçados…