Filipe Ribeiro Cardoso Porto[1] Rosimery Martins de Lima[2]
Francysco Renato Antunes Lopes[3]
publicado em 11/05/2010 como <www.partes.com.br/turismo/rocelestino/turismodebase.asp>
Este trabalho se configura como um resumo crítico do artigo O turismo comunitário no nordeste brasileiro, que faz parte do livro “Turismo de Base Comunitária: diversidades de olhares e experiências brasileiras”, lançado pelo Ministério do Turismo no ano de 2009.
A nova ordem capitalista provocou a revalorização do litoral nordestino para o turismo e o lazer. A população nativa foi excluída deste processo e a ocupação imobiliária de grandes empresários que buscavam os mais belos e atrativos locais para grandes empreendimentos se tornou intensa. Um bom exemplo dessa situação aconteceu no Ceará, mais precisamente em Jericoacoara e em Canoa Quebrada.
Grandes empreendedores estrangeiros dominaram o mercado turístico local e expropriaram as duas comunidades pesqueiras, tendo os seus espaços descaracterizados pela construção de novos empreendimentos de grande porte. Um grande facilitador para esses empresários estrangeiros são os instrumentos jurídicos que os favorecem na construção destes grandes empreendimentos. O governo geralmente se posiciona a favor desse mercado assegurando infraestrutura básica de serviços relacionados a transporte, comunicações, pavimentação e etc. Este mesmo processo voltado para o turismo internacional ocorreu na Praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco; na Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte e em outras localidades.
De todos os serviços do turismo, a hospedagem é a mais impactante não só por exigir espaço, mas também por necessitar de objetos induzidos pelo turismo, transformando hotéis em mini centros comerciais. Os resorts são obras arquitetônicas que utilizam muito espaço e proporciona uma hospedagem no sentido mais pleno, dando prazer a quem se hospeda. Eles são equipados com o que há de mais sofisticado em hospedagem, mas apresentam dificuldade em computar dados estatísticos, pois há imigrantes que se passam por turistas e vice-versa.
No Brasil o turismo tem se consolidado como atividade geradora de riqueza e vem se tornando produto de exportação. Uma grande preocupação é que quanto mais cresce essa estratégia de desenvolvimento, mais a imagem da atividade é reduzida a dimensões mercadológicas. A prática do turismo apenas como trade pode ser desastrosa, já que políticas públicas ficam reduzidas apenas a simples ações de marketing, para a venda de destinos turísticos e assim terras, lugares, viagens, sonhos e imagens viram mercadorias. Os países pobres são levados a acreditar no turismo como atividade indutora de
desenvolvimento, mas o desenvolvimento econômico tem bases em atividades produtivas mais sólidas como a industrialização. O lugar precisa se desenvolver para o turismo progredir com êxito. O turismo comunitário surgiu como uma forma de resistência aos grandes empreendimentos como os resorts, uma forma de resistência, de defesa ao turismo que invade e descaracteriza estes locais. No Brasil, as principais entidades que fazem parte deste novo segmento de turismo são as comunidades, as ONG’s, as organizações ambientais, os movimentos sociais, os operadores de comercio e os de economia solidária. Enquanto os grandes hotéis representam concentração de renda, os pequenos representam solidariedade. O turismo mapeia e também cria territórios.
A atividade introduzida nas comunidades é uma forma de inclusão, geração de emprego e renda para os seus residentes que lutam para incluir-se e atrair visitantes que consumam seus produtos. A atividade econômica destes lugares é assegurada na base da ideologia do turismo, ou seja, gerando renda e promovendo desenvolvimento ecologicamente sustentável, sem poluir o ambiente e nem degradar a agricultura. Desta maneira, pescadores transformam-se em garçons, jardineiros e vigilantes; rendeiras em camareiras e garçonetes. Este turismo de base local prioriza o rústico e não o luxo, associando sustentabilidade, priorizando valores culturais e descobrindo formas inteligentes de participação na cadeia produtiva do turismo, com produtos diferenciados. Um turismo que não seja voltado apenas ao consumo, mas à troca de experiências, fortalecimento de laços de amizades e valorização cultural.
Pode-se definir turismo comunitário ou turismo de base comunitária, como aquele onde a comunidade participa ativamente de todo o processo, desde o planejamento à execução de forma que a própria comunidade tenha o controle das terras e das atividades econômicas.
Em primeiro lugar é estabelecido um acordo entre os membros em defesa de suas propriedades no intuito de preservar e torná-las produtivas, isso envolvendo também possíveis compradores de fora da comunidade. Como se pôde perceber a atividade turística no litoral modificou algumas atividades econômicas tradicionais como a pesca, sendo substituída pela pesca industrial entre outros aspectos. Em decorrência dessa evolução nesse tipo de turismo, as comunidades litorâneas viram-se obrigadas a abandonar seus trabalhos originais para trabalhar com essa nova realidade: o turismo globalizado.
Percebe-se que esse turismo possui características menos positivas, pois explora a força de trabalho de homens e mulheres, com jornadas de trabalhos exaustivas, além de envolver o trabalho infantil, fator mais crítico do processo. Além disto, é constatado que a comunidade não melhora suas condições de trabalho nem de moradia.
Ao contrário dessa condição o turismo comunitário preocupa-se com o trabalho do adulto no intuito de melhorar a renda, associando a atividade turística a atividades como artesanato, pesca e agricultura, fazendo com que sejam priorizados os pequenos empreendimentos locais, priorizando a participação da comunidade. No Brasil existem algumas comunidades inseridas neste modelo de turismo mais sustentável, com ações da agricultura familiar, a organização das APLs. Mas existe uma comunidade que pode ser considerada referência nesse tipo de turismo: Comunidade da Prainha de Canto Verde, em Beriberi, no Ceará.
Esta comunidade destaca-se a princípio pela pescas da lagosta, mas possui outras atividades e projetos desenvolvidos para melhoria na renda da população local.
Ela está bem articulada, possuindo equipamentos turísticos direcionados a hospedagem, alimentação, eventos, passeios e trilhas, tudo isso sem perder a característica simples do lugar, o que chama a atenção de turistas de vários países, pelo fato de a comunidade preservar suas raízes e mostrá-las a todos como são. Essa comunidade lidera um conjunto de comunidades, mas assegura a participação das que ligadas a ela com planejamento descentralizado além de lutar pela regulamentação das terras litorâneas e das unidades de conservação, priorizando a população indígena, pesqueira, ou seja, as comunidades nativas.
Para que o turismo comunitário possa ser efetivado com desenvolvimento apropriado devem ser observados alguns princípios básicos que seguem. Princípios das necessidades sentidas, onde a própria comunidade sente-se apta e com vontade de organizar-se de forma a atender a todos os residentes; princípio da participação onde se deve assegurar o envolvimento da população residente de forma profunda; princípio da cooperação, onde a comunidade necessita de apoio do poder público e privado nos seus projetos de desenvolvimento; princípio da auto sustentação onde deve existir o controle de possíveis alterações econômicas através da gestão manutenção e controle; princípio da universalidade onde deve-se assegurar a participação de todos os grupos da comunidades e não apenas de uma parcela dela.
O maior objetivo do turismo comunitário é acrescentar um novo modelo de turismo na sociedade, não necessariamente mudar o que já existe ou acabar com os grandes empreendimentos, mas sim trazer novas opções para a sociedade.
[1]Estudante do Curso de Licenciatura em Geografia, pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, e do Curso de Bacharelado em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre, pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.
[2] Graduada no Curso de Licenciatura Plena em Letras/Espanhol, pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, e estudante do Curso de Bacharelado em Turismo pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI.
[3] Estudante do Curso de Bacharelado em Turismo, pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI e do Curso de Ciências Sociais, pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.