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Crianças, Sim! Infância, Não? Breves Relatos Sobre a História da Infância e da Educação Infantil: Uma Conquista Recente e de Vários Atores

Dorcas Tussi1 Cleonice Maria Tomazzetti 2

publicado em 03/05/2010 como <www.partes.com.br/emquestao/brevesrelatos.asp>

 

RESUMO:

É a história da infância e algumas análises atuais de estudos sobre a área da educação infantil que iremos partilhar/contar. A preocupação com o crescimento e desenvolvimento saudável das crianças, o atentar para a sua formação como ser humano concreto, produtor de história e cultura e capazes de interagir com e no mundo desde bebês, bem como a criação de espaços institucionais educacionais para atendê-las com profissionais habilitados-diplomados, respeitando os direitos outorgados às crianças e suas especificidades, são algumas das conquistas que presenciamos atualmente, na contemporaneidade.

A preocupação atual com o desenvolvimento e crescimento saudável de nossas crianças, principalmente, no que concerne aos cuidados de higiene, saúde, alimentação, e também ao pensar a educação de qualidade a elas, tornou-se um debate tanto da esfera pública (sociedade e órgãos governamentais) como da esfera privada (família). Algumas das preocupações e anseios que rememoramos aqui é a importância dos adultos respeitarem, cuidarem, e proverem de todas as condições necessárias para o bom desenvolvimento das crianças nos seguintes aspectos: psicológico, físico, social, cognitivo e emocional. Além disso, atentamos à importância da inscrição das crianças como portadoras de direitos, ou seja, inscritas na cidadania. Todavia, o que, hoje, é natural para nós, no tocante à importância da criança e de sua prioridade, bem como o afeto que dispensamos a ela, nem sempre foi assim no cenário ocidental. As crianças sempre existiram, sendo consideradas, no decorrer da história da humanidade, como seres biológicos de geração mais jovem, mas falar de infância é algo recente, ou seja, a categoria “infância” que abrange todas as crianças de diversas culturas e sociedades foi construída socialmente no início da Idade Moderna (século XVIII). Falamos da brevidade da constituição da infância como categoria social de estatuto próprio, visto que a história da humanidade compreende vários milênios, por isso falar de infância é algo recente.

Num período anterior ao século XII, desconhecia-se a infância ou não havia lugar para ela, ou seja, o sentimento de infância não era interessante em tempos antigos e na Idade Média. Nessa época, a criança era diferente do adulto apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características permaneciam iguais, possibilitando, assim, o entendimento dela como uma miniatura do adulto. A criança não se diferenciava do adulto nem na roupa que vestia e muito menos no trabalho que executava. A criação desse sentimento de infância, no que se refere ao cuidado e atenção dispensado às crianças, começou a surgir com o Renascimento para concretizar-se nos séculos das luzes – Iluminismo – no século XVIII.

O olhar à infância já supõe mudanças desde o início da idade moderna, quando os adultos começam a perceber as especificidades do infantil e seu tempo diferenciado da idade adulta. É na modernidade que se concebe a atenção para a educação da criança pequena, e o pensar a infância como uma categoria social de estatuto próprio dotada de valoração social, com identidade, surgindo como consequências o aprofundamento de estudos envolvendo as áreas médica, a psicologia, a sociologia, e a educação/pedagogia.

A construção da história da infância foi resultado de uma produção complexa de representações das crianças, da estruturação dos seus modos de vida e de seus cotidianos, e, principalmente, da criação de organizações sociais para a infância. Evidenciamos aqui a criação de instituições de atendimento à infância, como creches e pré-escolas, as quais são uma conquista recente relacionada à educação infantil, a qual abrange crianças de zero a seis anos, especialmente, da nação brasileira, na contemporaneidade.

A conquista da legalidade do acesso das crianças em creches e pré-escolas é uma vitória de vários atores (professores (as), mães e pais trabalhadoras (es), pesquisadores (a), entre outros) em prol da garantia por espaços de atendimento em instituições visando à Educação Infantil na esfera pública, ou seja, mantidas pelo poder público. Rememoramos o Movimento Feminista, nas décadas de 1970 e 1980, em que se acirrou o debate para que a educação da criança pequena fosse complementar a esfera privada da família, sendo constituída por profissionais habilitados, isto é, diplomados para o atendimento educacional. Assim, o movimento tinha por finalidade que as crianças pudessem exercer a cidadania e conviver com a diversidade cultural brasileira nesses espaços institucionais, criando e recriando a cultura infantil.

Ao lutarem pela implementação da creche e da pré-escola, os movimentos sociais e vários outros protagonistas garantiram na Constituição de 1988 o direito da criança a creches e a pré-escolas em lugares específicos e formais de ensino. Todas essas conquistas que evidenciamos no momento presente têm uma história permeada por muitos debates, pesquisas, e lutas para a garantia do direito da criança à educação infantil e pela sua visibilidade no cenário das políticas educacionais.

É relevante pontuar que a trajetória da educação infantil, no Brasil, fundamentou-se pela construção de uma Pedagogia da Educação Infantil, voltada às pesquisas nas diferentes áreas do conhecimento, buscando conhecer a criança em espaços coletivos, ou seja, nos Centros de Educação Infantil, na produção das culturas infantis. Outro aspecto preponderante aos atuais estudos voltados à educação da infância (zero a seis anos de idade) é pensar espaços educacionais não-escolarizantes, em que as necessidades, especificidades, e particularidades das crianças sejam ouvidas, percebidas. Com isso, deve-se criar uma relação de pertencimento a elas no ambiente e nas relações estabelecidas nos Centros de Educação Infantil, bem como a produção de conhecimento através das múltiplas linguagens (oralidade, escrita, música, artes plásticas e visuais, movimentos, brincadeira, entre outras) expressas pela criança.

Ao ponderarmos o debate sobre a história da(s) infância (s) e os lugares em que elas vivenciam o seu momento de serem crianças, principalmente, os espaços institucionalizados de educação infantil, é concebido como um debate recente e um projeto da modernidade; a produção de políticas educacionais para a educação das crianças até seis anos é contemporânea, ou seja, uma conquista recentíssima das últimas décadas do século XX no Brasil.

 

1 Pedagoga e mestranda em Educação – UFSM/CE/PPGE. E-mail: dorkass@desbrava.com.br
2 Professora Dra do Programa de Pós-graduação em Educação – UFSM/CE/MEN/PPGE. E-mail: netcleo@gmail.com

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