(Autor: Antonio Brás Constante)
(O telefone toca).
– Alô?
– Escuta bem cara, nóis tamo com a tua filha aqui com a gente e se não rolar grana ela morre, sacou?
– Filha? Que filha? Quiçá em outrora eu ainda tivesse uma filha, mas expulsei aquela delinqüente de minha residência e da minha vida há meses.
– Não brinca, mané. Se tu não passar a grana, eu e meus mano vamo fazê ela. Tá me entendendo cumpadi?
– Se vocês forem “fazer” ela, aconselho que tomem cuidado. Ela fazia ponto na esquina aqui de casa sabiam? Um escândalo. E este foi apenas um dos motivos pelos quais eu a expulsei daqui…
– Então tá, ô esperto. Se tu não tem apego com a tua filhota, nóis vai acha tua esposinha e judiar dela. Que tal? Agora tu vai colaborar?
– Se acharem, podem ficar com ela. Mas prometam que vão judiar bem dela. A ordinária fugiu com nosso vizinho Edward, levando todas as economias que tínhamos no banco, em conta conjunta. Eu nunca pude me vingar do que ela fez. Se pegarem os dois, posso até tentar arrumar algum dinheiro para vocês, mas tem que me garantir que vocês vão torturar aqueles desalmados com vontade.
– Olha aqui Sangue bom, vamo fazê melhor então. Nóis vamo toca fogo na tua baiúca e ver se tu ri disso, que tal?
– Prometem que fazem isto? Seria fantástico, já que a casa está no seguro. Se queimarem ela, que por sinal foi hipotecada pela safada da minha “ex”, vão estar me fazendo um bem enorme…
– Malandro, tu ta tirando onda com a nossa cara. Saca só, nóis vai te pega e mete três azeitona nas tuas fuças, te borda na bala, tá ligado?
– Eu… Depois de tudo que aconteceu, estava pensando em me matar mesmo… Só não tive coragem de cometer tal ato de suicídio, e aplacar esta dor atroz que esmaga meu coração… Vocês fariam isso por mim?
– Caramba, Zé ruela! Tu não te sensibiliza com nada? A gente até ia desistir de te amolar, mas não podemo deixa barato assim. Vamo te que se vinga de ti cumpadi.
– E como pretendem fazer isto, seus bárbaros execráveis e sem cultura? Façam o que quiserem. Sou um ser amargurado pela mordaz crueldade do destino. Um arremedo humano que não liga mais para nada…
– Vamo vê se tu diz isto depois que a gente largar a “encomenda” aí no teu colo.
– Que encomenda?
– Tua sogra reclamona e teu cunhado bebum, seu mané. Nóis seqüestrou ele e a velha, mas não quis abrir o jogo logo de cara, pois achou que tu não ligava muito pros dois. Mas depois de passar um tempo com eles aqui no cativeiro, a gente se ligou do castigo que os dois são, e resolvemo entrega eles ai bunito, e é o que vamo fazê agora.
– NÃO, eles não! Quanto dinheiro vocês querem para ficar com os dois?
– Esquece brou. O lance agora é pessoal. Daqui a pouco tamo largando eles aí pra morar contigo.
– Não, isso não! Tenham um pouco de humanidade, de compaixão, de clemência, por favor, Não! NÃO! NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!