Klayton Marcelino de Paula, Ana Gizelle da Silva
publicado em 05/04/2010 como <www.partes.com.br/educacao/abordagemdegenero.asp>
Linha temática: Gênero e práticas educacionais
RESUMO Entender a abordagem de gênero a partir do relato de professores do ensino médio em escola pública estadual nas disciplinas de Arte, Biologia, Educação física, Filosofia, Geografia, História, Língua estrangeira (Inglês), Matemática e Português. Como a escola pública aborda as questões de gênero no ensino médio, seja na prática em sala de aula ou nos demais recursos disponíveis utilizados, como por exemplo, o livro didático. Palavras-chave: Escola pública, Gênero, Sexualidade.
ABSTRACT Understandig the gender approach, based on reports of school teachers in public school in the disciplines of Art, Biology, Physical Education, Philosophy, History, Foreign Language (English) Mathematics and Portuguese. As the public school deals with issues of gender in school or in practice in the classroom or in other resources used, such as the textbook. Keywords: Public school, Gender, Sexuality.
Introdução Os professores de ensino médio de escola pública estadual e sua percepção em relação a gênero e sexualidade são os sujeitos deste artigo, bem como as relações sociais envolvendo gênero que se estabelecem a partir da escola envolvendo os professores, metodologias, currículo e alunos, entendendo que a escola juntamente com a família forma a sociedade e suas peculiaridades, cada um com sua parcela de responsabilidade na formação do ser social. Educar levando em conta a discussão de gênero nem sempre será tarefa fácil pela falta de preparo do próprio professor que não foi envolvido com o tema na sua formação profissional, nem tão pouco a família que ignora ou finge ignorar também por não saber ou não querer tocar no assunto tido como tabu principalmente quando envolve questões de papéis masculinos e femininos e pior ainda quando se trata de sexualidade e a orientação da mesma. O modelo de mundo que temos é caracterizadamente masculino, branco e cristão, qualquer variação desde modelo há que passar pelo crivo da aceitação e/ou tolerância. […] Mas não seria qualquer humano o senhor possuidor da natureza. A história da expansão colonial mostra que este deveria ser branco, europeu ocidental, cristão e pertencente à aristocracia ou à ascendente burguesia que, a partir do seu protagonismo cada vez maior na economia, gradativamente ocupava o espaço político na sociedade pela força do capital. Ao nativo da América, África, Ásia e Oceania, considerados incivilizados (leia-se não europeu), restou como alternativa ao extermínio puro e simples, em maior ou menor grau, a submissão aos colonizadores e a aceitação do saque e da destruição dos seus recursos naturais. E dessa forma, os padrões da civilização européia foram impostos a ferro e fogo às demais regiões do planeta, criando uma ordem social injusta e ambientalmente irresponsável, sustentada pela exploração da maioria por uma minoria e pelo uso intensivo e predatório dos recursos naturais do planeta. (LOUREIRO; LAYRARGUES; CASTRO, 2009, p. 34 grifo do autor). O conhecimento amplo sobre o comportamento humano necessário ao mundo contemporâneo não é um espelho das coisas ou do mundo externo. Todas as nossas opiniões e atitudes são reflexos das nossas construções cerebrais e das nossas percepções codificados pelos sentidos e impostos pela educação familiar e escolar geração pós geração, resultando daí as teorias pessoais sobre o comportamento próprio e alheio e dificilmente se consegue romper com esses conceitos endurecidos que engessam a maneira de ver o mundo e viver nele. A ética no trato com as questões de gênero não poderia ser ensinada por meio de lições de moral seja ela oriunda da escola, da família ou da religião, afinal toda lição de moral subentende-se imposição de ideias sem direito de contestação, dominado versus dominador. A ética deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, sociedade e espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade, indivíduos com características únicas, sociedade com relações interpessoais essenciais e espécie com necessidades específicas. Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Partindo disso, esboçam-se duas grandes finalidades ético-políticas do novo milênio: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a humanidade como comunidade planetária. A educação deve contribuir não somente para a tomada de consciência, mas também permitir que consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania. Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão não se reconhecem, em absoluto, como tais. (MORIN, 2002, p. 19). A educação deve-se dedicar na sua atuação diária, independente do que traz o livro didático ou aproveitando o conteúdo do mesmo, a identificar a origem de erros, ilusões e cegueiras. Não se discuti a quem se deve a responsabilidade desta tarefa, a família dificilmente quebrará o tabu da discussão sobre gênero e sexualidade, pois possui doutrinas absolutamente convencidas de sua verdade, são invulneráveis a qualquer crítica que denuncie seus enganos, está respaldada por tradições seculares, conceitos religiosos e justificativas sociais. A racionalização se crê racional porque constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica. A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta. A racionalização nutre-se nas mesmas fontes que a racionalidade, mas constitui uma das fontes mais poderosas de erros e ilusões. Dessa maneira, uma doutrina que obedece a um modelo mecanicista e determinista para considerar o mundo não é racional, mas racionalizadora. (MORIN, 2002, p. 23).
Justificativa Na docência, seja ela em qualquer nível, deparamos todos os dias com a discussão sobre gênero e sexualidade, enquanto as situações cotidianas envolvem apenas gênero masculino e feminino e as características comportamentais natas será mais fácil o diálogo, geralmente levamos em conta os aspectos de respeito mútuo, a diplomacia e já resolvemos parcialmente o conflito. A dificuldade maior está no quesito sexualidade, como lidar com o estudante de orientação homossexual? E principalmente, como lidar com o restante da turma para que este se sinta integrado? O primeiro passo é entender como os professores percebem o que é gênero e, a partir da visão e entendimento dos professores abrir um espaço para o diálogo. Algumas situações dentro da escola, tipo, comentários de alunos ou algumas atitudes em sala de aula me chamam a atenção em relação à reação que os alunos têm com os colegas homossexuais. 1ª situação: um aluno de ensino médio relata estar feliz por outro colega homossexual ter sido reprovado e não mais fazer parte de sua turma, ele diz se sentir aliviado. 2ª situação: durante um momento “democrático” de escolha do modelo da camiseta de uniforme das turmas de 3ª série do ensino médio, um aluno considerado pela turma como homossexual não foi consultado em nenhum momento sobre o modelo da camiseta. É prática comum às turmas de 3ª série do ensino médio ter sua camiseta de uniforme diferenciada, afinal será seu último ano na escola e querem se destacar, porém esta escolha tem que ser democrática. 3ª situação: percebe-se a separação dos alunos em grupos fechados, há o grupo dos meninos, o grupo das meninas, o grupo dos homossexuais, e subgrupos dentro dos grupos, há o subgrupo dos bonitos, o subgrupo das evangélicas, há os desligados, os estudiosos e assim por diante. A princípio é relativamente normal a formação de grupos, afinal, isso se deve em grande parte por afinidades e sabemos que não temos afinidades com todas as pessoas a nossa volta, isso acontece na escola, entre os familiares e até no nosso local de trabalho, o problema está exatamente na exclusão de alguns, nas relações de dominação e/ou subordinação, nas chacotas, críticas ou não aceitação de um grupo em relação a outro. Frente a essas observações, cabe ao educador, além da compreensão de sua disciplina, a compreensão das relações humanas, esta é a missão, leia-se espiritual, da arte da docência garantindo a solidariedade, a ética e a moral entre as pessoas. Ideal de vida profissional fomentado via diálogo, formação continuada e atualização sempre, momentos raros no ensino público. Caracterização da área da pesquisa O Colégio Estadual Polivalente Dr. Tharsis Campos está situado à Avenida José Marcelino s/n°, Bairro Nossa Senhora de Fátima em Catalão-GO, esta é a principal avenida de acesso à cidade para quem entra pelo estado de Minas Gerais passando pelas cidades mineiras de Uberlândia e Araguari, a avenida é basicamente comercial, porém o bairro como um todo é de característica residencial, sendo um dos mais antigos da cidade devido a isso os moradores são em geral de pessoas com mais idade havendo poucos jovens. A escola contabilizou no ano letivo de 2009 o número de 664 alunos matriculados, destes, 499 no ensino médio, e os demais nas séries do ensino fundamental 8° e 9° anos. Em 2010 já são 530 matrículas confirmadas para o Ensino Médio até a presente data (fevereiro de 2010) as matriculas continuam em aberto e esperam-se novos alunos oriundos da vizinha Escola Estadual David Persicano que teve extinguido em 2010 suas turmas de Ensino Médio ficando exclusivamente com Ensino Fundamental. A escola possui 30 professores e 32 funcionários administrativos, 1 laboratório de informática com 20 computadores conectados a internet, 1 laboratório de ciências equipado com 10 microscópios ópticos, 2 microscópios esteroscópicos, vidraria completa, 1 balança digital e reagentes diversos utilizados nas aulas práticas, 1 biblioteca, 1 oficina de artes, 1 sala de leitura, 1 sala de vídeo com TV LCD e aparelho de DVD, acervo histórico com objetos antigos doados pela comunidade e objetos da própria escola, auditório com equipamentos de som e imagem (DVD e VHS) e projetor de multi mídia. O Colégio Polivalente foi fundado em maio de 1979 com a proposta de escola profissionalizante ofertando no currículo do Ensino Fundamental disciplinas como: técnicas industriais, técnicas comerciais e técnicas agrícolas. Para estas disciplinas contava com maquinário de marcenaria e serralheria, mobiliário simulando uma loja e o espaço da horta. Aprendia-se a trabalhar com madeira, ferragens, atendimento comercial e o trato com a terra desde o plantio até a colheita. O ensino das disciplinas profissionalizantes foi extinto no início da década de 1990, ficando caracterizada como escola de Ensino Médio. O Colégio atende alunos dos bairros: Nossa Senhora de Fátima, Santa Terezinha, Castelo Branco, Pontal Norte, São Francisco, Santo Antônio, bairro JK e zona rural, Fazenda dos Casados e Comunidade Cisterna. A renda média geral das famílias é entre 2 a 5 salários mínimos, a principal fonte empregadora são as empresas de extração de minérios, montadoras de veículos e empresas terceirizadas. As turmas do turno matutino são de alunos mais jovens que ainda não foram introduzidos no mercado de trabalho, os alunos do vespertino são em grande parte da zona rural de Catalão (GO) e os alunos do noturno são mais adultos e em grande maioria, trabalhadores nas indústrias e comércio local. Percepção dos professores do ensino médio em relação à abordagem de gênero Foi aplicada entrevista direta aos professores (não foi autorizada a divulgação dos nomes) das disciplinas de Arte, Biologia, Educação física, Filosofia, Geografia, História, Língua estrangeira (Inglês), Língua Portuguesa e Matemática no total de dezessete professores, os comentários que seguem é a compilação das opiniões de diversos professores que lecionam a mesma disciplina em turmas e turnos diferenciados. A entrevista foi composta pelos seguintes questionamentos:
Apesar de bem elementares os questionamentos, a finalidade era exatamente ser uma entrevista simples e rápida, um questionário mais elaborado levaria mais tempo e inibiria a participação, afinal essas entrevistas acontecem no momento onde os professores estão chegando ou saindo, na troca de horários ou no momento do recreio, ninguém abordará um professor para aplicar um questionário longo no seu momento de descanso sem ter como recepção um olhar de descontentamento. A simplicidade da primeira questão foi proposital para entender como os professores estão inteirados do tema gênero, todos perguntaram: Gênero? Como assim? Confundiam se a entrevista era sobre algum gênero literário, após serem situados a que tipo de gênero a pesquisa se referia, dos dezessete entrevistados, apenas três extrapolaram gênero para além do masculino e feminino considerando a orientação sexual também como gênero. Na segunda questão apenas quatro entrevistados citaram rapidamente que todas as disciplinas deveriam discutir gênero, os demais preferiram relacionar. As disciplinas citadas foram: Arte 2 vezes, Biologia 4 vezes, Educação Física 4 vezes, Ensino religioso 2 vezes, Filosofia 1 vez, Geografia 1 vez, História 4 vezes, Literatura 1 vez, Psicologia 1 vez (lembrando que Psicologia não faz parte do currículo do ensino médio), Português 5 vezes, Sociologia 1 vez. Outra resposta foi que todas as disciplinas da área de ciências humanas deveriam discutir gênero e que as disciplinas de exatas não deveriam. Na terceira questão sobre o livro didático de distribuição gratuita pelo governo do Estado, apenas Educação Física e Sociologia não possuem livro didático, a disciplina de Sociologia adota uma apostila. A quarta e última questão obteve os seguintes comentários por parte dos professores responsáveis pelas disciplinas: Arte A disciplina consegue trabalhar gênero de forma ampla através de peças teatrais onde meninos representam papeis femininos e vice-versa, na oficina de artes todos têm liberdade de expressão seja na pintura em tela, escultura ou confecção de artesanato. Biologia A disciplina aborda pouco ou quase nada sobre gênero, o livro traz referências à diferença entre os sexos no estudo de fisiologia, reprodução humana e genética, porém sem entrar no debate social do tema, são abordagens técnicas apenas. Educação Física A dificuldade que a disciplina encontra está no momento da prática esportiva onde claramente estão determinados quais são os esportes masculinos e os femininos, e sempre que se tenta trabalhar de forma integrada há reclamações. Quando há jogos mistos os meninos agem com brutalidade intimidando as meninas fazendo com que elas não participem mais. Filosofia Esta disciplina trabalha gênero e desigualdades na realização do projeto “Aluno cidadão”, foca a responsabilidade individual com o meio e nas relações humanas, há leitura de discussão de textos, é o momento que os estudantes têm para se manifestar. Geografia No ensino médio é abordado gênero dentro do mercado de trabalho envolvendo sociedade e política, a discussão é proposta quase sempre pela professora aproveitando algum gancho do livro didático. História O livro desta disciplina aborda gênero como informação histórica, nomes e feitos que se destacaram por alguma atitude marcante com predomínio da imagem/personagem masculino e branco. Língua estrangeira (Inglês) Não aborda gênero claramente, mas o livro traz personagens diversos, homens, mulheres, negros, jovens, crianças e idosos todos representando as mais diversas atitudes cotidianas. Simulando situações cotidianas na forma de história em quadrinhos, o livro de Inglês retrata os hábitos de vida da classe média e média alta. Língua portuguesa Aborda gênero nos textos literários, cabendo às professoras extrapolarem o assunto relacionando-o com o cotidiano dos estudantes. Matemática Em momento algum se percebe o entendimento sobre as questões que envolvem gênero no conteúdo desta disciplina, o livro é estritamente técnico, são fórmulas, gráficos, conteúdo teórico e alguns textos falando sobre a origem dos conteúdos e fórmulas da matemática. A realidade escolar O que se observa no estudo desenvolvido e principalmente em relação ao material didático é que tem sido muito difícil levantar mecanismos de equidade de gênero na escola, mais por falta de condições de trabalho e de material do que pelo interesse dos professores. Considerando as condições precárias de muitas escolas e da situação de trabalho de muitos professores que dão aulas em mais de uma escola, vínculos empregatícios precários, sala de aula numerosa e estudantes de diferentes faixas etárias, aprovação de alunos com deficiências anteriores não sanadas a tempo, sem falar nos dramas familiares da maioria dos alunos que freqüentam a escola pública, como discutir relações de igualdade entre homens e mulheres via escola e livro didático? Como entender que ser feminino ou masculino ou ter outra orientação sexual diferente da condição física, não significa prejuízo ou desqualificação, seja na escola, em casa, no trabalho ou numa união conjugal. A discussão neste campo social provoca questionamentos dos lugares, das práticas sociais, políticas e econômicas, ampliando a possibilidade de ação para indivíduos de ambos os sexos independente de sua orientação e em várias dimensões da vida cotidiana, por outro lado os educadores não estão preparados para lidar com a temática, o que se percebe é um repassar de conceitos morais próprios de cada educador, reflexo de usa educação familiar e religiosa, por mais válido e importante que seja a educação familiar e religiosa, estas também não estão preparados para abordar o tema ou não querem fazer. Gênero é um tema que não surge espontaneamente durante a aula, geralmente é provocado ou instigado pelo professor, principalmente pelos que seguem uma linha menos rígida, mais amigável sem se tornar “amiguinho” em relação aos estudantes, não se pode constranger ao se tratar do assunto, partindo deste princípio, fica claro que não será todo professor, independente da escola, do livro, das condições de trabalho, que terão abertura e discernimento para tal feito. A abordagem de gênero nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) foram elaboradas em 2008 a partir de discussão com as equipes técnicas dos Sistemas Estaduais de Educação, professores e alunos da rede pública e representantes da comunidade acadêmica. O objetivo deste material é contribuir para o diálogo entre professor e escola sobre a prática docente. As OCEMs constam de três volumes. O volume 1 Linguagens, códigos e suas tecnologias abrangem as disciplinas de Arte, Educação Física, Língua Estrangeira Espanhol, Língua Portuguesa e Literatura. O volume 2 Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias abrangem as disciplinas de Biologia, Física, Matemática e Química. O volume 3 Ciências humanas e suas tecnologias abrangem as disciplinas de Filosofia, História, Geografia e Sociologia. As OCEMs não são manuais a serem seguidos, mas sim um instrumento de apoio à reflexão do professor a ser utilizado em favor do aprendizado, lembrando que se constitui de uma orientação curricular não sendo uma uniformização de práticas de ensino escolar. A abordagem de gênero está implícita em todos os volumes, porém é clara apenas no volume 1 quando trata do contexto do ensino de Arte no ambiente escolar citando diretamente o termo gênero. Além das sistematizações pedagógicas e metodológicas no ensino de Arte, as décadas de 1980 e 1990 assistem a intenso questionamento dos próprios conteúdos a serem trabalhados. Questiona-se a ênfase dos conteúdos curriculares referentes às artes europeias e norte-americanas, ou seja, uma arte branca e masculina. O ideário sobre o Ensino de Arte contempla as diferenças de raça, etnia, religião, classe social, gênero, opções sexuais e um olhar mais sistemático sobre outras culturas. Denuncia, ainda, a ausência das mulheres na história da arte e nos seus circuitos de difusão, circulação e prestígio. Tomando o aluno portador de necessidades educacionais especiais como detentor de uma cultura de minoria no espaço escolar, pondo em pauta a necessidade de reforçar a herança estética e artística dos alunos de acordo com seu meio ambiente. Enfim, exige valores estéticos mais democráticos, o que se chama de alfabetização cultural: possibilitar que aluno desenvolva competências em múltiplos sistemas de percepção, avaliação e prática da arte. […] Este conjunto de iniciativas vem ampliando o acesso à arte e à cultura, bem como ao mercado de trabalho. No entanto, apesar de sua essência crítica, a ênfase na diversidade pode assumir formas de ensino que não de celebratório ao meramente tolerante, ou mesmo submissas aos interesses de marketing. Pode, ainda, gerar guetos culturais, limitando o acesso a outras formas culturais sem desvelar ou reverter os jogos de poder social, político e econômico que as diferenças culturais sintetizam. (OCEM vol. 1, 2006, p. 117). Fazendo um paralelo entre a Pedagogia Tradicional a Escola Nova e a Pedagogia Crítica fica claro o avanço do ensino de Arte em relação ao devir humano, na Pedagogia tradicional, século XIX, o ensino de Arte era para a elite, claramente hierarquizado nos seus conteúdos e em relação ao seu público alvo, a arte era estudada nos conservatórios e nas academias de Belas Artes. A Escola Nova, início do século XX traz a tendência teórico-metodológica, centrada no aluno, sendo a Arte utilizada para a liberação emocional, o desenvolvimento da criatividade e do espírito experimental na livre solução de problemas. A Pedagogia Crítica, década de 70, é voltada para a aprendizagem contextualizada e para a crítica político-ideológica dos conteúdos da escolarização. Falava-se então das classes economicamente desfavorecidas e dos grupos marginalizados. As Orientações Curriculares para o ensino de Arte é o mais enfático, em relação aos outros volumes, quando se trata de discutir gênero, inclusão, diversidade e multiculturalidade, qual a razão disto? Talvez por não ser ainda disciplina obrigatória aos exames vestibulares haveria “tempo e espaço” para discutir e dialogar sem a pressão de cumprir determinado conteúdo, isso não significa desmerecimento do conteúdo de Arte, afinal a arte está presente em todas as outras disciplinas. A valorização da pluralidade e da diversidade cultural em todos os âmbitos e manifestações da arte contempla conceitos e princípios da disciplina Arte […] A discussão sobre diversidade (étnico-raciais, sociais, religiosas, de gênero, etc.) inseriu uma outra discussão muito em voga, sobre respeito de aceitação das semelhanças e das diferenças culturais. Embora a diferença exerça um papel decisivo nas relações interculturais, quando se respeita ou se aceita de maneira passiva, corre o risco de ter uma mera atitude de tolerância, pois já há a suposição de que há um lugar superior a ser ocupado. […] O direito à livre expressão afetivo-sexual e à livre orientação de gênero amplia oportunidades de envolvimento e superação do preconceito em relação às atividades artísticas. (OCEM vol. 1, 2006, p. 203). São relativamente novos os professores nas escolas públicas com formação de nível superior em Arte, há pouco tempo era apenas uma disciplina complemento da carga horária assim como era, no passado, a Educação Física e ainda é, no presente, o Ensino Religioso. O fato dos novos professores de Arte ter formação superior para ministrar a disciplina tem contribuído muito com o avanço nas discussões multiculturais. Os demais volumes das OCEMs pouco ou quase nada dizem sobre gênero, há comentários subentendidos, insinuações, algo a ser entendido de acordo com a cabeça e interesse de quem lê. RESULTADO E DISCUSSÃO Toda discussão envolvendo gênero nunca será, e nem poderá ser, no sentido de igualdade de pensamento, ideologia e personalidade, somos todos seres únicos com defeitos e qualidades únicas e é exatamente as diferenças pessoais que enriquecem o mosaico humano e social em que vivemos, somos animais sociais, não conseguimos viver isolados, mas também não conseguimos viver sob pressão. Há que entender que somos diferentes sim, essas diferenças faz toda a magia, harmonia ou desarmonia das relações interpessoais, isso se percebe entre todos os seres vivos, cada ser neste planeta cumpre com seu papel independente de sua forma ou do que faça, no final há sempre o equilíbrio do meio. O que não pode acontecer é ser esta diferença motivo de dominação, subjugação, opressão. É nas próprias diferenças e limitações que aprendemos a conviver com a dos outros, a nossa meta de vida deveria ser o entendimento, a ética, o respeito ao alheio. Não há ninguém totalmente completo e perfeito que não precise de uns ajustes. REFERÊNCIAS CARON, Viviane das Chagas. Gênero, sexualidade e co-educação: uma experiência na escola. Artigo acadêmico – UFPR – 2008. LOUREIRO, Carlos Frederico; LAYRARGUES, Philippe Pomier CASTRO. Ronaldo Souza. Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo : Cortez, 2009. LOUREIRO, Carlos Frederico B. Educação Ambiental, gestão pública, movimentos sociais e formação humana: uma abordagem emancipatória. São Carlos. Editora Rima, 2009, 175 páginas. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília MEC/Semtec, 1999. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação ambiental. – 5. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília : UNESCO 2002. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio : volumes 1, 2 e 3. Linguagens, códigos e suas tecnologias – Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias – Ciências humanas e suas tecnologias, Brasília 2008. SILVA, Dayse de Paula Marques da, Gênero de sexualidade nos PCNs: uma proposta desconhecida. – Artigo acadêmico – UERJ, 2009. SILVA, Ivanilsa de Oliveira e SIQUEIRA, Vera Helena Ferraz de. Gênero e sexualidade nas práticas escolares. – Artigo acadêmico – NUTES/UFRJ. 2009. SOUSA, Fabiana Cristina de. Diferença de gênero na escola: Interiorização do masculino e do feminino. – Artigo acadêmico – UNESP. 2009.
Klayton Marcelino de Paula, Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. Mestrando em Geografia klaytonmarcelino@yahoo.com.br
Ana Gizelle da Silva. Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. Mestranda em Geografia. anagizelles@yahoo.com.br Orientador: Prof. Dr. Manoel Rodrigues Chaves (UFG) Órgão Financiador: Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado de Goiás – FAPEG |
Como ser citado: PAULA, Klayton Marcelino de., SILVA, Ana Gizelle. Percepção da abordagem de gênero nas disciplinas do Ensino Médio em escola pública estadual na cidade de Catalão – Goiás. P@rtes.V.00 p.eletrônica. Maio 2010. Disponível em <>. Acesso em _/_/_. |