Bruno de Azevedoi
Publicado em publicado em 05/04/2010 como: www.partes.com.br/educacao/resenhas/mitoseverdades.asp
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 51.ed.São Paulo: Edições Loyola,2009.
A presente resenha é fruto da leitura da obra Preconceito linguístico: o que é, como se faz, do autor Marcos Magno, sendo a obra uma das primeiras leituras exigidas pelo Curso de Letras, da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe e propositiva na formação de linguistas. Trabalharei a resenha pelos capítulos do livro.
A mitologia do preconceito linguístico faz uma comparação pela luta constante dos tipos diversos preconceito, alegando que os mesmos não tem fundamentação racional, sendo que um dos preconceitos mais comuns é o linguístico, forma que está explícita nos mais variados meios de comunicação, e também, nos manuais de gramática, livros didáticos e gramáticas normativas. Em nosso país, há falta de uma política linguística oficial, que se preocupe com os direitos linguísticos dos falantes de línguas minoritárias, com um planejamento, fundamentação para que haja defesa e valorização da diversidade linguística do português brasileiro, inclusive no ambiente educacional, para que haja uma adequação do falante às variações linguísticas, a fim de que haja erradicação dos defensores da “língua pura” e da política linguística difusa, no âmbito social, onde não há conhecimento científico suficiente na sociedade, cometendo então, equívocos preconceituosos em relação à língua falada pelo brasileiro. Vejamos a seguir, os oito mitos do preconceito linguístico.
Mito nº 1: “O Português do Brasil apresenta uma unidade surpreendente”
A ciência linguística prova que, no mundo, não existe nenhuma língua uniforme e homogênea, mas sim, uma língua viva, heterogênea, com variações em todos os níveis estruturais (fonologia, morfologia, sintaxe, léxico) e em seu uso social. Nosso português brasileiro, apresenta então, grande variabilidade e diversidade, sendo em torno de 200 línguas diferentes faladas no país, fato que se dá pela grande extensão territorial, gerando diferenças regionais, e principalmente pela desigualdade social, que gera um abismo linguístico entre as diversas classes sociais existentes em nosso país. Como consequência, a educação no Brasil sofre com a imposição de uma norma linguística, como se tal fosse padrão entre os falantes do país, prejudicando diretamente os alunos que não compreendem o que vem sendo ensinado nas escolas. Outro exemplo são as camadas menos favorecidas, que não tem acesso à “língua” utilizada em órgãos públicos, deixando assim de usufruir de vários serviços que são de seu direito, simplesmente pelo fato de não compreenderam a linguagem utilizada.
Mito nº2: “Brasileiro não sabe português/Só em Portugal se fala bem português”
O esclarecimento desse mito é muito simples: o português falado em Portugal, é diferente do português falado no Brasil. O que acontece é que fomos colonizados por Portugal, então por comodidade falamos “português”, e atualmente, vem sendo dito “português brasileiro”, sendo que já possuímos nossa gramática, a qual possui uma grande diferenciação da gramática de Portugal. Essas diferenças ficam mais evidentes no que diz respeito à língua falada, que muitas vezes, se torna incompreensível.
Mito nº3: “Português é muito difícil”
Esse mito baseia-se no fato de que, nossas regras gramaticais fundamentam-se na norma gramatical literária de Portugal, ocasionando então, um aprendizado de regras que não correspondem ao que realmente falamos e escrevemos no Brasil. A partir desse pressuposto, concluímos que o Português só se torna “difícil” por aprendermos algo que não tem significado algum para nosso uso. Todo falante nativo de uma língua, sabe como empregá-la com habilidade em seu cotidiano. Um exemplo claro disso é uma criança de 5-6 anos, que já sabe se comunicar com eficiência, sem ao menos ter frequentado um banco de escola. Isso se dá por estarmos rodeados pela língua! Então não existe língua difícil, todas as línguas são passíveis de aprendizado se o falante estiver contextualizado com ela.
Mito nº4: “As pessoas sem instrução falam tudo errado”
Pela visão do preconceito linguístico, qualquer manifestação da língua fora do triângulo escola-gramática-dicionário é considerada errada. Mas existem alguns fenômenos linguísticos a serem considerados na fala, como por exemplo, a transformação do L em R nos encontros consonantais como “praca”, “pranta”. Observe as palavras: “prata”, “praga”. A etimologia delas é “plata”, “plaga”. Conclui-se então, que a própria origem das palavras explica esses fenômenos que muitas vezes são ridicularizados. Existem pessoas, tanto das classes sociais menos favorecidas, como das classes de prestígio, que tem dificuldade na pronúncia de algumas palavras, e isso acontece devido a problemas articulatórios que pode ser resolvido com assistência médica.
Mito nº5: “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”
Como diz o autor “não sei quem proferiu essa grande bobagem”, e na verdade, não passa de um mito sem fundamentação científica. O que acontece no Maranhão é a utilização do pronome tu, seguido do verbo –s (tu vais, tu queres), mas isso não dá sustentação suficiente a esse mito devido a outras variações que acontece no Maranhão. Mas o que acontece com o português do Maranhão, é basicamente que não há uma variedade nacional que seja mais pura do que a outra, e sim, uma variedade que atende às necessidades dos falantes de sua determinada região. Levando em consideração, que a variação também depende de um contexto histórico dessa região.
Mito nº6: “O certo é falar assim porque se escreve assim”
Devido à variação que acontece em toda comunidade linguística, toda língua não é falada do mesmo jeito em todos os lugares, e nem do mesmo jeito o tempo todo. Existem os sotaques da cada região que permitem que a mesma palavra falada em todo o Brasil possa ser pronunciada de forma diferente devido a esse fenômeno. É importante ensinar aos alunos a escrita de acordo com a ortografia oficial, a fim de que haja padronização na escrita para que todos que leiam possam compreender. Infelizmente é comum no ensino de uma língua ler como se escreve, porém acaba não condizendo com a realidade.
Mito nº7: “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”
Essa afirmação é comum entre professores de português, e também divulgada em gramáticas normativas, porém não condiz com a realidade. Um exemplo disso são os grandes escritores que não tem domínio da gramática normativa, e afirmam tal fato, assim como os gramáticos não são necessariamente bons escritores. O que leva a uma boa prática escrita são a leitura e escrita por parte do aluno, a fim de formar um ser letrado para a sociedade contemporânea. Há registros históricos de literatura muito antes de serem criadas as gramáticas normativas. A língua sofre mudanças a todo tempo, é como um rio corrente; já a gramática é como um lago, parado, sem correnteza. Ou seja, a gramática está submissa à língua que é cheia de fenômenos e vive se renovando, enquanto a gramática não sofre tais alterações.
Mito nº8: “O domínio da norma-padrão é um instrumento de ascensão social”
Se realmente a norma-padrão fosse responsável pela ascensão social, ocupantes do topo da pirâmide social, econômica e política, seriam os professores de português, afinal, quem tem mais domínio da norma-padrão do que eles? Outro exemplo que se contradiz ao mito: um grande fazendeiro, praticamente analfabeto, mas dono de milhares de cabeças de gado, indústrias agrícolas, e influente na política de sua região, pode falar naturalmente sem dominar a norma-padrão, que terá um prestígio muito maior na hierarquia social. Então de que adianta o domínio da norma padrão, se ao menos o cidadão não tem acesso á água encanada, rede de esgoto, luz elétrica e um lugar decente para morar? É necessário acesso à educação no âmbito geral, e condição de uma vida digna de um cidadão merecedor de todo respeito.
i Acadêmico do Curso de Letras Trilíngue – Português, espanhol e inglês, pela Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP), em Caçador/SC.
Como ser citado:
AZEVEDO, Bruno. Mitos e Verdades Sobre o Preconceito Linguístico. P@rtes.V.00 p.eletrônica. Maio2010. Disponível em <>. Acesso em _/_/_.