Estrutura Curricular e educação de surdos
Priscila do Nascimento Rocha de Oliveira[1]
Resumo
Refletir sobre a proposta do currículo na escola para construção de cidadania do sujeito surdo é muito imprescindível, pois a principal função de um currículo é interrogar-se sobres intenções e funções sociais das escolas sendo um plano de ensino e aprendizagem que inclui objetivos e métodos a serem utilizados, matérias ou conteúdos a ensinar, processos ou experiências a promover, tudo para melhor alcançar os resultados de uma aprendizagem significativa, fazendo-se assim necessário que a cultura surda e o currículo estejam intrínsecos aquilo que representa identidade surda.
Palavras-chaves: currículo, estrutura, educação de surdos.
Abstract
Reflecting on the proposal of the curriculum at the school for construction of citizenship of the subject is very deaf essential since the main function of a resume is to wonder about intentions and social functions of schools and a plan for teaching and learning that includes goals and methods use, materials or content taught, processes and experiences to promote it to achieve better results in significant learning, making it necessary that the deaf culture and the curriculum is what is intrinsic deaf identity.
Keywords: curriculum, structure, education of the deaf.
Desenvolvimento dos Temas
Esta investigação teve como principal objetivo averiguar a influência da proposta curricular de uma Escola de Educação Especial da cidade de Santa Maria -RS para a construção da cidadania dos sujeitos surdos, bem como o desenvolvimento de métodos e técnicas que considerem a diferença cultural do sujeito surdo, assim como a formação dos mesmos enquanto cidadãos atuantes e participativos socialmente.
Ao refletir na construção da cidadania a cerca da proposta curricular da escola percebe-se o quão importante é privilegiar as experiências de vida dos alunos, uma vez que, em muitos casos a comunidade surda em geral, é vítima de preconceito e desvalorização e por esses motivos, acabam não tendo sucesso nos estudos o que, muitas vezes gera desistência, ficando anos sem conseguir voltar a uma classe escolar.
Com o intuito de produzir conteúdos mais significativos a esses alunos, faz-se fundamental dar relevância a temas do cotidiano, que fazem parte da realidade vivenciada pelos alunos e que dessa forma, acabam despertando o interesse e a curiosidade dos mesmos. Também é importante propor novas e diferenciadas metodologias de trabalhado, indicando outros meios de conduzir o trabalho pedagógico, pois diferentes métodos proporcionam maior interesse na aprendizagem.
Sabe-se que somente nos anos 1960, a Língua de Sinais (LS), foi reconhecida pelo americano William Stokoe, como tendo gramática própria, momento em que surge então a Comunicação Total, filosofia que defende o uso de todas e quaisquer formas de comunicação com o surdo, incluindo a fala, a leitura orofacial, treinamento auditivo, expressão facial e corporal, leitura escrita e Sinais (MOURA, 2000). Mas mesmo assim a LS não era valorizada como língua natural dos surdos. Assim, nos anos 1990 surge o Bilinguismo que consiste em primeiro lugar na aquisição da LS pelos surdos, sendo esta sua língua natural e em seguida, lhe é ensinada a Língua Portuguesa escrita como segunda língua, o que valoriza o sujeito surdo considerando sua língua, cultura e identidade.
O ensino da Língua Portuguesa é muito importante como instrumento de produção e escrita, mas não se pode ter o ensino desta como língua materna para os surdos, pois muitas vezes se observa o fracasso quando utilizada como principal meio de ensino da escrita para as pessoas surdas.
A Língua Portuguesa desenvolve no aluno a capacidade de saber localizar, é preciso utilizar materiais que circulam em seu meio, por isso é muito importante aproveitar diferentes tipos de leituras de textos dos meios de comunicação, como jornais, revistas, dicionário para a solução de dúvidas o que também auxilia no desenvolvimento das competências e habilidades cognitivas (especialmente raciocínio e linguagem).
A aprendizagem deve permitir o desenvolvimento do senso crítico e participativo, promovendo a atenção e a socialização.
Sabe-se que a Língua de Sinais é utilizada como um meio de se ensinar a Língua Portuguesa, porém muitos profissionais ainda acreditam que somente com a LS é impossível abordar todos assuntos que uma sociedade exige que as pessoas aprendam e que cabe a escola ensinar.
A educação de surdos sempre teve preocupação com o desenvolvimento da linguagem, pois a maioria dos processos de aquisição da mesma perpassa por meios auditivos, por isso muitos dos adultos surdos demonstram o fracasso quando sua educação é voltada para meios audíveis sendo assim, muitos adultos surdos buscam, através da língua de sinais, um contato com outros adultos surdos, para assim construir sua identidade e ter um contato com sua real cultura, obtendo as relações sociais o encontro com os pares e com o próprio eu.
Surdos filhos de pais ouvintes são muito prejudicados em relação aos surdos com pais surdos, pois essa última tem o mesmo desenvolvimento que os ouvintes, essas crianças tem o contato desde cedo com a sua língua, no caso a Língua de Sinais em iguais condições que as crianças ouvintes têm com a língua auditiva.
“É possível notar que muitos surdos, privados do acesso inicial à língua de sinais, por sua história de fracasso na educação oral, são outra vez estigmatizados quando ingressam na comunidade surda, usando a língua der sinais “como uma pessoa que ouve” (SÁ, 2002 p. 94)
Sabe-se que é através da Língua de Sinais que os surdos terão acesso ao desenvolvimento da cidadania, alfabetização, aquisição de conhecimentos, o que facilita e garante o acesso a interação social e cultural deles como seres humanos.
As diferentes perspectivas de ensino estimulam as relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras, sociais; incentivar o educando à curiosidade e ao prazer de aprender é uma forma de fazer a mediação do conhecimento e provocar uma reação ativa, crítica e criativa dentro do ambiente natural.
O mundo exige habilidades de leitura e escrita como instrumentos básicos para o ingresso e participação na sociedade, mas estar alfabetizado não é somente ler e escrever, é preciso saber interagir, ser questionador, criativo, utilizar práticas sociais para a interação entre as pessoas e a resolução de problemas de vida. É imprescindível a ampliação da leitura de mundo como marca de cidadania.
A pedagogia para alunos surdos muitas vezes envolve questões mais específicas além do educacional, tornando-se um desafio, por isso é necessário estabelecer uma organização pedagógica perante aos conhecimentos prévios dos alunos, refletir sobre questões como, por exemplo, o que é necessário aprender em uma sala, se estes conteúdos contribuem para a construção de cidadania desses alunos, que considere todo conhecimento anterior, sua capacidade, cabendo sempre ao professor estar se perguntando o porquê de trabalhar com aquela ou esta atividade, incentivar, discutir, sempre respeitando as diferenças.
…os alunos aprendem quando os conhecimentos são significativos que os projetos envolvam tanto a participação dos professores quanto a dos alunos, em conteúdos procedimentais. O que pode ter mais significado para o aluno do que aquilo que foi aprendido por eles mesmos? (PICONEZ, 2002 p.112/113).
Nada melhor para a capacidade de produzir textos do que os próprios elaborados em aula, que permitem aos educandos a construção de seus conhecimentos, a capacidade de aprender, interpretar textos diretamente ligados com aquilo que o indivíduo conhece.
Um ensino e aprendizagem significativos partem de conhecimentos prévios construídos pelos educandos, o que propicia conhecer melhores situações como de atitude, valores, normas, não significando impor conceitos ou padrões, e sim criar condições para que todos participem e reformulem estas situações.
Como já mencionado, o currículo é um significativo instrumento que serve tanto para desenvolver e transformar conhecimentos, quanto para socializar os alunos, refletindo seus valores.
As adaptações curriculares condicionam todo o ensino à oralidade, o qual não há preocupação com o processo da construção da identidade, e o respeito à diferença, pois muitos dos currículos utilizados, tanto nas escolas especiais como nas próprias escolas de surdos são de ouvintes “adaptados”.
“O existencialismo curricular angustiante se amplifica e ramifica ainda mais nas escolas para surdos por uma razão evidente: quem está presente nesse currículo, além do homem branco, letrado, profissional, etc., é, sobretudo o homem falante/ouvinte; o homem que ao escutar e ao falar, informar, teorizar e opinar se refere de maneiras excludentes a esse mesmo homem.” (SKLIAR, 1997, p 245)
É preciso refletir sobre a aprendizagem desses sujeitos como uma possibilidade de construir sua identidade, sua cidadania, atender as especificidades, promovendo o desenvolvimento e a construção do sujeito.
…se a base da cultura surda não estiver presente no currículo, dificilmente o sujeito surdo irá percorrer a trajetória de sua nova ordem, que será oferecida na pista das representações inerentes às manifestações culturais. (PERLIN, 2000, p. 23)
Nesse contexto, as atividades e práticas de ensino devem ser refletidas, obter propostas que contextualize a realidade de cada aluno; promovendo a auto-estima, não pode haver acomodação e desrespeito a cultura, os surdos devem conviver num processo que possibilite o conhecimento deles enquanto indivíduo.
A escola deve ser a grande formadora de sujeitos, construindo valores, direitos e comportamentos, obter relações afetivas, cognitivas e pedagógicas em suas práticas. Pois somente com um currículo adequado tem-se êxito nos objetivos a serem trabalhados com alunos surdos.
Com a finalidade de pesquisar a influência da proposta pedagógica escolar na construção da cidadania do sujeito surdo, creio que a pesquisa ocorrerá desta maneira.
Em uma Escola Especial da rede Estadual de ensino na cidade de Santa Maria – RS que seja frequentada por alunos surdos. Buscando a compreensão da realidade da escola e de seus alunos.
É preciso que o ambiente escolar se torne um meio que irá proporcionar aos alunos uma aprendizagem significativa, cabendo ao professor repensar sua prática em sala de aula, considerando a especificidade dos alunos, e a partir disso propor atividades que deve passar pelo conceito dos educandos, pelo seu modo de vida, identificando eles enquanto surdos e integrantes de uma sociedade exigente.
Também serão utilizados estudos a pesquisa descritiva, por isso é muito importante haver o planejamento que deve estar presente em todas as atividades escolares.
O planejamento é a previsão de conteúdo de uma aula ou conjunto de aulas. Nos planos de aulas são estabelecidos os critérios, os limites, devendo-se definir o que e como vai ensinar, sempre levando em conta as necessidades de aprendizagem dos alunos, os objetivos educacionais e dos conteúdos. Uma escola democrática estabelece planejamentos para instruir uma verdadeira cidadania, é preciso conhecer a realidade dos alunos, para assim elaborar temáticas que evidenciem a cultura dos sujeitos, tornando uma educação transformadora.
Planejar para, intencionalmente, antagonizar com o currículo “oficial” e com o discurso único aprovado. Para que a multiplicidade de culturas implicadas em nossas identidades e de nossos alunos, bem como as diversas formas de expressão popular possam se tornar materiais curriculares, codificadas em temas de estudo, reproblematização e questionamento (CORAZZA, 2005 p.122).
A pesquisa descritiva identifica a importância da proposta curricular como formadora dos sujeitos, e juntamente com as observações facilitará o esclarecimento das relações com o tema a ser pesquisado.
Estas escolhas devem ter relações com o tema, e sempre que necessários poderão haver modificações quanto a elaboração, para que os objetivos sejam atingidos e a pesquisa seja contemplada.
Percebemos que, através das diferentes técnicas e formas utilizadas, os alunos ampliaram a habilidade de escrita, a capacidade criadora e os conhecimentos lógico-matemáticos.
Devido a essa expansão do desenvolvimento cognitivo dos alunos é importante salientar que a s adaptações curriculares são de extrema importância e trabalhar com metodologias que relacione o meio em que os alunos estão inseridos com os conteúdos a serem ensinados durante o ano letivo, proporcionou aos educandos maior interesse na aprendizagem.
A utilização de diferentes tipos de materiais para o desenvolvimento das atividades, tornou os conteúdos propostos pela escola, mais significativos e despertou o interesse de todos em aprender.
Ressaltamos a importância do ensino da Língua de Sinais em diferentes situações, quando bem estruturada, a LS facilita a aprendizagem dos temas que são trabalhados com os alunos e também quando se tem o contato com o educador surdo, promove a expansão do vocabulário.
Referências Bibliográficas:
PICONEZ, C. Bertholo. Educação escolar de Jovens e Adultos. Campinas, SP: Papirus, 2002.
PERLIN, Gládis. Identidade surda e currículo. In: LACERDA, Cristina B.F. de; GÓES, Maria Cecília R. de (orgs.) Surdez – processos educativos e subjetividade. São Paulo: Editora Lovise, 2000.
_____________. O lugar da cultura surda. In: THOMA, Adriana da Silva; LOPES, Maura Corcini (orgs.) A Invenção da surdez: cultura, alteridade, identidades e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.
MOURA, Maria Cecília de. O surdo, Caminhos para uma nova Identidade. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2000.
SÁ, Nidia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002.
SILVA, Tomaz Tadeu da. O Currículo como Fetiche: a poética e a política do texto curricular. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
SKLIAR, Carlos Bernardo. A reestruturação curricular e as políticas educacionais para as diferenças: o caso dos Surdos. In SILVA, Luiz H. Identidade Social e a Construção do Conhecimento. Ed. Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, 1997.
[1] Educadora Especial, Especialista em Gestão Educacional UFSM; Tutora do Curso de Especialização a Distância em Educação Especial e Pesquisadora do Grupo Kairós.
ROCHA, P. N. . Estrutura Curricular e Educação de Surdos. P@rtes (São Paulo), 01 mar. 2010.