Reflexão

Capitalismo: do desenvolvimento tecno-educacional até uma ética protestante

Leonildo Dutras de Oliveira

publicado em 27/02/2010 como www.partes.com.br/reflexao/capitalismo.asp

Seja qual for a época, a educação e a tecnologia são as molas propulsoras do desenvolvimento. Ao longo do tempo projetos educacionais estiveram a serviço de instituições religiosas, Papas, Reis, ditadores, Presidentes e grandes corporações.

No ato do descobrimento (invasão) do Brasil, os aventureiros portugueses traziam em seus navios tripulações de Jesuítas, que vinham com o propósito de evangelizar, para evangelizar tinham que ensinar os índios. Outro exemplo claro de desenvolvimento que podemos destacar ainda são as construções faraônicas das pirâmides Egípcias, que apesar de serem fruto da época arcaica ou primitiva empregavam uma certa tecnologia (engenharia e matemática), havendo uma demanda tecnológica muito alta.

 Seguindo a rota do desenvolvimento a partir da educação e da tecnologia, podemos destacar a importância para o desenvolvimento do capitalismo. Podemos destacar o desenvolvimento do capitalismo a partir da Reforma Protestante.

Quando Lutero decretou o fim do regime totalitário da Igreja Católica, podemos perceber que veio abaixo toda aquela emaranhada de ligações feudais entre o poder Papal, a política e a economia.

Durante a idade média os bispos não admitiam ideias independentes, e os professores e alunos exigiam debates abertos sobre todas as questões. O papa Inocêncio III apoiou as universidades, buscando maior prestígio para si e diminuição do poder dos bispos.

A maior parte das escolas durante a idade media se encontravam nos mosteiros, destinavam-se a educação religiosa de crianças que iriam seguir a carreira religiosa, era gratuito, essas crianças recebiam hospedagem, alimentação e roupas. Ensinavam-se cantos, escrita e latim. Estas escolas eram mantidas pelos senhores feudais, e estavam a se serviço.

Durante uma determinada época houve uma profunda revolução no contexto social e econômico dentro da Europa, ocorrendo o aumento da produção, mas, se por um lado houve aumento na produção agrícola, por outro diminuiu a oferta de terras férteis, causando a migração territorial e a exploração de novos continentes, havendo um desenvolvimento desordenado.

Somente a partir dos séculos XI e XII, houve uma mudança de mentalidade e as escolas passaram a ser encontradas em grandes números, devido a necessidade de mercado, para atender a administração e os negócios dos artesãos e dos comerciantes, que eram emergentes.

Por volta do século XIV, mais precisamente no inicio, uma crise com dimensões globais atingiram a Europa e todas as suas estruturas (economia, política, religião e sociedade), tendo as suas maiores consequências na religião e na economia, logo visto que culminaram na queda do sistema feudal e no domínio da Igreja Católica.

Ocorreram chuvas intensas, acompanhadas de um inverno rigoroso, com isso, diminuiu a oferta de alimento. Diante do grande desenvolvimento urbano. Passando a fome a assombrar a Europa, havendo uma má alimentação o corpo fica propicio as doenças, abrindo caminho à epidemias. Em 1348 até 1351 em quase toda a Europa podia-se observar a presença da peste negra (voltando em outras ocasiões 1363, 1374, 1383, 1389, 1410 etc.). As aglomerações de pessoas aliada a péssimas condições financeiras e de higiene, foram o estopim para desencadear o medo global.

Vendo que a dificuldade estava aumentando, os senhores feudais começaram a explorar cada vez mais os camponeses, ocasionando revoltas e insatisfação social. Levando conflitos em toda parte do continente Europeu, havendo a necessidade de aperfeiçoamento bélico e de praticas de controle e a conquista do poder político sólido. Houve a necessidade de conquistar terras produtivas, minérios e a presença simbólica de um monarca firme e respeitado para evitar e controlar a demanda e revolta social, renovando a Igreja e sua ética. Mudando a visão que os homens tinham de Deus, salvação e pecado, começando um novo tempo.

A consequência dos fatores expansionistas foi um regime capitalista absolutista, uma eminente reforma religiosa e o renascimento das artes e da cultura, foi época de rupturas nas ligações estreitas entre economia, sociedade, política e religião. Consolidação da mentalidade burguesa e consequentemente a Igreja Católica via o seu poder diminuir e o eminente aumento das chamadas heresias. Mas, estes fenômenos só se consolidariam nos séculos seguintes.

Os novos burgueses financiavam os novos descobrimentos, expansão do território e econômico. Mas para haver um aumento na demanda expansionista foi necessário haver um desenvolvimento tecnológico em torno das embarcações, navegação e nas novas agriculturas. Modificando a forma de plantar e colher, de armazenar e transportar os produtos, nascendo novas formas e formulas de conservantes, e instrumentos de construção de navios e navegação. Causando a centralização política para conter e comandar as novas relações econômicas, bem como as inter-relações sociais e econômicas, acelerando o crescimento e a expansão do capitalismo. Diante das novas experiências, houve uma nova possibilidade, foi permitido o aperfeiçoamento de novas técnicas e relações de comercio, ocorrendo o intercâmbio econômico e social, possibilitando a expansão progressiva do capitalismo.

Porém, vale a pena ressaltar que essa sociedade europeia vinha se desenvolvendo em torno do capitalismo desde o século XIII ou XIV. Em torno de sua existência pragmática de organizada no lucro e na crença de uma livre concorrência houve um profundo impacto com a mentalidade Católico-feudal. Confrontando o espírito coletivista e arrendatário do feudalismo, foi graças ao capitalismo e a sua necessidade de se consolidar na sociedade que a Europa venceu uma grande crise econômica, social e religiosa antes do século XV.

A nobreza feudal foi sucumbida diante da necessidade de expansão e desenvolvimento, monarcas impuseram seu poder e sua lei, para conter qualquer possível revolta, houve um casamento entre a realeza e a burguesia, pois, ambos precisavam e se apoiaram e algo sólido, o Rei para manter a ordem e a burguesia para dar segurança aos seus negócios em expansão. Havia uma extrema necessidade de atingir metas e criar um setor livre e independente, nascendo assim a mentalidade liberal.

Seguindo o curso da expansão capitalista a filosofia rompeu com a teologia e deixou de ser sua serva, a educação passou a ter mais atenção e haver uma abertura, para o restante da sociedade, principalmente com a reforma protestante.

Nos séculos XIV e XV que antecederam a reforma, podemos dizer que foi a ultima crise de fato e de direito do feudalismo, suas causas foram muitas (Grande Fome (1315-1317), a Peste Negra (1348-1351), além de diversas catástrofes locais e guerras). Havendo uma profunda mudança nos valores morais e sociais, mudando os laços econômicos, social e religioso, as relações familiares foram abaladas. Mudando os conceitos e preceitos teológicos, de forma que os valores sociais e morais não foram mais justificados pela teologia e sim pela óptica do direito, da sociologia, antropologia, pedagogia e filosofia. Se excluindo a noção de medo que a Igreja Católica introduziu no imaginário popular.

O império católico sucumbiu quando começou a demonstrar muitos exagero nos gastos, pois, havia uma população faminta e os papas gastavam uma fortuna em obras faraônicas e em obras de arte, para sustentar todo o luxo era necessário o aumento de impostos, a nobreza estava de olho nas terras da Igreja e a burguesia foi afetada diretamente com o eminente aumento de impostos.

Na reforma a imprensa teve um papel decisivo, ocorreu que multiplicaram-se as traduções Bíblicas para língua vulgar, e as pessoas passaram a fazer dos ensinamentos bíblicos como os únicos dignos de serem seguidos.

Os lideres de vários países viram que poderiam se tornar mais fortes ainda, determinando que o Estado pudesse se meter em assuntos religiosos.

Certas mudanças devem ocorrer sempre, visando manter o homem no caminho da salvação, justificado pela fé na busca de Deus.

O homem jamais deve fugir dos princípios morais que justificam a prática do bem, baseando-se sempre na bíblia, pois, é a verdade que liberta e estabelece a existência de Deus. Na tentativa de restabelecer a verdade Lutero foi um dos principais reformadores. Quais as justificações de Lutero para aderir a reforma protestante estabelecendo um novo sistema religioso, com novas regras normativas? Lutero, homem religioso, um monge que si importava apenas com sua fé? Herói que deu início à reforma protestante, mudando a forma do homem encontrar o caminho para a salvação de um sistema religioso falido.

O sistema religioso estava falido, eis que surge Lutero como reformador das práticas religiosas, pregando a predestinação à salvação do homem, o monge se preocupava e se importava bastante com sua fé, mudou através de sua concepção a forma do homem encontrar o caminho para a salvação dentro de um sistema religioso falido, acreditando que a igreja teria que ser desprovida de bens materiais e a ela cabia apenas fazer o bem, auxiliando o homem na busca de um caminho espiritual da salvação.

A reforma foi estabelecida como um ato de salvação para o cristianismo, nascendo assim um movimento com várias tentativas de rever os conceitos, métodos e os objetivos políticos e sociais da igreja católica romana. Com a intenção de moralizar as atitudes, estabelecer uma nova postura da igreja, os reformistas (Lutero) questionavam a moral dos indivíduos que comandavam e ditavam regras dentro da igreja católica, introduzindo dentro de um contexto teológico e filosófico a chamada teologia da salvação do indivíduo.

Uma tentativa de estabelecer os princípios morais cristãos do jeito que eles estavam escritos na bíblia. Era o surgimento de diferentes convicções religiosas. Segundo ALMEIDA (1983, p. 67) afirmava que: “A terra ferve com o derramamento de sangue, contudo os sacerdotes não tomam conhecimento; antes, pelo seu exemplo perverso, trazem sobre todos e morte espiritual”.

Lutero ataca a forma de vida levada pelos lideres católicos, pois, os mesmos levavam uma vida de riquezas e luxuria, estarrecendo assim os reformistas. Lutero acreditava que a igreja teria que ser desprovida de bens materiais e a ela cabia apenas fazer o bem, além de auxiliar o homem em um caminho espiritual em buscas da salvação, aproximar o homem de Deus, através da palavra de Deus, (a bíblia).

[…] Senta no trono de Salomão e solicita a todo mundo: quem tiver ouro é bem vindo e pode fazer o que quiser, mas aquele que busca fazer o bem é expulso; Oh! Senhor, meu senhor, eles não admitem que se faça o bem!  É assim, Oh! Igreja prostituta, expuseste perante o mundo inteiro a tua malícia (ALMEIDA, 1983, pg. 68).

A verdade bíblica, essa que liberta e justifica a fé do homem, não as doutrinas que afastam o homem de Deus e da salvação. Segundo GONZÁLES (2003, p. 50) afirma que: “Lutero abriu sua bíblia no primeiro capitulo de romanos e descobriu ali que “o justo viverá pela fé” […] no evangelho a justiça de Deus se revela”.

[…] é que os ministros, antes de tudo tragam ricamente a palavra da verdade. O globo terrestre está repleto, sim, repleto até em profusão com toda imundície possível de doutrina.  O povo é submetido a tantas leis, a tantas opiniões de homens, sim, até mesmo as matérias supersticiosas (ALMEIDA 1983, p.70).

Os ideais de Lutero se expressam no entendimento, na doutrina da justificação pela fé, sendo um ponto fundamental de toda reforma. Querendo que todos os conceitos fossem revistos, tendo um forte elo de ligação da reforma com um caráter religioso, social e político.

[…] os homens só podem ser justificados diante de Deus mediante as suas próprias forças, méritos ou obras; pelo contrário, são justificados pela obra de Cristo recebida pela fé, quando acreditam que foram recebidos na graça e que seus pecados são perdoados pela obra de Cristo (BROWN, 2001, p. 33).

 Justificando que das palavras dos homens não nasce verdade alguma, apenas mentiras, calúnias. Segundo ALMEIDA (1983, p.70) afirmava que: “O que pode aí nascer, se é concebido com palavras de homens, e não com a palavra de Deus”. O monge Lutero faz uma crítica muito forte, do jeito como os homens que deveriam cuidar da palavra de Deus, da verdade. São ligados apenas com bens materiais, como riqueza e poder.

Com a reforma de Lutero o acesso a informações e conhecimentos foi possível, pois, houve o desenvolvimento das forças sociais e econômica. Enfim podemos ver claramente que a reforma teve um impacto bastante forte no desenvolvimento econômico e social, ficando refém dos novos paradigmas econômicos, e das mudanças de comportamento em torno da reorganização social dos grandes centros urbanos.

 A partir da reforma e suas mudanças estruturais, foi possível a manifestação de novas tecnologias, com a intenção de alavancar as vendas e o comércio, aumentando a demanda populacional e criando a lei de oferta e procura, excluindo a noção de troca existente na mentalidade feudal. Passando a criar a valoração das coisas dando medidas e, perfeição a organização tanto econômica quanto social, passando a excluir a produção artesanal de produtos e os produtores passaram a produzir mais graças as novas terras férteis e a mão-de-obra escravo dos Africanos e Americanos.

Esse mesmo fenômeno foi o responsável pela evolução e explosão em massa do capitalismo. De forma predatória a necessidade é que faz os grandes descobrimentos e eventos. A população estava aumentando, pois, os valores morais, religiosos e econômicos foram eliminados ou substituídos, mudando a visão de sociedade e desenvolvimento, principalmente dos que tinham um poder econômico mais elevado. Para a consolidação e sobrevivência do novo sistema era necessário haver um certo distanciamento dos valores espirituais e uma aproximação da vida terrena. Para haver um impulso na exploração foi preciso descentralizar o poder e incentivar o consumo e o gasto, principalmente nas grandes cidades, criando desordem. Mas, o capitalismo só veio se desenvolver de fato e de direito a partir de uma ética protestante e sua expansão demográfica e simbólica.

Podemos ver claramente que Max Weber demonstra que a ética bíblica, praticada por seus seguidores com grande ênfase produz um capitalismo justo e próspero, diante de uma cultura frágil e desumana propagada por uma ideologia Católica em época de transição. Definindo o espírito capitalista como sendo as ideias e os hábitos que proporcionam de maneira positiva além da tendência do homem buscar o lucro de forma racional e vocacional, esse sistema economizo que vemos de tempos em tempos sofrer uma crise existencial e humanista sofreu uma enorme influencia dos modos de vida protestantes. A partir daí vemos surgir varias teologias da prosperidade, onde homens buscam um Deus conforme a sua necessidade.

Weber explica como o ascetismo laico Cristão surgido a partir da reforma protestante criou uma nova ética, que estava em perfeita sintonia com o desenvolvimento do capitalismo industrial. Esse caso meio estranho e contraditório à própria ética Cristã advinda diretamente das doutrinas de denominações especificas que justificam o modo de vida capitalista que parecem estar se repetindo nos dias de hoje, mas de modo diferente em uma cultura diferente, a partir de outra dimensão social. Em semelhança com a teologia moderna as pessoas dos séculos de desenvolvimento do capitalismo (os novos protestantes) têm mais liberdade religiosa e podem adquirir bens materiais mais facilmente e estão menos apegados com uma vida pós-terrena.

[…] a menor mundanidade do catolicismo e o caráter ascético de seus mais altos ideais tenha induzidos seus seguidores a uma maior indiferença para com as boas coisas deste mundo […] Do lado protestante, ela é usada como base das critica de tais ideais ascéticos (reais ou imaqginarios) do modo de viver católico, enquanto os católicos respondem com acusação de que o materialismo resulta da secularização de todos os ideais pelo protestantismo. Um escritor contemporâneo tentou a diferença de atitudes diante da vida econômica da seguinte maneira: “O católico é mais quieto, tem menor impulso aquisitivo; prefere uma vida a mais segura possível, mesmo tendo menores rendimentos, a uma vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo que esta possa lhe propiciar a oportunidade de ganhar honrarias e riquezas […] o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado (WEBER, 2007, p. 42, 43)”.

Os homens de denominação protestante recebem aprendizagem e formação para uma vida capitalista a partir do desenvolvimento e da mentalidade criada com a reforma protestante, aprendiam que deviam ter uma aptidão para o lucro e que este lucro não depende de bênção divina e sim da forma como iriam gerenciar os negócios e a vida em comunidade, agarrando as oportunidades que se apresentavam. Segundo Weber (2007, p. 43) “alegria materialista do protestantismo”. Delegando assim na reforma protestante uma expectativa acerca do lucro.

Dentro da tradição católica (igreja católica Romana), a sua devoção religiosa estava normalmente acompanhado da rejeição (negação) dos assuntos relacionados ao mundo (assuntos mundanos ou a ocupação econômica na obtenção do lucro). Passando a igreja católica (no caso a maior potência do mundo à época) a condenar a prática do lucro, o que não era o caso do protestantismo, um verdadeiro paradoxo.

Havia uma mudança social e religiosa em todas as esferas da sociedade, o feudalismo estava em cinzas e de forma meteórica surgiu o capitalismo cheio de distorções economias e sociais. Esta nova ética era muito bem aceita pelos novos capitalistas, pois, centrava no homem a responsabilidade ser o centro e a medida de todas as coisas e responsáveis pelos seus ganhos e lucros, sendo este protestante disciplinado e caminhará em sintonia com seus negócios, porque vê na disciplina diária um elemento de fé e uma prova de que se encontra entre os escolhidos de Deus.

O pragmatismo protestante facilita a aquisição e o desenvolvimento de tecnologia e habilidades comerciais, enquanto que os católicos são voltados para a contemplação cósmica e para a metafísica contemplativa de uma vida pós-terrena. Através desta constatação Weber demonstra que a vida é extremamente terrena e uma possível vida pós-terrena depende de como será conduzida essa vida terrena.

            […] E foi o que trouxe inevitavelmente um significado religioso às atividades seculares do dia-a-dia e fixou de inicio o significado de vocação como tal. O conceito de vocação foi, pois, introduzido no dogma central de todas as denominações protestantes e descartado pela divisão católica de preceitos éticos (WEBER, 2007, p. 70).

 O protestantismo encorajava o homem a planejar sua vida baseada nas obrigações ascéticas em prol do ganho econômico, favorecendo a racionalização do cotidiano, passando a transformar o trabalho metódico e vocacional, numa finalidade em si mesma, carregada de sentido religioso e se inteirando com as coisas sagradas, como Deus, salvação, dotando o homem de uma ética religiosa e ao mesmo tempo com as coisas materiais especificamente humanas como trabalho e capital.

Portanto o comportamento protestante está relacionado com a ascensão do capitalismo, onde de maneira alguma o homem deveria se afastar das tarefas mundanas. Cada homem tem que encontrar uma vocação para o trabalho, a fim de estabelecer um vínculo firme e permanente com o lucro e a vida terrena.

O ESPÍRITO DO CAPITALISMO

O processo de mudanças sofrido pelo capitalismo foi histórico, criando varias relações sociais e conflituosas! Por que as suas práticas sempre serão as mesmas, ou seja, a obtenção de lucro baseado na exploração. Esse capitalismo era seletivo, ele excluía os homens que não se adaptavam a ele (o homem passava por um doloroso processo seletivo) o homem lutando desesperadamente pela sobrevivência tendo que se adaptar a todo esse processo. Segundo Weber (2007, p. 52) “Assim, pois, o capitalismo atual, que veio para dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa, mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto”. Devido o seu alto poder de exclusão. Impulsionado pela reforma protestante foi possível criar essa nova mentalidade econômica e social, alterando o comportamento do cotidiano do homem.

A verdadeira essência do capitalismo está na capacidade individual de se sobressair no concorrido mercado competitivo, o espírito do capitalismo está na capacidade de cada homem em se posicionar eticamente perante o próximo? Segundo Weber (2007, p. 48, 49) “pontualidade e a justa medida em todos os seus negócios”. O verdadeiro espírito do capitalismo está na capacidade de doutrinar homens para a aquisição do lucro, criando um impulso individual para o aumento do capital[1], adotando o ganho de capital como impulso de vida ou conduta, o homem naturalmente quer ganhar mais e mais dinheiro. O espírito do capitalismo moderno se expressa através da atitude que usa para alcançar o lucro racional e sistematizado, agindo principalmente contra o tradicionalismo. Para Weber o alto ganho de capital empregado por parte dos homens de negócio que abandonaram antigas práticas econômicas se deu devido ao processo de racionalização dos modos de produção empregado de forma expansiva e do emprego do capital existente. Podemos compreender por racionalização do capitalismo a capacidade que os novos capitalistas tinham e têm em suprir a sociedade de seus bens de consumo, ou seja, é a criação de uma ideologia consumista dentro da sociedade.

O capitalismo[2] com suas modernas práticas é capaz de produzir o seu próprio capital. Segundo Weber (2007, p. 62) “O ponto em que ele se manifesta é capaz de trabalhar para si mesmo, produzir seu próprio capital e suprimento monetário para os próprios fins”. E os pioneiros nesse novo modo de ganhar a vida, foram homens comum, com seu pouco dinheiro ganho as custas de muito trabalho, fizeram dos seus ganhos uma forma nova de se aumentar o capital, homens comuns com princípios modernos (livres do tradicionalismo).

Para Weber o capitalismo é muito mais que a busca pelo lucro ou mesmo um conjunto de práticas econômicas. É uma cultura ou um espírito adotado como uma forma de vida, que supre a necessidade do homem vivente em um contexto social avançado.

O capitalismo atual, especialmente aquele pregado pela Teologia da Prosperidade, é mais parecido com aquilo que Weber chama de Capitalismo Primitivo. A Teologia da Prosperidade teve uma enorme influência sobre as práticas econômicas de seus seguidores da mesma forma que Weber mostrou que o puritanismo teve no passado, e o mais provável que hoje ocorra o contrário, é a Teologia da Prosperidade que é influenciada pelo Capitalismo, e não o Capitalismo pela Teologia da Prosperidade, deduzindo que quem não quer trabalhar que também não coma e não alcance a salvação da vida eterna. O Capitalismo baseia-se no acúmulo de riquezas ou na ostentação.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo; Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo-SP, Martin Claret. 2007.

BROWN, Colin. Filosofia e fé cristã. Um esboço histórico desde a idade média até o presente: tradução. Gordon Chown. 2º ed. São Paulo. Vida nova. 2001.

GONZÁLEZ, Justo L. Uma história Ilustrada do Cristianismo. A era dos reformadores: Tradução. Itamir N. de Souza. 6ºed. São Paulo. Vida nova. 2003.

ALMEIDA, Abraão pereira de. A reforma protestante. 7º ed. Rio de Janeiro. CPAD. 1983.

NASCIMENTO, Milton Moreira do & NASCIMENTO, Maria das Graças S. História em Movimento-Iluminismo, A revolução das luzes. São Paulo: editora Ática. 1998.

[1] Lucro.

[2] A força do moderno capitalismo está não no dinheiro empregado nele, mas sim na sua capacidade de aumentar o seu próprio lucro, ou seja, no poder de ação e reação dentro de um sistema econômico.

 

 

 

Leonildo Dutras de Oliveira

Possui graduação em filosofia pela faculdade de teologia e filosofia—Sinal (2008), pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior pela União Educacional do Norte-UNINORTE. Atualmente é professor de História da filosofia medieval e Filosofia moderna na FTBB-Faculdade de Teologia Batista Betel. Tem experiência na área de projetos, estudo das obras dos filósofos Michel Foucault e Nietzsche e desenvolvimento e estudo da filosofia em palestras na Escola Estadual Heloisa Mourão Marques, junto ao professor de filosofia Guilherme da Silva Cunha

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