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O fim da trapizonga do Tró-ló-ló

Pedro Coimbra
           
Dizem que Santana naqueles tempos era uma corrutela onde se escondiam portugueses, paulistas, índios, negros e aventureiros vindos de todos os locais do mundo conhecido. Quase sempre os primeiros trabalhavam de sol a sol e os outros viviam de espertezas.
            Jean Claude Troisgros surgiu de um dia para outro, com roupas estranhas e um perfume exalando um forte odor e fala enrolada. Para uns dizia-se francês e para outros prussiano.
            Como muitos parecia ter vindo a procura do ouro e das pedra preciosas nos rios e riachos das serras, mas queria mesmo era depenar os trouxas nas mesas de jogos.
            Mas uma coisa todos reconheciam nele: era o melhor de todos com uma espada na mão.
            Um dia, juntou sua tropa de mulas, escravos, índios e muitas mulheres e se mudou para a beira do rio, debaixo de um frondoso jacarandá.
            Em pouco tempo construiu uma grande casa, cheia de quartos, uma enorme cozinha e uma grande senzala para abrigar os serviçais escravos negros.
            Festas memoráveis, grandes orgias, lugar seguro para os potentados da época, naquela que foi considerada pelos historiadores a primeira casa de tolerância da Capitania das Gerais.
            Contava ele mais de oitenta anos quando morreu de morte natural, deitado com uma bugrinha sem vergonha, em uma rede.
            Aos poucos todos os agregados deixram a casa, que por falta de herdeiros foi se acabando.
            Até que apareceu Joaquim Tró-ló-ló que tinha esse apelido pelo tamanho descomunal do seu traseiro. 
            Era o melhor mestre de obras daquelas paragens e tudo o que sabia aprendera na Corte com os oficiais portugueses que embarcaram na aventura de Dom João VI, Rei de Portugal que corria dos franceses quando aportou nas terras brasileiras.
            Olhou para a casa abandonada, quase uma tapera, abanou a basta cabeleira e daí por diante tomou conta do lugar que todos diziam ser mal assombrado.
            Começou então a comprar todos os trastes que encontrava para sua estranha construção que era sempre no sentido vertical.
            Um frei capuchinho que foi visitá-lo disse que pelo jeito Tró-ló-ló queria atingir os céus e acabou abençoando-o e a sua obra, uma perfeita Torre de Babel, a troco de algumas moedas.
            Nos últimos tempos Tró-ló-ló não mais comia e nem dormia. Com uma botelha de um vinho verde ordinário sempre a mão prosseguia sua edificação que para alguns já estava mais alta que a torre da igreja da irmandade dos pretos.
            Mas tudo nessa vida tem seu preço. No fundo aquela trapizonga do Tró-ló-ló era um culto a ambição humana e uma afronta a Deus, toda a gente do lugar dizia.
            Numa noite de lua cheia ouviram-se grandes estalos por toda aquela parafernália que veio a baixo.
            O corpo de Joaquim Tró-ló-ló nunca foi encontrado e os moradores diziam que virou alma penada, assombrando o lugar, abraçado a Jean Claude Troisgros, o francês.
            Jogaram sal grosso nas ruínas e nunca mais ninguém ousou tomar posse daquele sítio que ficou abandonado para sempre..
            Ali só o que permaneceu exuberante foi o jacarandá, beirando os céus…
           
    

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