O padrão de beleza feminino é historicamente relativo:
Até a Renascença a moda era ser gordinha, pois magreza era considerada sinal de doença, num período marcado por pouca higiene e, por consequência, grandes epidemias.
Logo em seguida os excessos adiposos foram confinados em sufocantes espartilhos. De certa forma, esta moda perdurou até a década de 1950, pois as principais atrizes de Hollywood, que eram, digamos, bastante voluptuosas, tinham que usar vestidos dois números menores para realçarem ainda mais suas formas. Jane Russel que o diga… Em suma, em algum momento alguém estabeleceu que beleza era sinônimo de sofrimento físico, semelhante à máxima do boxe: “No pain, no gain!”.
Obviamente, esses padrões só prevalecem para quem se dispõe a segui-los. E existem muitas mulheres dispostas a fazê-lo.
O que se vê é pouca preocupação com o bem-estar e muita com os padrões de beleza impostos pelo mercado. E vale tudo para estar na moda, desde usar “modelitos”, acessórios e maquiagens que beiram ao ridículo (mas basta tirá-los para voltar ao normal), até danos ao corpo, como “piercings” e tatuagens, que transformam seres normais em híbridos do monstro de Frankenstein com membro da Yakuza. Afinal, “Moda é moda!”: celebração das aparências!
Mas o que mais preocupa é o fascínio que o mundo “fashion” exerce sobre meninas cada vez mais jovens e imaturas, agravado por pais “distraídos” e recrutadores, agentes e clientes insensíveis. Porque tantas se lançam de corpo e alma, mas sem muito raciocínio, nesse universo de luzes e imagens?
Os meninos querem ser jogadores de futebol: atléticos, fortes, rápidos… Já as meninas querem ser modelos: magérrimas e frágeis!
Para muitas delas, mesmo antes do início da adolescência, “manter a forma” é uma obstinação recheada de dietas doidas, cirurgias e “malhações” insanas. O corpo, magro e alto, em vez de sadio e bem cuidado fica susceptível a doenças típicas do meio, tais como: anemia, anorexia e bulimia. Seria curioso ver quem define esses padrões estéticos subnutridos desfilar nas passarelas… Será que eles os seguem? Além disso, é tragicômico verificar que, num mundo onde milhões de pessoas morrem de inanição, esqueléticas por falta de alimento ou por não ter dinheiro para comprar o que comer, milhares de jovens passam fome e ficam esquálidas para alcançar fama e dinheiro!
O limite entre o profissionalismo e a neurose é quase imperceptível, e as implicações psicológicas podem assumir proporções de uma bola de neve descendo a montanha.
É natural buscar ser atraente, mas quando isso põe a saúde e a vida em risco, as tragédias mitológicas de Narciso e Helena de Tróia passam a fazer todo o sentido: A beleza vira um fardo… Um castigo!
Mas de quem é a culpa? Da imaturidade? Da ambição? Do mercado, que joga com o inconsciente das pessoas para impor modas (ou melhor, seus interesses comerciais) como se fossem “tendências”? Ou da sociedade, que se submete a esse “jogo”; que em nome do “glamour” consome meninas que via de regra são selecionadas aos 13, atingem o “auge” aos 18, estão “decadentes” aos 25 e entram em depressão aos 28, quando não piram ou morrem, antes?
Enquanto a “ditadura da moda” mantiver essas exigências, quem escolhe esse rumo precisa estar atento para não perder, literalmente, os sentidos ou a vida!
A vida é bela! E não há beleza física – efêmera, por natureza – que justifique seu desperdício ou perda!
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor