Pedro Coimbra
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A noite de 31 de dezembro de 1988 estava escura e um chuvisco teimava em cair sobre as nossas cabeças.
Estávamos na casa de nossos amigos Aloísio Rodrigues, “o Peça” e sua mulher Solange, conversando e bebericando na comemoração do Ano Novo.
Ao longe o som dos primeiros rojões e a luz dos fogos artifícios.
Foi quando alguém trouxe a notícia de que pelo menos 51 pessoas haviam morrido no naufrágio do barco de turismo Bateau Mouche 4, ocorrido entre 23h45 e 23h55, nas proximidades do morro do Pão de Açúcar, na entrada da baía da Guanabara. Entre os mortos estavam a atriz Yara Amaral e Maria José Teixeira, mulher do ex-ministro do Planejamento Aníbal Teixeira, que conseguiu se salvar. O barco levava entre 137 e 197 passageiros, que assistiriam ao largo da praia de Copacabana, na zona sul do Rio, às comemorações pela passagem do ano.
Por mais que todos tentassem fingir uma nódoa de profunda tristeza caiu sobre os festejos do nosso réveillon.
Vinte e dois anos depois, em nossa casa, curtindo o braço quebrado e operado de minha mulher Eudóxia, acesso a internet e tomo conhecimento de que a cidade de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, estava a mercê de grandes deslizamentos de terra, com 52 mortes. Do total, 31 corpos foram encontrados na praia do Bananal, na Ilha Grande, e outros 21 no morro da Carioca, no centro.
Logo a seguir a mídia informa que a prefeitura de São Luiz do Paraitinga, a 182 quilômetros de São Paulo, havia decretado estado de calamidade pública depois de mais de 2 mil pessoas da cidade ficarem desabrigadas, diante de uma grande inundação.do rio Paraitinga que subiu dez metros. O comércio e cerca de 500 casas do centro histórico foram atingidas pela água.
Pelas cabeças de todas nós a pergunta constante é por quê estas tragédias ocorrem logo no Ano Novo, época que acumulam tantas esperanças de todos nós.
Lembramos aqui um pensamento, quase uma certeza, do filosofo e matemático Blaise Pascal, morto aos 39 anos de idade, que criou a base da Teoria das Probabilidades: “A única verdadeira grandeza do homem reside na consciência de seus limites e de suas fraquezas”.
É certo que o mundo enfrenta problemas climáticos, fruto em grande parte do aquecimento global, mas meu pai já me dizia que o clima no planeta Terra era sempre instável e ciclíco.
Ou ainda, que em tempo de chuva, todo sinal é de chuva…
Procurando culpados por esses acontecimentos na “terra dos nambiquaras” reforçamos o nosso conhecimento de que a grande maioia da classe política é despreparada e corrupta, a administração pública pesada, onerosa e ineficiente, e que temos como regra geral correr riscos, menosprezando a força da Natureza quando desenvolvemos nossos povoamentos a beira de mares e rios. E que somos, em geral, omissos com relação a esses problemas, com os “nambiquaras” falando uma língua absolutamente estranhas para nós.
Fora desses argumentos lógicos só nos resta o consolo de apelar para os conhecimentos espirituais de que tais tragédias são necessárias ao aprimoramento dos espíritos.
Principalmente dos “nambiquaras-mór”…