Um dos principais diferenciais, em qualquer profissão, é a capacidade de escrever textos fluentes e objetivos.
O indivíduo pode ser extrovertido, carismático, ter um excelente “marketing” pessoal, mas se não souber transcrever suas ideias, o alcance das mesmas será limitado aos que o vêem ou ouvem.
Os antigos primeiro usaram a voz, depois desenharam, em seguida associaram sons a símbolos e, assim, surgiu a escrita. A “Babel” das distâncias fez surgir múltiplos idiomas. O estabelecimento de regras e a expansão das culturas os difundiram. Com isso, saber ler e escrever passou a ser imprescindível para a aprendizagem e o congraçamento entre os povos.
Mas, nesse universo da expressão, nem tudo é dito claramente, tanto que novos “dialetos” são criados a cada dia, com os mais diversos objetivos: no campo estratégico existe a criptografia; a Internet também tem os seus, corruptelas dos idiomas de cada país. Os sinais de fumaça e luz, os tambores, certos toques físicos também servem para comunicar. O código Morse, a Libras e o Braille também são exemplos elaborados e difusos de ferramentas de comunicação.
Para ter acesso a todo esse conhecimento acumulado pela civilização ou, simplesmente, para intercomunicar, basta ao indivíduo aprender esses códigos gráficos.
No caso idiomático e da formação básica em ciências, nos dias de hoje isso ocorre, normalmente, ao longo da formação acadêmica do indivíduo. No Brasil, isso inclui, basicamente, os Ensinos: Fundamental e Médio.
Na etapa seguinte, o Ensino Superior, espera-se que o aluno saiba expressar-se adequada e logicamente nas formas escrita e verbal, e que saiba ler e compreender um texto, para que seja dada continuidade à sua formação. Mas o que se vê frequentemente é uma sensível dificuldade nesses âmbitos. Os textos produzidos carecem de pontuação, as frases são desconexas, incoerentes; a grafia das palavras é incorreta, as expressões matemáticas são mal apresentadas, as unidades de medidas são incoerentes e por aí vai… As “pérolas” do ENEM nos fazem rir, mas são tristes sinais.
Será que não estão ensinando? Será que não estão aprendendo?
No entanto, os mesmos alunos que se expressam mal na linguagem formal são extremamente fluentes e objetivos nos “dialetos” verbais ou digitais. Nesse ambiente, eles lêem e escrevem com desenvoltura!
Qual o motivo, ou motivos, deles não o fazerem com a mesma desenvoltura na linguagem formal?
A postura do professor, nesse sentido, é fundamental!
Inicialmente, é preciso realizar que saber muito não implica ensinar bem, e que comportamento arrogante, esnobe ou extremamente rigoroso, tende a criar barreiras, em vez de ajudar a transpô-las.
O grande desafio dos professores talvez esteja não em ensinar os currículos, mas em fazê-lo de forma dinâmica e prazerosa. Os contextos devem ser considerados, a aprendizagem deve ter sentido, opções devem ser apresentadas e o professor deve ser qual uma ponte. Além disso, ele deve estar disposto a ensinar, mas, igualmente, a aprender, inclusive com suas próprias experiências e dos alunos!
O incentivo à leitura é outro caminho, pois a leitura de bons textos contribui para fixação de formas adequadas de expressão escrita. A produção individual e coletiva de textos, manuscrita e em meio digital, também é útil. Mas existem os currículos e as leituras obrigatórias…
Como conciliar o exigido e o prazeroso? Bem, esse é o desafio do professor. Mas ele não pode nem deve estar estático ou sozinho nesse processo.
A criatividade, a reflexão e a formação continuada sempre devem estar presentes. Afinal, quem ensina não pode ter medo de aprender.
O governo e a sociedade devem estar atentos a esse processo, fundamental para assegurar o desenvolvimento nacional. Isso inclui não apenas a questão das políticas educacionais e a participação ativa dos pais, mas, também, especial atenção com o que os meios de comunicação oferecem.
Não se trata de censurar músicas e programas de baixa qualidade ou gosto duvidoso, mas de oferecer opções culturais em larga escala, para todas as faixas etárias, pois a aprendizagem acontece de forma contínua, não apenas no âmbito acadêmico.
As questões da saúde e da segurança, dentro e fora das escolas, também precisam ser tratadas de forma adequada, pois a “escola da vida” também precisa melhorar!
“Popular” precisa deixar de ser sinônimo de subdesenvolvimento intelectual, que às vezes é estimulado por elites arrogantes e insensíveis, que querem o povo ignorante para reinar! Tampouco pode ser um arreio, que a falta de mobilidade social faz alguns colocarem em si próprios.
Formar analfabetos funcionais não resolve: é preciso que a aprendizagem transforme vidas para melhor!
Dificuldades existem sempre que um caminho é iniciado. É assim para andar, falar, ler, escrever, em suma, para viver!
Assim, pais não devem desistir dos filhos; nem professores, dos alunos ou de si mesmos; nem o país, de seus cidadãos: professores e alunos, que todos sempre seremos!
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário (UNISANTOS e UNISANTA) e Compositor
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