Izaura da Silva Cabrali
publicado em 24/10/2009
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Resumo
Apresentamos uma reflexão sobre a importância de colocar os pequenos, bebês mesmo, em contato com a leitura, com o prazer do contato com as letras. Isso jamais será uma perda de tempo, mas um investimento para a formação de futuros leitores.
Palavras-chave: leitura, primeira-infância, livros.
Abstract
We present a reflection on the importance to place the small, babies same, in contact with the reading, the pleasure of the contact with the letters. This never will be a loss of time, but an investment for the formation of reading futures
Word-keys: reading, books, childrens.
Acredite quem quiser, mas não perdemos tempo ao ler para quem ainda não aprendeu a falar. Não podemos dizer que haja uma idade para começarmos o incentivo à leitura. Mas ela também se torna muito interessante até mesmo de zero a três anos.
Segundo Priolli (2008, p. 10), os pequenos podem até não entender todo o enredo de uma história, porém a leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das linguagens oral e escrita, percebem que a fala coloquial é diferente daquela usada numa leitura, que tem cadência, ritmo e emoção e que também as histórias tem início, meio e fim.
Para alguns teóricos, as crianças que desde muito cedo tem livros ao seu alcance, provavelmente se interessarão pela leitura na vida adulta. Ana Maria Machado (2002, p. 10), fala de suas lembranças em relação à leitura na infância e a relação com momentos afetivos, destaca que essas lembranças infantis ficam muito nítidas e duráveis e isso talvez ocorra porque a memória das crianças ainda está tão disponível e virgem que as impressões deixadas nela ficam marcadas de forma muito profunda, ou talvez por que essas impressões sejam muito carregadas de emoção.
Além disso, segundo a autora citada acima, muitos adultos dão testemunho disso: as experiências positivas de leitura na primeira infância produzem bons leitores adultos. Dessa forma, começar o incentivo à leitura pelos nossos bebês seja um grande passo para a contribuição de futuros adultos leitores.
Para Priolli (2008, p. 13), existem muitos benefícios em colocar os pequenos em contato com os livros. Várias funções psicológicas podem ser desenvolvidas, como por exemplo, a memória e a capacidade de estruturar informações. A leitura em voz alta desperta a sensibilidade para diferentes formas da fala e ainda tem o efeito sobre a chamada atenção seletiva – a capacidade de se desligar de outras fontes de estímulo mantendo-se concentrada em uma só atividade por períodos mais longos.
Além desses benefícios, o mundo do “era uma vez…” traz ao pequeno uma noção de temporalidade, que por vezes nessa idade não é muito perceptível. Sem falar da relação de afeto que envolve a leitura quando é feita, principalmente por familiares, este é um momento de prazer, já que o familiar seja pai, mãe, avós, tios, dispensam aquele tempo especial para o pequeno e ele se sente valorizado, amado, importante. Pois a criança, muitas vezes, não presta tanta atenção no enredo, mas na voz que conta, na sua entonação, nas feições do rosto, nos movimentos de quem fala. Citamos o exemplo do escritor Milton Hatoum, que segundo Gurgel (2008, p. 2), quem mais estimulou a sua imaginação, não foi um livro ou uma biblioteca. Foi a voz de seu avô. O primeiro livro que leu foi um livro escutado. Foi uma narrativa oral. A semente plantada nele, o amor pela literatura, foi trazida pela oralidade, pela voz de seu avô.
Além da leitura oral feita por um adulto, o simples manuseio do livro, seja de papel, de plástico ou de tecido é importante, porque coloca os pequenos em contanto com a linguagem escrita e logo cedo já começam a identificar sinais gráficos.
Durante a primeira infância as crianças passam por transformações que podem ser percebidas diariamente e a sua compreensão também está sempre mudando. E é aí que entram os clássicos universais que por serem atemporais são sempre atuais e são capazes de envolver os pequenos leitores.
Também é importante salientar que os momentos de leitura com pequenos devem ser dinâmicos, com duração variável. Criatividade não pode faltar. Já que se esse momento se torna uma diversão, os livros acabam se transformando tão atraentes quanto os brinquedos e brincadeiras. É sempre bom preparar o ambiente para esse momento tão especial, apagar as luzes, criar um cenário, trazer brinquedos que possam ilustrar a história, etc.
Os livros cumulativos aqueles que trazem muita repetição e que aos poucos vão aparecendo novos elementos funcionam muito bem com os bebês, porque seus enredos se tornam mais fáceis de memorizar. Podemos citar o exemplo do livro Dona Baratinha, recontado por Ana Maria Machado (2004), toda criança pequena fica encantada com essa história. O narrador a todo o momento questiona sempre repetindo os mesmos termos “quem quer casar com Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?”. As informações trazidas pelo narrador que variam são somente os personagens que se candidatam a noivo de Dona Baratinha, animais em sua maioria domésticos ou mais ou menos conhecidos pelas crianças o que as aproxima também da identificação com a história. A resposta da protagonista vai sempre se repetindo após o animal sinalizar através do uso das onomatopéias (miau-miau, au-au-au, bé-é-é) como faz à noite: “Ai, não! É muito barulho não me deixa dormir”. Além de apresentar inúmeras características de uma obra que agrada as crianças, Dona Baratinha é um clássico, e por isso é também tão atual.
Assim quando a relação bebê versus livros se torna prazerosa, divertida, só tende a formar um futuro leitor, pois seres humanos gostam de reviver emoções que lhes dão prazer, como por exemplo, quando comem uma boa comida em um restaurante, certamente voltarão para apreciá-la mais uma vez. Assim também acontece com os livros.
Para finalizar, podemos dizer que livros e fraldas devem combinar sempre, pois para a formação de bons leitores adultos é importante colocar desde cedo os pequenos em contato com a leitura. Dessa forma, eles criam o hábito de escutar histórias, valorizando o livro como fonte de conhecimento e entretenimento. A escuta de histórias oportuniza momentos de prazer em grupos ou em família, enriquece o imaginário, amplia o vocabulário, além de familiarizar a criança com a leitura, uma prática valorizada pela sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GURGEL, Luis Henrique. Não há literatura sem memória. In: Na ponta do lápis. São Paulo: CENPEC, 2008.
MACHADO, Ana Maria. Como e por que ler os clássicos universais desde cedo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
____________. Dona Baratinha. São Paulo: FTD, 2004.
PRIOLLI, Julia. Fraldas e livros. In: Nova Escola. Ed. Especial. n. 18. São Paulo: 2008