tudo, estava ligado, antenado nas notícias. Assim era. Assim foi.
Belo
dia de Sol e lá estava Renato ouvindo coisas absurdas nos canais de
televisão. Meditava. Desconfiava. Ansiava. Tinha em sua vida visto
muitas coisas que não gostaria de ter visto. Nem ouvido…. Pensava que
as vezes tudo não passava de um processo ilusionário, fantasioso.
Tentava abstrair-se, fingir-se de mudo, morto.
Em certas noites
os pernilongos e ruídos dos televisores vizinhos não permitiam chegar a
um sono reanimador. O corpo cansado. A insônia. Tinha sonhos com
atropelamentos, desastres, assassinatos. Pensava estar perdido em becos
escuros e sujos. Suas atitudes já não convenciam ninguém e nem se
convencia com as atitudes alheias. Talvez uma análise, um psicodrama.
Um médico de cabeça. Terapias alternativas, mas o máximo que conseguia
era encher a cara de cerveja no Bar do Mané da esquina.
Pensava
nas cartas que havia enviado a Renata. "Ah! talvez ela já as tenha
jogado fora!" pensava. Sempre imaginou ser a vítima, o culpado: das
catástrofes, dos ciúmes, das mentiras e do fracasso. Nunca acretidou
que o culpado fosse ele.
Preparou certa noite um dossiê com
todos os acontecimentos ocorridos em sua vida conjugal e pensou que
nunca haveria um dia em que pudesse gritar: sou feliz! Uma coisa era
certa: ele estava aflito. Pode ser que com o tempo ele passaria a
encarar tudo com naturalidade, mas hoje isto era impossível. Não
acreditava em mais nenhum gesto que o reparasse.
Ficou sem falar
com Renata durante muito tempo. Não continha a raiva de saber que ela
estava em outro lugar, em festas e bares até altas horas da madrugada.
Ela comprava roupas e mais roupas. Queria estar bela, chamar a atenção.
E Renato, com seus ciúmes, não acreditava que ela queria seus beijos e
abraços. Pensava; "ela deve sonhar com outros personagens que não
eu…". Renata devia estar arrependida da relação e ele não conseguia
acreditar nesta verdade.
Renato, nos seus raros momentos de
lucidez, elaborava reformas em sua casa e em seu comportamento. Mas era
necessário uma revolução. Mas que Revolução? Se tudo já não fazia mais
sentido em sua alma… Eram dias difíceis para Renato que nem conseguia
mais trabalhar direito. Estava péssimo.
Naquele dia Renato não
foi trabalhar e ficou em casa ouvindo e vendo as notícias espetaculares
da Televisão. Viu o adolescente apaixonado invadir a casa de sua
ex-namorada e torná-la refém, prisioneira do seu amor e ódio. Zapeava
em todos os canais para ver a cobertura enquanto sua cabeça elaborava
seu plano. O seu próprio plano de Revolução!
Queria também a sua vingança. A sua sentença. O seu mandamento final.
Munido
com estes pensamentos e crente da sua revolução gloriosa, Renato desceu
as escadas que davam ao andar térreo, abriu a porta da sua casa e saiu
dando direto ao passeio da rua.